quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Inveja

Dentre os sentimentos humanos, a inveja é um dos mais rasteiros. Ao desdenhar do sucesso alheio, questionando seu merecimento, o indívíduo expõe o tamanho do seu despeito. Tais conceitos me assaltam ao tomar conhecimento de uma declaração do ex-jogador de futebol moçambicano, naturalizado português, Eusébio. Atacante habilidoso, Eusébio foi o maior destaque de Portugal na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, a primeira de que a seleção daquele país participou, fazendo grande campanha e obtendo o 3º lugar. Porém, se dentro do campo foi um grande jogador, fora dele Eusébio revela-se um homem pequeno. A declaração a que me refiro foi dada por Eusébio em um evento no Rio de Janeiro. O ex-jogador disse que lamentava as atitudes que Pelé tinha em campo contra os zagueiros, e acrescentou que Garrincha "paralítico" foi o maior jogador brasileiro de todos os tempos. Tanto no Brasil, como no exterior, há pessoas que, por inveja, ousam por em dúvida a condição de maior jogador de todos os tempos atribuída a Pelé. Maradona insiste em provocar Pelé e em reivindicar para si a condição de o melhor entre todos. Messi disse que nunca viu os lances de Pelé, mas que isso não lhe faz falta. Leônidas da Silva, um dos grandes jogadores brasileiros da era pré-Pelé, também mostrava mágoa pelo fato do Rei do Futebol ter lhe suplantado em fama e reconhecimento. Leônidas, Eusébio, Maradona e Messi tem em comum a condição de grandes craques, que foram ou são, mas mostram-se, também igualados pela inveja diante de alguém que, sabidamente, foi superior a eles e a qualquer outro jogador. Só a inveja ou a mais absoluta burrice podem fazer com que alguém deixe de reconhecer em Pelé um talento insuperável, sua indiscutível condição de melhor jogador de todos os tempos. No caso de Eusébio, sua declaração, além de despeitada, foi extremamente deselegante, pois foi feita no Brasil, o país de Pelé. Ao agirem dessa forma, Eusébio, Maradona e outros demonstram que seus talentos se resumem ao trato com a bola dentro do campo. Fora dele, melhor seria que permanecessem de boca fechada.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Dez anos sem George Harrison

O tempo, como se sabe, passa muito depressa. Hoje, completam-se dez anos da morte de George Harrison. Para um beatlemaníaco como eu, uma data que não tem como ser esquecida. Lembro que, ao saber da notícia, fiquei profundamente abalado, ainda que tivesse conhecimento da gravidade de seu estado de saúde. George foi um grande guitarrista e inspirado compositor. Seu jeito reservado e um tanto tímido não permitiram que tivesse, como integrante dos Beatles, o espaço correspondente ao seu talento. George tinha imensa dificuldade para conseguir que o grupo gravasse composições de sua autoria. Ainda assim, mesmo tendo apenas 22 composições suas gravadas pelos Beatles, George foi responsável por alguns clássicos do grupo, como "Something", "While My Guitar Gently Weeps" e "Here Comes the Sun". Estreou em sua carreira solo com um disco antológico, o álbum triplo "All Things Must Pass", de 1970, considerado um dos 50 melhores de todos os tempos. Após outro disco exitoso, " Living in the Material World", de 1973, sua carreira discográfica teve altos e baixos, até que, em 1987, fez outro lançamento excelente, "Cloud Nine". A partir daí, não mais lançou álbuns de músicas inéditas, mas, nos anos 90, criou, junto com Bob Dylan, Roy Orbison, Jeff Lyne e Tom Petty, o supergrupo "The Traveling Wilburys", que lançou dois discos, o segundo deles já sem Orbison, que falecera. Em 1991, depois de 17 anos afastado dos palcos, realizou um show no Japão, acompanhado por Eric Clapton e banda, que foi registrado num álbum duplo. O set list do show fez um apanhado de toda a trajetória de George, desde os tempos dos Beatles até a carreira solo. A partir de meados dos anos 90, George foi se retirando dos holofotes, pouco a pouco, pois começou a lutar contra o cãncer que o vitimaria em 2001, causando sua morte com apenas 58 anos. George é daquelas pessoas cuja obra as mantém sempre vivas. Deixou uma legião de fãs, que não o esquecerão.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Punição justa

O zagueiro Bolívar, do Inter, recebeu, hoje, do STJD, uma punição inédita no Brasil. Afora ser suspenso por quatro jogos, Bolívar deverá permanecer sem jogar pelo tempo equivalente ao que o lateral Dodô, do Bahia, ficará afastado do futebol, isto é, cerca de seis meses. Para quem não sabe exatamente do que se trata, cabe esclarecer que Bolívar, num recente jogo Inter x Bahia, no Beira-Rio, entrou de maneira desleal sobre Dodô, causando-lhe séria lesão, que o obrigou a fazer uma cirurgia e a ficar sem jogar por longo período. O lance, ocorrido dentro da área, deveria resultar na marcação de pênalti e na expulsão de Bolívar, mas, incrivelmente, o árbitro do jogo, Paulo César de Oliveira (SP), não fez nem uma coisa nem outra, limitando-se a dar um cartão amarelo para o zagueiro. Como Paulo César deverá ser o indicado do Brasil para apitar na Copa do Mundo de 2014, pode-se ter uma idéia do nível atual da arbitragem brasileira. Nada que possa espantar diante do fato de que Carlos Simon, cuja carreira foi pontilhada de erros grotescos e estapafúrdios, foi o árbitro brasileiro indicado para as três últimas Copas do Mundo. Devido ao absurdo praticado por Paulo César, o STJD resolveu fazer a sua parte. Muitos não aceitam que o tribunal puna jogadores que não tenham sido expulsos, passando por cima da soberania do árbitro do jogo. Trata-se de um argumento respeitável, mas, diante da barbaridade cometida por Paulo César de Oliveira, o tribunal tratou de agir em consonância com o clamor público, dada a indignação que o ato praticado por Bolívar gerou. O Inter irá recorrer da decisão e poderá se valer até de um efeito suspensivo. Porém, a punição, inédita no Brasil mas já aplicada em outros países, merece ser saudada. Bolívar, a exemplo de seu companheiro de time, o volante Guinãzu, é um jogador que abusa das faltas e, muitas vezes, é desleal. Até hoje, ambos tem contado com uma incrível complacência por parte dos árbitros. Os auditores resolveram agir, aplicando as medidas punitivas devidas. O caso em questão deverá, provavelmente, balizar futuras decisões em situações análogas. O futebol só tem a ganhar com isso.

domingo, 27 de novembro de 2011

Gre-Nal desigual

O Gre-Nal que será realizado no próximo domingo, no Beira-Rio, pela última rodada do Campeonato Brasileiro, se apresenta muito desigual. Enquanto o Inter, mesmo tendo sido derrotado pelo Flamengo, por 1 x 0, hoje, em Macaé (RJ), ainda se mostra um time mobilizado e em busca de um objetivo, o Grêmio, mais uma vez, teve uma atuação lamentável, e não passou de um empate em 2 x 2 com o Atlético Goianiense, no Olímpico. As entrevistas após o jogo, no vestiário do Grêmio, nada acrescentaram. Repetiram-se as constatações, e, também, as desculpas e promessas de um 2012 com melhores resultados. Não bastasse todo o sofrimento que já impingiu ao seu torcedor em 2011, o Grêmio ainda poderá ser um dos responsáveis pela classificação do Inter para a Libertadores, caso perca o Gre-Nal e Flamengo ou Coritiba não vençam seus jogos. O Inter é amplo favorito para o Gre-Nal. Vai jogar em casa, com o estádio quase inteiro a seu favor, diante de um adversário que tem se mostrado displicente, não ganha há cinco jogos e fez apenas um ponto nos últimos nove que disputou. O Inter, mesmo perdendo para o Flamengo, teve bom volume de jogo e desperdiçou várias chances de gol. Se o torcedor do Grêmio quiser ver o Inter fora da Libertadores, convém torcer para Flamengo e Coritiba ganharem seus jogos, situação que o tiraria da competição mesmo com a vitória no Gre-Nal. Se é verdade que num clássico tudo pode acontecer, por outro lado, não há qualquer razão para apontar a viabilidade de uma vitória do Grêmio. Tão díspar é a condição anímica e técnica dos dois times, que até uma goleada do Inter não é uma hipótese que possa ser afastada. A tortura a que o torcedor do Grêmio vem sendo submetido nesse ano ainda não chegou ao fim. Resta uma última etapa, que, talvez, seja a mais dolorosa.

