terça-feira, 6 de agosto de 2013

A liberação da maconha

A Câmara dos Deputados do Uruguai aprovou, na quarta-feira passada, um projeto, proposto pelo governo, que gerou repercussão internacional. Pelo projeto, todo habitante do país com mais de 18 anos terá direito a comprar, na farmácia mais próxima, até 40 gramas de maconha por mês, quantidade que é suficiente para enrolar entre quarenta e oitenta cigarros. Não será necessário sequer receita médica, apenas informar os dados pessoais do comprador. Para quem desejar, será possível plantar até seis arbustos de maconha na própria casa. Estrangeiros não poderão comprar a droga, mas nada impede que a adquiram com uruguaios. Uma medida como essa, inevitavelmente, divide opiniões. Há quem veja nela um avanço, uma atitude realista. Os usuários de maconha são numerosos, no mundo inteiro e, por certo, encaram a decisão com simpatia. Outros consideram o projeto uruguaio uma temeridade e um perigoso precedente. Particularmente, não concordo com a decisão tomada no Uruguai. A maconha, ao contrário do que dizem seus defensores, não é uma droga leve. Ela gera dependência, e seu consumo tem vários efeitos nocivos sobre o organismo. A intenção do governo uruguaio é afastar os usuários de maconha da influência dos narcotraficantes. Dessa forma, eles se afastariam das bocas de fumo onde são vendidas drogas mais pesadas. Porém, segundo dados da ONU, a maconha é uma porta de entrada para outras drogas. Entre os consumidores de cocaína, heroína e crack, 95% começaram fumando maconha. Apenas 24% da população do Uruguai apoia o projeto. A popularidade do presidente José Mujica sofreu uma grande queda depois da aprovação do projeto. Os uruguaios tem razão em rejeitar a ideia. Somente os usuários contumazes, e alguns teóricos bem intencionados mas ingênuos, podem achar que a liberação da maconha tenha algum efeito positivo na resolução desse drama dos tempos modernos que é a disseminação do consumo de drogas. Se com a política de repressão o quadro já é terrível, o que pode se esperar de melhor com a liberação? As drogas são uma chaga social, e seu consumo deve ser combatido, não estimulado. Falsamente libertária, a medida aprovada no Uruguai nada trará de benéfico para o país. Seria bom que Mujica pensasse melhor e voltasse atrás, não sancionando o projeto.