quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Reacionarismo

A divulgação de um vídeo gravado durante uma audiência pública da Câmara dos Deputados, no município de Vicente Dutra (RS), em novembro de 2013, expõe o quanto nossas casas parlamentares ainda são assoladas pela presença de reacionários da pior espécie. No vídeo, o deputado federal Luís Carlos Heinze (PP/RS), ferrenho aliado do setor agrícola, exorta os proprietários de terras a defenderem com unhas e dentes o seu patrimônio da ação de invasores. Em meio ao seu pronunciamento, Heinze diz que quilombolas, gays e lésbicas são "tudo o que não presta". Perguntado a respeito, apelou para o surrado recurso de usar frases como "não foi isso o que eu disse" e "nada tenho contra gays e lésbicas". Seu partido, o PP, fez questão de, imediatamente, frisar que não concorda com as posições de Heinze. A preocupação do PP, por certo, é por estarmos num ano eleitoral, e o partido que tem uma candidata com boas chances de se eleger governadora do Rio Grande do Sul, a senadora Ana Amélia Lemos, não quer desgastar sua imagem pública. Porém, é óbvio que sendo o PP, simplesmente, a Arena, partido de sustentação do regime militar, com outro nome, muitos dos seus integrantes devem partilhar das ideias de Heinze. Na mesma audiência, o deputado federal Alceu Moreira (PMDB/RS) fez coro às exortações de Heinze no que tange a defesa que os donos de terras deveriam fazer de suas propriedades. O partido de Moreira, o PMDB, nada tem a ver com o antigo MDB, bastião da luta contra a ditadura, é apenas um partido apegado a qualquer governo, em busca de cargos. Portanto, não há nada de espantoso nas posturas que defendem. O Brasil já avançou muito, desde que restituiu a democracia, há 29 anos, mas ainda levará um tempo considerável até que consiga livrar-se da corja reacionária que infesta os parlamentos. Heinze e Moreira, contudo, mesmo que pertençam a uma fatia, infelizmente, ainda numerosa da sociedade, não representam o pensamento da maioria dos brasileiros. Suas declarações são o reflexo do desespero de quem sabe que os tempos mudaram, e que odiosos privilégios de setores conservadores da sociedade serão, a cada dia, tornados fatos do passado. Um passado autoritário, excludente, opressor e violento que é próprio dos regimes de exceção, e incompatível com a democracia em que vivemos.