sábado, 26 de novembro de 2011

Desastre na área ambiental

O governo da presidente Dilma Roussef, que é uma continuidade, nos aspectos ideológicos e programáticos, da administração do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, tem mantido o desempenho exitoso na área econômica, mas vem se revelando um desastre no que concerne ao meio ambiente. Não bastassem a insistência na construção da usina de Belo Monte, que irá gerar uma devastação ambiental, e o novo Código Florestal, que abre caminho para novos desmatamentos, o Brasil se depara, agora, com o vazamento de petróleo num dos postos de perfuração da Chevron na Bacia de Campos, que já atinge níveis alarmantes. Percebe-se, tanto no governo de Lula quanto no de Dilma, um evidente descaso com as questões ambientais. Lula, por sua origem humilde, tende a achar que preservação ambiental é coisa de "burguês" e que em nome do desenvolvimento do país é aceitável que se dizimem florestas e se polua o oceano. Bem mais instruída e culta que Lula, Dilma é, no entanto, uma tecnocrata, afeita aos gabinetes e não aos clamores das ruas, e pessoas assim tendem a ver as coisas de maneira pragmática, buscando atingir determinados fins, sem se importar com os custos ambientais em que isso implique. Agindo dessa forma, o governo se mostra na contramão de uma preocupação com a preservação ambiental que, hoje, percorre o mundo inteiro, Nada mais anacrônico do que a busca do progresso a qualquer preço, sacrificando a integridade do ar que respiramos, da água que bebemos, da vida nos oceanos e nas florestas. Essas ideias existiam ao tempo da ditadura militar e, como qualquer outra coisa daquela época, deveriam ser arquivadas. Os êxitos dos governos Lula e Dilma na economia, com mais empregos e expansão da classe média, são inegáveis, mas não minimizam os erros cometidos na questão ambiental. Dilma ainda está no início de seu governo e tem tempo para mudar essa postura. Afinal, um governante tem de ter em mente que suas decisões não podem estar voltadas apenas para os interesses do presente, mas, também, para os efeitos que poderão se abater sobre as gerações futuras. Ter a capacidade de perceber isso é que faz a diferença entre um simples governante e um estadista, que inscreve seu nome na história.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A imagem do governo

Será que o fato de a economia brasileira ainda se apresentar sólida, sem sofrer maiores reflexos da crise internacional, tem o efeito de blindar o governo de qualquer apreciação negativa? Será que eleitores e investidores são indiferentes a onda de corrupção que parece se espalhar por todos os cantos da administração federal? São perguntas cabíveis diante da sucessão de malfeitos e demissões de ministros que tem marcado o governo da presidente Dilma Roussef. Não passa semana sem que novas denúncias venham á tona por parte da imprensa, derrubando ministros como num castelo de cartas. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, por enquanto, segue no cargo, mas sua saída é questão de tempo. O mais novo alvo de denúncias é o ministro das Cidades, Mário Negromonte, cuja pasta estaria envolvida numa fraude que adulterou um projeto de infraestrutura da Copa do Mundo de 2014 em Cuiabá. O que chama a atenção em todos esses episódios, é que a má conduta não é privilégio dessa ou daquela corrente política. Abrange desde partidos de esquerda, como o PC do B, do ex-ministro do Esporte Orlando Silva, até siglas de direita, como o PP, de Mário Negromonte, nome novo da antiga Arena dos tempos da ditadura militar. Em meio aos dois extremos, o PR do ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, o PMDB do ex-ministro da Agricultura, Waldir Rossi, e o PDT de Carlos Lupi. Ninguém escapa. Todos chafurdam no mar de denúncias e escãndalos. O motivo de tudo isso já foi exaustivamente abordado nesse espaço. Trata-se do método de "governabilidade" que loteia os cargos da administração entre os partidos aliados. Fala-se que, em janeiro, Dilma procederá uma ampla reforma ministerial, inclusive extinguindo algumas pastas. A medida é necessária, sem dúvida, mas não bastará mudar nomes, é preciso alterar métodos. Por mais que a popularidade de Dilma Roussef siga em alta, ela não ficará permanentemente incólume diante de tantos fatos negativos envolvendo seus comandados. Os números positivos da economia também não se constituirão num escudo intransponível para o governo. Uma administração não pode calcar-se apenas na figura do chefe. Mais que reformar seu ministério, Dilma terá que dar uma nova conformação ao governo, substituindo as nomeações de conveniência política pelas de comprovada capacidade técnica. Se não for assim, a tão propalada reforma ministerial não passará de uma maquiagem, que não disfarçará a má imagem do governo.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Bolsonaro ataca outra vez

Depois de meses relegado ao ostracismo de que é merecedor, eis que o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) voltou às manchetes. Em pronunciamento na tribuna da Câmara dos Deputados, Bolsonaro chamou a presidente Dilma Roussef de mentirosa e fez insinuações sobre suas preferências sexuais. Bolsonaro acusou Dilma de ter mentido quanto à suspensão do "kit gay" para alunos do primeiro grau, pois haveria uma orientação para que os livros didáticos abordem obrigatoriamente a temática GLBT. O deputado alegou seu direito de expressão e inviolabilidade como parlamentar para poder dizer o que bem entende. Seu discurso, mais uma vez, foi carregado de ódio e preconceito. Porém, dessa vez, Bolsonaro foi mais longe, pois faltou com o decoro pela forma com que se referiu à presidente, maior autoridade do país. Até quando, em nome da liberdade de expressão e das prerrogativas parlamentares, iremos suportar suas manifestações de intolerãncia, racismo e homofobia? Bolsonaro é ardoroso defensor do regime militar que torturava e matava opositores e cassava mandatos parlamentares. Se estivesse ao seu alcance, certamente reeditaria tais práticas. Portanto, não há porque ter pruridos em relação à Bolsonaro, em função de ter sido legitimamente eleito pelo voto e gozar das já referidas prerrogativas do cargo. Bolsonaro faltou com o decoro parlamentar, e isso não pode passar em branco. Por tudo o que o deputado já disse, deveria sofrer um processo de cassação. Bolsonaro foi eleito legitimamente, mas sua postura, no entanto, é incompatível com a democracia. Ao desrespeitar a presidente, ultrapassou todos os limites. Para o bem do país e preservação do parlamento, Bolsonaro devia ter seu mandato cassado.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A chegada do gladiador

