segunda-feira, 4 de março de 2013

Os chiliques de Dunga

Os jogos pelas semifinais do primeiro turno do Campeonato Gaúcho tiveram resultados lógicos. No sábado, o São Luís, jogando em casa, no estádio 19 de outubro, em Ijuí, ganhou do Caxias por 2 x 1, numa desforra pessoal de seu técnico, Paulo Porto, que, em 2012, foi demitido pelo clube caxiense após ser campeão dessa mesma fase do Gauchão. Ontem, no Francisco Stédile, em Caxias do Sul, o Inter venceu o Esportivo, ao natural, com dois golaços de Diego Fórlan. Assim, me eximo de fazer comentários mais amplos sobre o jogo em si, cujo vencedor era previsível. Prefiro me ater ao lamentável comportamento do técnico do Inter, Dunga. Na véspera da partida, ao encontrar-se com o cronista esportivo Adroaldo Guerra Filho, o Guerrinha, do Grupo RBS, no hotel onde o Inter estava hospedado, confidenciou-lhe de que sabia de que a arbitragem iria fazer algo contra ele. Dunga baseou sua denúncia no fato de que teria sido informado de que ocorrera uma reunião de árbitros onde seu nome foi citado, o que lhe fez concluir que estava "marcado" pela arbitragem. Durante o jogo, Dunga como é de seu costume, reclamou veementemente da arbitragem. Depois de um bate-boca prolongado com o 4º árbitro, foi, finalmente, expulso, o que parecia ser, desde o início, a sua intenção. Então, agachou-se e falou diante de um microfone direcional, destes que são colocados à beira do campo para captar o som ambiente, de que tinha certeza de que isto iria acontecer, e proferiu um termo de baixíssimo calão. Na sequência, assediado pelos repórteres, declarou de que havia revelado para Guerrinha o que a arbitragem iria fazer contra ele. O episódio é, sob todos os aspectos, deplorável. Em primeiríssimo lugar, Dunga não tem tido nenhum motivo para reclamar das arbitragens, muito antes pelo contrário. No jogo de ontem, por exemplo, quando a partida ainda se encontrava empatada em 0 x 0, o Inter foi duplamente beneficiado, pois um gol do Esportivo foi injustamente anulado e uma bola atrasada com o pé por Josimar que foi agarrada pelo goleiro Muriel foi ignorada pelo árbitro, que deveria ter marcado tiro livre indireto. Isto sem contar que o árbitro do jogo, Francisco da Silva Neto, é conhecido, nos seus círculos mais íntimos, por "Chico Colorado". No entanto, tais fatos foram ignorados por Dunga, que proporcionou a todos mais um de seus repetidos e despropositados chiliques. O incrível é que a reação da maioria dos profissionais da imprensa esportiva foi a de tentar encontrar alguma justificativa para a atitude de Dunga, ou, então, de considerá-la engraçada. Nem uma coisa nem outra. A situação está eivada de impropriedades.Vamos a elas. Se Dunga foi informado de que houve uma reunião dos árbitros em que estes decidiram persegui-lo, teria, por obrigação, que revelar onde e quando aconteceu tal encontro. Se a tal reunião aconteceu mesmo e alguém, para usar o termo do próprio Dunga, lhe "soprou" sobre o fato, então os árbitros tem um alcaguete entre eles, o que exige uma investigação. Ao dar ciência de tal informação para Guerrinha, Dunga privilegiou um profissional e seu respectivo grupo de comunicação, em detrimento dos demais. Se queria fazer uma denúncia, deveria ter convocado uma entrevista coletiva. Ao proferir, repetidamente, um palavrão, quando sabia que as câmeras e os microfones estavam centrados nele no momento em que discutia com o quarto árbitro, e fazê-lo deliberadamente diante do microfone direcional, Dunga teve um procedimento indigno de quem ocupa a função de técnico de um grande clube. Seu comportamento apenas dá razão aos que sempre o criticaram. Não tenho medo de escrever o que penso, ainda que saiba estar remando contra a maré da imprensa esportiva do Rio Grande do Sul, sempre dócil com o Inter e seus profissionais. Estou entre os que sempre consideraram Dunga um jogador medíocre, travestido de líder pelos que se impressionam com gritos e palavras de ordem. Como técnico, ainda não mostrou nada. Até prova em contrário, é apenas uma invenção no cargo. Como pessoa, mostra-se, tanto quando era jogador como agora, um sujeito de temperamento irascível, tomado por delírios persecutórios que o fazem se ver cercado de inimigos. Se estivéssemos num país sério, o acontecimento de ontem não cairia no vazio, nem seria classificado como engraçado, e a "denúncia" de Dunga seria apurada, com o técnico sendo obrigado a esclarecê-la devidamente. Nada irá acontecer, sabemos todos. Dunga continuará tendo seus ridículos e injustificados ataques de fúria na beira do campo, e contando com a benevolência de repórteres e cronistas esportivos. O revés que lhe espera será de outra ordem. Virá de dentro do campo, quando for testado em jogos de maior exigência. Então, sua incapacitação para o cargo ficará evidente, encerrando sua segunda experiência como técnico.