terça-feira, 10 de maio de 2011

A saída de Aod Cunha

No início do ano, o economista Aod Cunha, ex-secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul no governo Yeda Crusius, assumiu como executivo remunerado do Inter. O fato foi efusivamente saudado por setores da imprensa esportiva que viam na contratação de Aod, economista de sólida formação e brilhante currículo, o caminho para que o Inter se consolidasse como um clube moderno, altamente profissionalizado, de grande eficiência gerencial. Seria o tão sonhado, para alguns, caminho para o fim do amadorismo e da improvisação administrativa dos grandes clubes. Previa-se um longo e árduo trabalho para Aod Cunha que culminaria, no entanto, num Inter administrado com a eficiência das grandes empresas. Tudo muito bonito, sem dúvida. No papel. Menos de seis meses depois de assumir o cargo, Aod Cunha deixou o Inter. Os mesmos que vibraram com sua contratação, por certo, lamentarão profundamente sua saída, e dirão que ela é a expressão de uma estrutura administrativa amadora e desorganizada, que resiste a evoluir e adotar padrões de eficiência empresarial. Na verdade, a saída de Aod em nada deslustra o Inter, afinal foi o clube que teve a idéia de contratá-lo, exatamente por entender que, com seu trabalho, poderia atingir um novo patamar administrativo. Se, num período tão curto, já optou-se por interromper o projeto, é muito provável que o responsável maior por tal desfecho seja o próprio Aod Cunha. Não é difícil imaginar que o economista, do alto do prestígio profissional de que desfruta e de sua excelente formação acadêmica, não deve ter aceitado qualquer reparo ou resistência de setores do clube às suas idéias e proposições. Dessa forma, em pouco tempo, sentiu-se desestimulado a prosseguir seu trabalho. Aí é que reside o equívoco de Aod e dos defensores entusiasmados de sua contratação. Conhecimentos acadêmicos, por mais sólidos e qualificados que sejam, precisam ser adaptados à realidade prática, ou constituirão mero acúmulo de informações sem aplicabilidade. Não passa de deslumbramento simplório imaginar que o futebol só possa avançar na sua estrutura administrativa com a entrada em cena de profissionais com o perfil de Aod. Foram os tão criticados dirigentes passionais e amadores que construíram a grandeza do futebol gaúcho e brasileiro. Grêmio e Inter não precisaram de nenhum brilhante economista remunerado para conquistarem, conjuntamente, cinco Campeonatos Brasileiros, cinco Copas do Brasil, quatro Taças Libertadores da América, duas Recopas Sul-Americanas e dois Campeonatos Mundiais. Aod Cunha pode ser muito bom no seu ramo de atividade, mas também não esqueçamos que um dos pretensos méritos da área econômica do governo Yeda Crusius, no qual atuou, o chamado "déficit zero", não passou de mera ficção. Ao contrário dos tantos que lamentam o fato, entendo que a sáida de Aod Cunha não trará nenhum prejuízo ao Inter. Como todo economista com o seu perfil, Aod tem muitas idéias que são brilhantes quando expostas num quadro negro ou em um tratado acadêmico, mas de pouca ou nenhuma aplicação fora da sala de aula. O Inter não perde nada com a saída de Aod e, de quebra, ainda deixa de arcar com o pagamento de um salário que, certamente, era bem polpudo.