Finalmente, depois de praticamente um mês de tratativas, o Grêmio apresentou o atacante Kléber como o seu mais novo reforço. Kléber é um bom jogador, sem dúvida, e vem para sanar a principal deficiência do Grêmio após as saídas de Jonas e Borges, ou seja, a falta de bons atacantes. Porém, vários aspectos que envolvem essa contratação são preocupantes. Kléber, a despeito de sua qualidade técnica, é um jogador temperamental, dentro e fora de campo. Por seu comportamento durante as partidas, coleciona expulsões. Não é à toa que é conhecido como "gladiador". Esse, por sinal, é outro dado questionável na vinda do jogador para o Grêmio. O clube pretende explorar o conceito de "gladiador" atribuído a Kléber para associá-lo com o novo estádio que está construindo, que denomina de "arena". Além da óbvia associação dos dois termos, tais conceituações se encaixam na ideia permanentemente propagada pelo presidente do clube, Paulo Odone, de que o Grêmio é um clube "guerreiro", e de "raça". Tão enraizada está ficando essa ideia, que até mesmo uma peça publicitária dirigida aos torcedores da dupla Gre-Nal, veiculada nos jornais de Porto Alegre nessa semana, fala na expectativa de jogadas bonitas por parte dos colorados, e de raça do lado dos gremistas. O jogador do Inter cuja foto aparece na peça publicitária é D'Alessandro, maior expressão técnica do time. Já o jogador do Grêmio escolhido para o anúncio é Fábio Rockembach, um volante marcador. Ora, um clube da grandeza do Grêmio, que teve, ao longo de sua história, jogadores de altíssimo nível técnico como Gessy Lima, Aírton, Renato e Ronaldinho, não pode ser reduzido a uma imagem de raça e combatividade. O futebol exige muito mais do que apenas esforço e aplicação. Exige talento. Outro reparo a se fazer quanto à vinda de Kléber é no que diz respeito ao seu salário. Ainda que o clube não vá arcar inteiramente com o valor que será pago ao jogador, R$ 500 mil reais por mês parece ser um exagero para quem não tem em seu currículo passagens pela Seleção Brasileira. O tempo de duração de seu contrato, cinco anos, também é demasiado para um  jogador que já está com 28 anos. Mesmo com todos esses senões, a contratação de Kléber merece ser saudada, por sinalizar uma política de pensar grande no futebol que o Grêmio tinha abandonado nos últimos anos. No entanto, é preciso que o Grêmio tenha consciência de que para voltar a conquistar grandes títulos é preciso muito mais do que Kléber. O trabalho de construção de um grande time para 2012, que é a intenção declarada dos dirigentes do Grêmio, exigirá outras contratações de qualidade. Por enquanto, cabe desejar que Kléber retribua em campo o tempo e o esforço empregados pelo Grêmio para concretizar a sua contratação.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Os descalabros do futebol

Não são poucas as pessoas que se espantam e, por vezes, se revoltam, com as cifras do futebol. Jogadores adquridos por quantias milionárias, ganhando altíssimos salários, numa realidade que contrasta fortemente com a do cidadão comum. Pessoas que acordam cedo e trabalham duro para ganhar um parco salário, são informadas, de modo quase ininterrupto, das fortunas que são pagas para jogadores nem tão bons assim e, o que é pior, muitas vezes indolentes. Essa maneira desatinada com o que o futebol é comandado, não dá mostras de refluir, pelo contrário. O Grêmio acaba de contratar um jogador, Kléber, que, anuncia-se, irá ganhar R$ 500 mil por mês. Ainda que se saiba que o dinheiro não sairá inteiramente dos cofres do clube, é um despropósito. Nessa mesma linha de prodigalidade, o vice-presidente de futebol do Inter, Luís Anápio Gomes, entusiasmado com a vitória sobre o Botafogo, que aumentou as chances do clube de se classificar para a Libertadores, revelou para os jogadores, logo após a partida, que iria lhes pagar um "bicho", isto é, o prêmio por vitória, 100% maior que o valor costumeiro. A medida será repetida nos dois últimos jogos do Campeonato Brasileiro, contra Flamengo e Grêmio. Ora, o Inter possui um grupo de jogadores tido como de muito boa qualidade, cuja folha de pagamento é, conforme se diz, de R$ 7 milhões. Considerado um dos favoritos para a conquista do título do Brasileirão, faz uma campanha muito abaixo da expectativa. O "bicho" que é normalmente pago, por certo, não é nada desprezível. Sendo assim, porque aumentá-lo ainda mais para um time cuja resposta em campo, ao longo da competição, esteve longe de ser satisfatória? Já é algo muito discutível que se paguem prêmios por vitória para os jogadores. Afinal, eles tem um contrato com o clube, pelo qual recebem salários bastante altos, estando implícito que busquem alcançar vitórias. Esse incentivo extra para a produtividade não se vê em quase nenhuma outra profissão. Pois agora, na reta final da competição, o Inter aumenta significativamente o valor do prêmio como forma de estímulo a quem já teria, ao natural, de empenhar-se, e que, ao longo de toda uma campanha, fez muito menos do que se esperava. O futebol, cada vez mais, torna-se uma ilha da fantasia, totalmente apartado da realidade, e uma fonte de péssimos exemplos na ética das relações do trabalho.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Plebiscito

Um plebiscito, a ser realizado em dezembro, fará com que os eleitores do Pará, decidam se são favoráveis, ou não, à divisão do território paraense para a criação de mais dois estados, Carajás e Tapajós. O instrumento do plebiscito é, sem dúvida, bastante democrático, porém, o assunto em questão sequer deveria ser objeto de consulta. No Brasil, não se passa muito tempo sem que alguém venha a propor a criação de novos estados, argumentando que a vastidão do território brasileiro ensejaria uma nova divisão geográfica que facilitaria a administração, impulsionando o desenvolvimento. A mesma justificativa levou, há alguns anos, a uma febre de emancipação de distritos, fazendo surgir novos municípios. O Rio Grande do Sul, por exemplo, que, há pouco mais de vinte anos, tinha 232 municípios, hoje tem 496! Em termos de novos estados, tivemos, no mesmo período, a divisão do Mato Grosso em dois, e a criação de Tocantins, surgido de parte do território de Goiás. Por trás das aparentes boas intenções estão os interesses políiticos de sempre. Cada novo município ou estado que surge implica na criação de toda uma estrutura político-administrativa, com inúmeros cargos e, consequentemente, muitos gastos. No caso dos municípios, há que se ter, no mínimo, prefeito, secretários e vereadores. No caso de novos estados, governador, secretários, deputados estaduais, deputados federais, senadores, tribunal de justiça.. São novos cargos, que geram, em torno deles, centenas de outros, numa verdadeira farra sustentada pelo dinheiro do contribuinte. Torço para que o eleitor paraense diga não à divisão do seu estado. Não vejo nenhum benefício na criação dos dois novos estados propostos. A simples divisão do território paraense em outros estados não garantirá um maior desenvolvimento para tais áreas. O ganho imediato será dos políticos ávidos por cargos e de todos os que gravitam em torno deles. O Brasil pode encontrar formas bem melhores de impulsionar o desenvolvimento de suas diversas regiões sem ter de redesenhar sua configuração geográfica. Não precisamos de novos estados, mas, sim, de administrar corretamente os já existentes.

domingo, 20 de novembro de 2011

Chances aumentadas

A vitória do Inter por 2 x 1 sobre o Botafogo, hoje à tarde, no Engenhão, aumentou consideravelmente a possibilidade de classificação do clube para a Libertadores. Pela segunda vez em todo o Campeonato Brasileiro, o Inter ingressou na zona de classificação para a principal competição sul-americana. Antes, só havia conseguido isso na 8ª rodada. O jogo foi bem menos difícil do que se poderia esperar. O Botafogo, comprovando ter entrado num período descendente, não ofereceu maiores resistências, e só reagiu quando já perdia por 2 x 0. O clube carioca perdeu o seu quarto jogo consecutivo, e ficou praticamente sem chances de classificação para a Libertadores. Os resultados paralelos também ajudaram o Inter. O Flamengo não saiu de um empate em 0 x 0 com o Atlético Goianiense, no Serra Dourada. O resultado obriga o Flamengo a vencer o Inter no próximo domingo, em Macaé, se quiser voltar ao grupo dos cinco primeiros colocados. A goleada de 4 x 0 do Fluminense sobre o Figueirense, no Orlando Scarpelli, também foi benéfica para o Inter que, assim, ultrapassou na tabela, pelos critérios, o clube catarinense. O que antes parecia quase impossível para o Inter, um lugar entre os cinco primeiros da competição, já foi, momentaneamente, alcançado. Faltam, ainda, dois jogos para confirmar essa condição. Enquanto o Inter vem em crescimento, seus dois próximos adversários estão em baixa. O Flamengo vem caindo de produção a cada jogo, e o Grêmio, como foi visto contra o Ceará, transformou-se numa ruína tanto técnica quanto animicamente. O Inter está com a faca e o queijo na mão para atingir seu objetivo.

sábado, 19 de novembro de 2011

Exibição deprimente

Nem o torcedor mais pessimista poderia prever o que aconteceu hoje á tarde no Olímpico. O Grêmio perdeu para o Ceará, por 3 x 1, e, mais do que ser derrotado, teve uma atuação rídícula. Não houve um único jogador do Grêmio que tenha atuado bem. Até jogadores que normalmente se destacam, como Mário Fernandes e Júlio César, tiveram atuações frias e apáticas. Douglas parece, a cada partida, mais desligado. André Lima foi a nulidade de sempre. O time, como um todo, jogou sem vibração, aceitando sem reação a derrota para um Ceará que está na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro, perdeu suas duas últimas partidas em casa e estava desfalcado de sete titulares. O sofrimento da torcida do Grêmio parece não ter fim. O último título de expressão que comemorou foi o da Copa do Brasil de 2001. De lá para cá, apenas três Campeonatos Gauchos, contra sete de seu maior rival, o Inter que, no péríodo, ganhou, também, duas Recopas Sul-Americanas, duas Libertadores da América e um Mundial de Clubes. O final do jogo, com o time inteiramente batido em campo, a torcida gritando olé quando o Ceará estava com a bola e cantando "adeus Roth, adeus Roth", demonstram bem o que foi a exibição depriimente do Grêmio. Muito pouco resta para ser preservado. O Grêmio terá de fazer muito para que 2012 seja  um ano melhor. Será preciso mudar, pelo menos, meio time, agregando jogadores de grande qualidade. Um técnico de inegável capacidade também é indispensável. O ano de 2012 será o da inauguração do novo estádio do Grêmio. Não é possível que o clube vá viver esse momento com um time deficiente. Os dirigentes já declararam que pretendem montar um grande time para o ano que vem. Está na hora de passar do discurso para a prática. A paciência do torcedor do Grêmio chegou ao limite.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A construção da usina

A construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, na região Amazônica, tem tudo para se transformar numa grande dor de cabeça para o governo federal. A obra, necessária, segundo o governo, para evitar "apagões" energéticos no país, resultará num desastre ambiental. Uma enorme área de floresta será inundada, devastando a fauna e a flora locais. Populações índigenas serão desalojadas de seu habitat. Um imenso prejuízo ecológico em nome de uma pretensa necessidade estrutural do país. Outras usinas, aliás, estão sendo projetadas pelo governo, para garantir o fornecimento de energia, o que causará danos semelhantes. Diante da perspectiva de tão grave agressão ao meio ambiente, setores da sociedade já se mobilizaram. Uma campanha para angariar assinaturas contra a construção da usina de Belo Monte já está nas redes sociais, com depoimentos de artistas da Rede Globo. A campanha também deverá contar com a adesão de astros internacionais do porte de Leonardo Di Caprio. Uma forma legítima e pacífica de pressão para que o governo brasileiro reveja a sua intenção de construir essa e outras usinas, evitando o seu rastro de prejuízos ambientais. Como é dito em alguns dos depoimentos da campanha, há outras formas de geração de energia, não danosas ao meio ambiente, que podem ser adotadas pelo governo. Ao que se sabe, a presidente Dilma Roussef permanece firme na intenção de levar adiante a construção da usina. Dilma deveria repensar sua posição. O Brasil ficará com sua imagem muito desgastada, no mundo todo, caso insista em erguer a obra. Não convém ao governo apostar que essa é uma questão de grupos organizados ou privilegiados da sociedade e de que o "povão" está alheio a tais manifestações. A popularidade de Dilma, bastante alta, a exemplo de seu antecessor no cargo, não deve ser vista como um escudo intransponível. Não é. Voltar atrás em uma decisão, quando se fizer necessário, também é uma demonstração de sabedoria de um governante. Se precisar de um estímulo para rever sua posição, Dilma deveria ouvir o depoimento do ator Ary Fontouta para a campanha. Dirigindo-se a Dilma, Ary Fontoura diz: "Presidente, pense no país em que seu neto vai crescer". Considero ser desnecessário fazer qualquer acréscimo.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Injustiça social

Apesar do crescimento da economia nos últimos anos, da ascensão da classe C para um novo patamar de consumo, e da maior geração de empregos, o Brasil continua um país brutalmente injusto. A comprovação desse fato veio com a divulgação pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de que, em 2010, metade da população brasileira passou o ano recebendo menos que um salário mínimo! Sim, quase 100 milhões de pessoas tiveram como renda um valor de até R$ 375,00, para uma média nacional de R$ 668,00. Outro dado estarrecedor divulgado pelo IBGE é o de que os 10% da população que ganham mais no Brasil amealharam, em 2010, 44,5% do montante de rendimentos do país. Já os 10% de menor renda ficaram, no mesmo período, com apenas 1,1%. Depois de se tomar conhecimento de números como esses, é de se perguntar como alguém pode ser contra os programas sociais do governo federal. O Brasil é um país desumanamente desigual. Milhões de brasileiros ainda vivem em condições precaríssimas, sem saneamento básico, sem acesso à saúde e educação, sem um mínímo de dignidade. O grande desafio do país é, há muito tempo, e cada vez mais, resgatar essa imensa parcela de sua população de uma situação tão aviltante, e integrá-la ao grupo dos que tem acesso ao ensino, ao trabalho, à assistência médica, ao mercado de consumo. Enquanto essa chaga social não for curada, será de pouca serventia exibir números vigorosos da economia brasileira. Os benefícios de uma economia sólida e próspera tem de ser melhor repartidos. Não é possível que um país de quase 200 milhões de habitantes deixe metade de sua população na condição de exclusão social. Em termos de distribuição de renda, o Brasil é um dos países mais injustos do mundo. Isso não pode persisitir indefinidamente. Afinal, como já dizia Tancredo Neves: "Enquanto houver, nesse país, um só cidadão sem casa, sem comida e sem escola, toda a prosperidade será falsa".

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Esperança renovada

A vitória do Inter sobre o Bahia, por 1 x 0, hoje á noite, no Beira-Rio, renovou a esperança do clube de ainda obter a classificação para a Libertadores. O Inter subiu do 10º para o 7º lugar na tabela e está distante apenas um ponto da zona de classificação para a Libertadores, beneficiado que foi pelas derrotas de Botafogo e São Paulo. Se o resultado do jogo foi bom, a atuação do Inter não agradou nem um pouco. Apesar de marcar seu gol cedo, aos 8 minutos do primeiro tempo, o Inter não teve uma vitória fácil, e seu mau futebol foi reconhecido até pelo seu técnico, Dorival Júnior. O técnico do Bahia, Joel Santana, disse que se surpreendeu pelo fato do Inter não ter pressionado o seu time de uma maneira mais contundente. A verdade é que não há razão para muito otimismo por parte do Inter, mesmo que os jogos de hoje lhe tenham sido favoráveis. O Inter ganhou uma partida que todos esperavam que vencesse, mas o fez pelo placar mínimo e jogando mal. O problema são os jogos que lhe restam, os quais é obrigado a ganhar. O Inter enfrentará Botafogo e Flamengo fora de casa e o Grêmio no Beira-Rio. Botafogo e Flamengo são seus adversários diretos na busca da classificação para a Libertadores, e o Grêmio é o seu maior rival. A classificação do Inter para a Libertadores ainda é possível, mas continua improvável.

A derrota pelo apito

O jogo Fluminense 5 x 4 Grêmio, hoje à noite, no Engenhão, foi, sem dúvida, inusitado. A começar pelo placar, mais comum em jogos de futebol de salão. Numa partida em que o Grêmio estava descompromissado e o Fluminense buscava manter a esperança de ganhar o Campeonato Brasileiro, os dois times jogaram soltos, com as defesas vazando constantemente e os goleiros acumulando falhas. A figura mais saliente do jogo, no entanto, foi o árbitro Francisco Carlos Nascimento, de Alagoas, que teve uma atuação vergonhosa e decretou a vitória do Fluminense. Não procede a ideia, defendida por alguns, de que Nascimento errou para os dois lados. Não é verdade. Ainda que a falta marcada sobre Lúcio, que originou o gol de Marquinhos, não tenha acontecido, o Grêmio foi o grande prejudicado pelo árbitro. Foram três erros gravíssimos, que resultaram em gols do Fluminense. Fred estava escandalosamente impedido no gol que empatou o jogo em 2 x 2. O pênalti que originou o quarto gol do Fluminense não existiu. No lance do quinto gol, antes da conclusão de Fred, houve falta de Leandro Euzébio sobre Brandão, que o árbitro não marcou tendo, ainda, expulsado o jogador do Grêmio após sua justa reclamação. Afora isso, o Grêmio ainda deixou de ter um pênalti marcado a seu favor, num lance em que um jogador do Fluminense desvia a bola com a mão dentro da grande área. Era para ser um jogo de final agradável para o torcedor do Grêmio, depois do time conseguir virar o placar para 4 x 3 já próximo do final da partida. No entanto, Francisco Carlos Nascimento entrou em ação, manipulando o resultado e entregando a vitória para o Fluminense. A reação dos jogadores do Grêmio após o quinto gol, de querer abandonar o campo, foi extremada, mas compreensível. Dessa vez, o Grêmio não perdeu em função de suas falhas. Foi derrotado pelo apito.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A guerra não é uma solução

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, após participar da cúpula da Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico, não descartou a possibilidade de uma ação militar contra o Irã, devido ao programa nuclear que está sendo desenvolvido por aquele país. Obama disse que acredita na possibilidade de os Estados Unidos trabalharem com a China e a Rússia para tentar estabelecer maiores sanções antes de partir para um ataque, mas que os três governos concordaram com a necessidade de garantir que o Irã não se torne uma potência nuclear. A afirmação de Obama foi feita ao ser indagado sobre se a ação militar deve ser considerada em algum momento, como já foi sugerido por alguns presidenciáveis republicanos. Obama declarou que prefere continuar a negociar uma solução, mas que nenhuma opção ficou fora da mesa. O presidente americano disse, ainda, que o mundo está unido contra um Irã isolado. A posição de Obama gerou divergências entre diplomatas europeus. Em reunião de ministros das Relações Exteriores da União Européia, realizada em Bruxelas, representantes da Grã-Bretanha e da Alemanha tiveram posições diferentes sobre o assunto. O ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, William Hague, declarou que não considera a opção de uma ação militar contra o Irã no momento, mas que a hipótese poderá ser cogitada no futuro. Já o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, afirmou que seu país se recusa a falar sobre o assunto, embora o diplomata entenda ser inevitável a aplicação de sanções mais severas caso o Irã se recuse a cooperar com a Agência Internacional de Energia Atômica, que acusa o governo iraniano de tentar produzir armas nucleares. Como se pode perceber, os motivos alegados para as ações militares variam, mas os Estados Unidos continuam a praticar o intervencionismo, sempre que julgarem necessário. Os americanos entendem que lhes cabe o papel de "xerifes" do mundo, e assim tem agido, invadindo e atacando países, sempre alegando motivos nobres para fazê-lo. Outros países já desenvolveram programas atômicos, sem que isso implicasse numa intervençao militar. A reação extremada contra o Irã, ecoada pela imprensa ocidental, resulta da posição hostil de seu governo, comandado pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad, contra os Estados Unidos e Israel. Não se trata de desdenhar das consequências do desenvolvimento de uma bomba atômica pelo Irã, mas há de se encontrar outros meios de enfrentar a situação, sem partir para uma ação militar com seu rastro de destruição e morte de civis inocentes. Esse é um filme já visto, e que não merece ser repetido.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Desempenho pífio

No seu último jogo em 2011, a Seleção Brasileira venceu hoje o Egito, em Doha, no Catar, por 2 x 0. Foi mais um dos amistosos inexpressivos que não trazem qualquer proveito na preparação para a Copa do Mundo de 2014. Como já havia ocorrido contra o Gabão, na quinta-feira, a equipe que o técnico Mano Menezes escalou para o jogo está longe de representar o que tem de melhor o futebol brasileiro. Ainda que se entenda que Mano Menezes esteja em uma fase de prospecção de jogadores para formar o seu conjunto ideal, a convocação de nomes como Fernandinho e William, por exemplo, não se justifica. Os dois últimos amistosos da Seleção Brasileira só serviram para a CBF obter boas cotas e aumentar o cartel de vitórias com o atual técnico, que andava muito esquálido. Faltando dois anos e oito meses para o início da Copa de 2014, a Seleção não tem o esboço de uma base de equipe, não consegue se impor diante de adversários mais categorizados, mostra um futebol sem qualidade nem vibração, e não mobiliza o torcedor brasileiro. A sensação que se tem é a de que Mano Menezes, em um ano e três meses no cargo, pouco contribuiu para que se possa ter uma Seleção forte em 2014, à altura da responsabilidade da equipe que vai representar o país que sediará a competição. Foi um ano em que a Seleção não empolgou em momento algum, e chegou a ser motivo de vergonha para o seu torcedor ao ser eliminada prematuramente da Copa América, contra o Paraguai, desperdiçando quatro cobranças de tiros livres da marca do pênalti, de forma consecutiva. Até agora, vive-se um anticlímax, no Brasil, em relação à Copa de 2014. Em vez de uma população entusiasmada e em contagem regressiva para a competição, confiante em sua Seleção, o que temos são reclamações quanto aos preparativos para a Copa, gasto excessivo de dinheiro público, deficiências de infraestrutura, estádios que virarão "elefantes brancos" depois da disputa, entre outros itens. Tomara que, em 2012, pelo menos o desempenho da Seleção, que tem sido pífio sob o comando de Mano Menezes, possa ter uma melhora substancial, capaz de dar confiança ao torcedor para fazer da Copa de 2014 uma grande festa e não uma enorme frustração.

domingo, 13 de novembro de 2011

Cumprindo tabela

Com a derrota por 1 x 0 para o Cruzeiro, hoje à noite, em Sete Lagoas (MG), o Inter passa a ostentar uma condição que seu maior rival, o Grêmio, já exibia há algumas rodadas, isto é, a de simples "turista" no Campeonato Brasileiro. A matemática ainda apresenta possibilidades, mas só alguém dominado pelo fanatismo pode imaginar que o Inter seja capaz de obter a classificação para a Taça Libertadores da América, último objetivo que lhe restava após ficar alijado da possibilidade de ser campeão. Grêmio e Inter repetiram nesse domingo, contra Palmeiras e Cruzeiro, respectivamente, as mesmas falhas e defeitos costumeiros, colhendo novamente, por consequência, maus resultados. O Grêmio, mais uma vez, foi um time mal escalado por seu técnico, Celso Roth. Começar um jogo em casa, contra um time fraco e em crise, com três volantes de contenção, é um disparate. A preterição de Saimon, um zagueiro jovem e em grande fase, pelo improvisado Gilberto Silva, veterano que perde todas as disputas contra os adversários, é outro absurdo. Incompreensível, também, é a manutenção como titular de Rafael Marques, de desempenhos comprometedores ao longo do ano e que já teve definida a sua saída do clube no final de 2011. Com tantos desatinos cometidos por seu técnico, o Grêmio por pouco não perdeu para um Palmeiras fraquíssimo, que vinha de oito jogos sem vitória. A lesão de Escudero, que resultou na entrada de Brandão, e a saída de Adílson, de péssima atuação, no intervalo, deram ao time uma maior ofensividade, mas, ainda, assim, o Grêmio não conseguiu mais do que um empate em 2 x 2, depois de estar perdendo por 2 x 0, com um golaço de Fernando no último minuto do tempo regulamentar. Mais uma atuação ruim e um resultado frustrante para o torcedor. Se o Grêmio repetiu seus problemas habituais, a fragilidade defensiva e o pouco poder ofensivo, o Inter também não se mostrou diferente, apresentando limitações já conhecidas. Mais uma vez, o Inter criou muitas oportunidades de gol, mas não conseguiu concretizá-las. Gilberto, que acabou sendo substituído, jogou isolado no ataque. Tinga chegou algumas vezes em condições de marcar gols, mas não o fez, comprovando que não sabe concluir. O jogador diferenciado do time, D'Alessandro, foi mais uma vez sacado durante a partida, o que não traz benefício algum para quem está buscando reverter um resultado negativo. Em sua entrevista após o jogo, o técnico do Inter, Dorival Júnior, demonstrou, até, ter algumas concepções equivocadas, como a de que Oscar seria um atacante e não um jogador de meio de campo. Assim, vitimados pelos erros e conceitos equivocados de seus técnicos muito bem remunerados, entre outros fatores, Grêmio e Inter fazem uma campanha medíocre no Brasileirão. O Inter, agora, é o 10º colocado, e o Grêmio permanece em 11º lugar. Muito pouco para folhas de pagamento tão altas como são as dos dois clubes. Restando quatro jogos para cada um até o final da competição, a dupla Gre-Nal não aspira mais nada no Campeonato Brasileiro. Só lhe resta cumprir tabela. Para Grêmio e Inter, o ano, na prática, já acabou. Resta começar a trabalhar, o quanto antes, para que 2012 possa ser bem melhor, em termos de resultados, para ambos.

sábado, 12 de novembro de 2011

Indefinição

A derrota do Fluminense por 2 x 1 para o América Mineiro, hoje à tarde, no Engenhão, deixou o Campeonato Brasileiro, em sua reta final, ainda mais indefinido. Com os resultados da rodada anterior, o Fluminense tinha tudo para se encaminhar para o título. Afinal, tem o maior número de vitórias na competição, o que é o primeiro critério de desempate, e iria enfrentar o lanterna do Brasileirão. Porém, assim como o Corinthians, o Fluminense também se deixou surpreender pelo América Mineiro, tornando a disputa ainda mais acirrada. Não resta dúvida de que o campeonato, com tantos resultados inesperados e com a proximidade de vários clubes na tabela, está emocionante. Por outro lado, esse equlíbrio de forças, infelizmente, resulta de um nivelamento por baixo, ou seja, da extrema paridade dos times, que se igualam nas poucas virtudes e nos muitos defeitos. A falta de grandes times, capazes de se sobrepor aos demais, permite até campanhas surpreendentes como a do Figueirense, que já está na zona de classsificação da Libertadores. Após a rodada desse fim de semana, restarão apenas quatro para o final da competição. Mesmo assim, é impossível fazer qualquer prognóstico. Os jogos que parecem mais fáceis são justamente aqueles em que o resultado contraria totalmente as expectativas. Até a zona de rebaixamento, que parecia definida, está agora embolada. Apenas o Avaí pode ser apontado como um virtual rebaixado, os outros ainda estão na luta. O futebol apresentado pelos times participantes do Brasileirão está longe de ser um primor, mas emoção é o que não vai faltar nessa reta final da competição. O título está em aberto e, pelo que tem acontecido até aqui, o campeão não deverá ser o time que brilhar mais, mas, sim, o que errar menos.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Postura inadequada

As recentes declarações do Ministro do Trabalho, Carlos Lupi, mais um integrante do governo envolvido em denúncias de corrupção e ameaçado de perder o cargo, talvez expliquem, ao menos em parte, o porquê de tamanho  descalabro no primeiro escalão do poder federal. Depois de dizer que só sairia do ministério abatido à bala, Lupi, dois dias depois, pediu desculpas à presidente Dilma Roussef por sua agressividade e disse que a ama. Ora, tanto uma como outra declaração são absolutamente inadequadas para quem ocupa um cargo tão importante. Entre os tantos requisitos para que alguém ocupe um cargo relevante deve estar, por certo, o de saber manter uma postura condizente com sua posição. A maneira pouco protocolar de se expressar do ministro Lupi faz pensar que uma das razões para tantos acusações de malfeitos envolvendo ministros é a de que os escolhidos para tais cargos não possuem o nível moral e comportamental que funções dessa envergadura naturalmente exigem. A maneira como se expressou o ministro nas duas ocasiões faz com que nos sintamos constrangidos, ao constatarmos que se trata de uma autoridade do governo. O sistema de preenchimento de cargos nas diversas esferas de governo, hoje em dia, está submetido, apenas, às injunções políticas, sem levar em conta a qualificação pessoal dos indicados. O resultado está aos olhos de todos.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Empatia

Um ano e três dias depois do inesquecível show de Paul McCartney, Porto Alegre recebeu novamente a visita de um beatle. Dessa vez foi Ringo Starr quem se apresentou na capital do Rio Grande do Sul. O show de Ringo não tem a monumentalidade que caracteriza o de Paul. Não há telões imensos, nem sofisticados efeitos especiais. Enquanto Paul, que já tinha em seu currículo ter sido o artista que mais público levou ao Maracanã, lotou o Beira-Rio e o Morumbi em 2010, Ringo apresentou-se no Gigantinho, um ginásio com capacidade para 15 mil pessoas, e que não ficou inteiramente ocupado. Não importa. O show de Ringo teve o essencial. Ringo esbanjou carisma, criou uma grande empatia com o público, mostrou-se inteiramente à vontade no palco. Em incrível forma para quem completou 71 anos em julho, Ringo enfrenta o desafio de uma turnê pelo prazer que sente em subir ao palco. Percebe-se que, para ele, antes de tudo, um show é um momento gratificante, de alguém que está fazendo o que gosta, junto com seus amigos. Ringo já inscreveu seu nome na história, já ganhou muito dinheiro. Se ainda vai para a estrada, não é para cumprir com uma obrigação profissional. Ringo não precisa mais disso. Faz shows porque isso lhe traz imensa satisfação. As pessoas que foram ao Gigantinho, por certo, gostaram do que viram e ouviram. Ringo cantou sucessos dos Beatles e da carreira solo. Músicas como "I Wanna Be Your Man", "Yellow Submarine" e "With a Little Help from My Friends" foram cantadas em coro pelo público. O show também contou com músicas interpretadas por membros da All Starr Band, grupo que acompanha Ringo em sua apresentação, composto por grandes músicos, entre eles o lendário Edgar Winter. O show de Ringo não é uma superprodução, mas o público não tem do que se queixar. Durante duas horas, ele é brindado pela apresentação de um ídolo acompanhado por um grupo de músicos virtuosíssimos. Sem dúvida, um show para se guardar na memória.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Planejando 2012

Com o Grêmio não tendo mais o que fazer no Campeonato Brasileiro, e o Inter agarrando-se em chances meramente matemáticas de se classificar para a Libertadores, os dois clubes tratam de preparar a montagem dos seus times para 2012. As principais novidades deverão ser no ataque. O Grêmio está acertando a contratação de Kléber, o Inter irá trazer Dagoberto. Dois grandes atacantes, que acrescentarão muita qualidade aos dois times. O Grêmio ainda pretende trazer Vágner Love, para ser o companheiro de Kléber no setor ofensivo, o que seria, sem dúvida, outra contratação de alto nível. De quebra, na negociação de Kléber, André Lima iria para o Palmeiras, o que é, também, uma boa notícia. Grêmio e Inter também buscam jogadores para outras posições. O Grêmio, que já contratou o zagueiro Douglas Grolli, do Chapecoense, fala em outros jogadores para a posição, como Botinelli, do San Lorenzo, e Émerson do Coritiba. Ainda que se saiba que Rodolfo e Ed Carlos não devam ficar, a vinda de tantos zagueiros poderia significar que Saimon não será fixado como titular, o que caracterizaria um erro imperdoável. No Inter, pode acontecer algo parecido. O clube pretende contratar o zagueiro Manoel, do Atlético Paranaense, um antigo sonho seu. Contratação válida, já que o Inter deverá se desfazer de Bolívar e Índio está próximo da aposentadoria. Manoel só não pode é barrar Rodrigo Moledo que, a cada jogo, vem se afirmando no time. A vinda de reforços de nível, mesmo num ano em que não irão participar da Libertadores, mostra que Grêmio e Inter estão pensando grande, o que deveriam fazer permanentemente, e que reconhecem que não foram bem em 2011. O Grêmio já está em dívida com sua torcida há dez anos, período em que não conquistou nenhum grande título. O Inter, em momento algum de 2011 justificou sua folha de pagamento de quase R$ 7 milhões. Tomara que, depois de um ano tão frustrante para a dupla Gre-Nal, 2012 seja bem diferente.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Portuguesa campeã

Ao empatar em 2 x 2 com o Sport Recife, hoje à noite, no Canindé, a Portuguesa conquistou, por antecipação, o título de campeã brasileira da Segunda Divisão. Esse título, que nos últimos anos foi ganho por clubes da expressão de Palmeiras, Grêmio, Atlético Mineiro, Corinthians e Vasco, por certo, terá grande significado para a Portuguesa. O último título ganho pelo clube havia sido o Campeonato Paulista de 1973, dividido com o Santos. A Portuguesa, ao longo de seus 91 anos de história teve poucas conquistas, e, até por isso, não se tornou um clube de grande torcida, mas montou muitos times bons e teve jogadores de expressão. Jogaram pela Portuguesa nomes como Brandãozinho, Pinga, Djalma Santos, Ivair, Félix, Zé Maria, Leivinha, Marinho Peres, Éneas, Dener, Zé Roberto, Rodrigo Fabri, entre outros. Em 1996, a Portuguesa quase foi campeã brasileira da Primeira Divisão, mas sofreu um gol no final do jogo, sendo derrotada, no Olímpico, por 2 x 0, pelo Grêmio, que ficou com o título. Ainda que seja um título da Segunda Divisão, a conquista da Portuguesa não deve ser desdenhada. A Portuguesa, agora, voltará ao convívio com os grandes clubes do país, na Primeira Divisão, na condição de campeã da competição que disputou, o que eleva o conceito da instituição. Resta, apenas, destacar o brilhante trabalho do técnico Jorginho e parabenizar a Portuguesa pela bela conquista.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Intervencionismo

A revista "Veja", maior expoente da direita na imprensa brasileira, é de um americanofilismo exacerbado. Toma os Estados Unidos como um modelo a ser seguido em todos os níveis e considera natural o papel de xerife do mundo exercido por aquele país. Todos os que contestam tais posições são logo identificados pela publicação como representantes do "antiamericanismo", algo que a revista vê como inaceitável. Nas páginas amarelas, seção nobre da revista, o entrevistado da semana é, na maioria das vezes, um americano. Na edição que chegou às bancas no final de semana, não foi diferente. O entrevistado é, mais uma vez, um americano, o diplomata Roger Noriega. Entre outras afirmações típicas da paranóia terrorista que tomou conta dos Estados Unidos desde o 11 de setembro de 2001, Noriega diz que a América Latina virou base do terror islãmico, e que o Brasil não pode ignorar o terrorismo porque o risco para o país é real e iminente. Afirma que na Venezuela grupos terroristas tem permissão oficial para se adestrar e planejar ataques contra os Estados Unidos. O diplomata declara, também, que o presidente da Bolívia, Evo Morales, hospeda uma academia de treinamento de milicianos patrocinada pelos iranianos. No entender de Noriega, agentes iranianos patrocinam mesquitas islâmicas nas Américas com a finalidade explícita de radicalizar a comunidade muçulmana local. Bem, diante de tudo isso, o que propõe o senhor Noriega? O diplomata entende que os Estados Unidos tem negligenciado a América Latina, e que precisam prestar mais atenção na região, estabelecendo relações econômicas fortes e saudáveis para estimular o crescimento, a prosperidade e a estabilidade entre o que chama de "nossos vizinhos". Mais adiante, Noriega diz que, na América Latina, os serviços de inteligência locais são ineficientes e a região tem baixa capacidade de aplicação das leis. Diante disso, argumenta, os Estados Unidos precisam empenhar-se mais na cooperação com seus vizinhos e, desse modo, "fortalecê-los". Ora, o que está por trás de todo esse discurso é o velho intervencionismo americano. Com base na tal "ameaça terrorista" que estaria se abatendo sobre a América Latina, Noriega deseja é justificar uma intervenção americana na região. Convém que estejamos atentos para esse fato. Os países da América Latina não podem ter sua soberania desrespeitada em nome da obsessão dos Estados Unidos com o terrorismo. Essa é uma questão essencialmente americana, não uma causa a ser abraçada por outros países. Chega de intervencionismo. Os Estados Unidos não podem continuar a ser a polícia do mundo. O tempo dos países da América Latina serem tratados como "repúblicas das bananas" já passou.

domingo, 6 de novembro de 2011

Repetições

Grêmio e Inter tem sido tediosamente repetitivos ao longo do Campeonato Brasileiro. Repetem-se em seus defeitos, limitações, argumentos e, principalmente, resultados. O Grêmio, no sábado, perdeu por 2 x 0 para o Atlético Mineiro, na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas (MG). Como costuma acontecer na maioria dos jogos fora de casa, o time foi frouxo, ineficiente na defesa, lento na transição do meio de campo para o ataque e sem nenhum poder ofensivo. Os únicos a terem uma atuação razoável foram Júlio César e Douglas. Rafael Marques voltou a jogar mal. Adílson apresentou o pouco futebol que o caracteriza. Fábio Rochemback e André Lima foram péssimos. Escudero perdeu um gol feito. Celso Roth fez, pelo menos, uma substituição absurda, a troca de Marquinhos por Gabriel que, quando colocado no meio de campo, invariavelmente, joga muito mal. Os depoimentos no vestiário, após o jogo, também não trouxeram novidades. O gerente de futebol remunerado Paulo Pelaipe repete que o Grêmio precisa de reforços, mas demonstra insegurança em suas declarações, dando a ideia de que não sabe exatamente o que fazer para que 2012 seja melhor que 2011. O técnico Celso Roth, mais uma vez, disse que faltou qualidade e exaltou sua campanha no Brasileirão, rechaçando qualquer crítica à qualidade do seu trabalho. Assim segue o Grêmio, sem presente e com um futuro nebuloso. O Inter, a exemplo do Grêmio, repetiu-se. Novamente, não fez valer a condição de jogar em casa, e perdeu por 2 x 1 para o Fluminense. Desperdiçou, como em outras tantas vezes, a chance de ingressar na zona de classificação para a Libertadores, e, o que é pior, com a maioria dos resultados paralelos lhe sendo favorável. Depois de ter subido, na semana anterior, para o 6º lugar, voltou para o 7º, o qual já frequentou por 15 rodadas. Cotado, antes do início da competição, como um dos principais favoritos, o Inter não conseguiu, com exceção de uma única rodada, ir além de posições intermediárias. Com folhas de pagamento altas, mas um futebol da altura de um rodapé, Grêmio e Inter se encaminham para um 2012 sem Libertadores. Uma perspectiva frustrante, mas que é a justa consequência de dois times que não encontraram o bom futebol em 2011.

A tecnologia também falha

A tecnologia nos traz muitas facilidades, mas também está sujeita a falhas. Por falta de conexão com a internet, não me foi possível fazer postagem no sábado.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Democracia sucateada

Tem sido comum, nos últimos tempos, o ataque da imprensa de direita aos governos que representariam, no seu entender, uma ameaça aos princípios democráticos. Todo e qualquer governante que coloque o poder do Estado em favor dos interesses maiores da população, que não se submeta aos ditames do Fundo Monetário Internacional, que questione as barbaridades cometidas em nome da "liberdade de imprensa e de expressão", que amplie o número e a abrangência de programas sociais de auxílio aos mais necessitados, é logo "brindado" com uma série de definições pejorativas. Fiel ao seu ideário de Estado mínimo, essa vertente da imprensa ataca esses governantes com termos como "populista", "caudilhesco", "autoritário", "superado". Esse comportamento se intensificou pela inconformidade desse tipo de imprensa com a nítida opção pela esquerda feita pela maioria do eleitorado da América do Sul. Brasil, Argentina, Uruguai, Equador, Bolívia e Venezuela são, atualmente, governados pela esquerda, sem que haja perspectiva, a médio prazo, de mudança na orientação de voto do eleitorado. O Chile, sempre citado como modelo pelos neoliberais, aventurou-se a eleger um presidente de direita, e enfrenta, como consequência, momentos de séria tensão social. A verdadeira ameaça á democracia é de outra natureza, e essa, obviamente, a imprensa de direita não denuncia. Pelo contrário, procura desqualificar quem o faz. Trata-se da gradual substituição do poder do Estado pelo das grandes corporações e organismos financeiros internacionais. Em inspirado artigo publicado hoje num jornal de Porto Alegre, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, sabidamente um intelectual na acepção da palavra, alerta para o sucateamento da democracia, caracterizado por instâncias de poder externas ao Estado, de caráter privado, que afrontam a soberania popular. Tarso usa como exemplo o que ocorre, no momento, com a Grécia, que vive enorme crise financeira. Após a aprovação, pelo parlamento, de cortes dos salários dos programas de proteção social e previdência pública, o governo da Grècia resolveu submeter tais medidas a um referendo. A decisão do governo grego foi logo atacada, de modo direto, pelo capital financeiro e pelas agências de risco. Esses organismos, como destaca Tarso Genro em seu artigo, são os poderes fácticos que superpõem a sua vontade às instituições formais do Estado. Tarso pondera que, após os direitos sociais, serão os direitos políticos a próxima vítima do modelo neoliberal. O que está em jogo, atualmente, argumenta o governador, não são somente as finanças públicas e privadas mundiais, mas o modelo democrático-representativo, cujo poder de decisão vem sendo aceleradamente solapado pelas forças do mercado. Essa sim, é a grande ameaça que paira sobre todos nós.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Posição modesta

O Brasil aparece em 84º lugar, entre 187 países avaliados, no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2011, cujo relatório foi divulgado ontem pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Em relação ao ano de 2010, o Brasil subiu uma posição. Entre outros dados, foi apurado que os brasileiros tem um rendimento anual de 10.162 dólares e uma expectativa média de vida de 73,5anos. A escolaridade média é de 7,2 anos. Embora se enquadre na categoria de desenvolvimento humano elevado, o Brasil ainda está atrás de dez países da América Latina. Na região, apenas Chile e Argentina tem um Índice de Desenvolvimento Humano considerado muito elevado. A posição brasileira é muito modesta para um país que é um dos cinco maiores do mundo em extensão territorial e possui enormes riquezas e recursos naturais. Uma das razões para esse desempenho insatisfatório está, por certo, num dos itens avaliados. A escolaridade média dos brasileiros, de 7,2 anos, é, ainda, muito baixa. Com tão pouco tempo de permanência nos bancos escolares é inviável obter-se um desenvolvimento humano mais condizente com o potencial do país. A educação é o ponto fraco do Brasil, um país que vem conseguindo avanços magníficos, mas que pode e deve alcançar muito mais. Sem nenhum ufanismo, é obrigação do Brasil ser o país de melhor desenvolvimento humano entre seus pares da América Latina, pois seus recursos naturais e potencialidades são muito superiores aos dos demais integrantes da região. Para isso acontecer, no entanto, é preciso dar atenção prioritária à educação. Se não for assim, o Brasil continuará a ser visto como "o gigante adormecido". Convenhamos, já está mais do que na hora desse gigante despertar de seu sono.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Sete bilhões de habitantes

Um assunto que vem tomando conta dos noticiários, nos últimos dias, é o fato de que o mundo atingiu a marca de 7 bilhões de habitantes. O número, por si só, é impactante. Como consequência, logo é atrelado à previsões catastrofistas, de um mundo superpovoado, com escassez de alimentos e água. Não é bem assim. Se é verdade que 7 bilhões de habitantes é um dado que impressiona, o número está longe de caracterizar uma superpopulação. Há produção de alimentos em volume suficiente para atender todas essas bocas. A população mundial vem crescendo exponencialmente não por uma procriação irresponsável, mas pelos avanços da ciência que fazem as pessoas viverem cada vez mais e melhor. O que deve nos assustar não é o total de habitantes da Terra, mas a maneira injusta e desigual como essas pessoas se distribuem quanto à qualidade de vida. Sabe-se, por exemplo, que se o padrão de consumo adotado nos Estados Unidos se espalhasse para todos os habitantes do mundo, seriam necessários seis planetas Terra para dar conta da tarefa. Isso mostra qual é o verdadeiro problema: a desigual repartição da renda e das riquezas. A opulência de um lado, e a miséria de outro. A ideia de que a Terra caminha para o caos por ter gente demais é uma visão simplória. Não há que se frear o aumento populacional. O que se tem de fazer é procurar um meio de se alcançar um mundo mais justo, com inclusão social, sem a dicotomia do luxo para poucos e do lixo para os demais. Não temos de nos preocupar com quantos habitantes há no mundo, mas sim em proporcionar a cada um deles, sem exceção, as condições para que tenham uma vida digna.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Perdendo o trem da História

Vivemos, sem dúvida, uma época de constantes mudanças. Conceitos que pareciam inquestionáveis, certezas tidas como inabaláveis, privilégios outrora inamovíveis e poderes considerados absolutos, repentinamente, fragilizam-se, ou, simplesmente, são deixados de lado. Isso não se dá sem muito choro e ranger de dentes, afinal, os que se beneficiam de determinadas estruturas não aceitam a diminuição de seu papel no contexto social. Um exemplo claro disso é o que acontece com o arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings, e os ataques que desfere, vez por outra, ao Poder Judiciário. O arcebispo já chegou a afirmar que o problema da corrupção tem sua origem no Judiciário e que ou o Brasil muda esse poder ou será corrompido por ele. Em outra ocasião atritou-se com a comunidade judaica, declarando que morreram mais católicos do que judeus no Holocausto, mas que isso não aparece porque os judeus tem a "propaganda do mundo". Na verdade, dom Dadeus representa o desespero de setores da sociedade que estão ficando para trás, e não se conformam com isso. São setores que se acostumaram, ao longo do tempo, a impor seus dogmas e vontades sem maiores resistências, como é o caso da Igreja Católica, cuja linha mais conservadora é simbolizada por pessoas como Dom Dadeus. A Igreja Católica ainda é uma organização portentosa, pelo seu grande número de fiéis e templos espalhados pelo mundo, mas já não exerce e, provavelmente, não voltará a fazê-lo, a mesma influência de outrora. O catolicismo vem perdendo adeptos para outras religiões. Mesmo os que se dizem católicos, em grande parte, já não aceitam orientações e posturas anacrônicas da Igreja, como a condenãção aos métodos contraceptivos e o celibato dos padres. A sociedade evoluiu e não há mais lugar para instituições ou pessoas que queiram tratar os cidadãos como integrantes de um rebanho que marcha de forma unida e acrítica. Figuras como dom Dadeus não aceitam contestação ás suas ideias. Acostumaram-se a não serem questionados. Esse tempo, felizmente, já passou. A sociedade mudou, evoluiu, e não se deixa mais conduzir, apaticamente, por ideias medievais. Os ataques e declarações disparatadas de dom Dadeus caracterizam o triste espetáculo dos que não toleram o contraditório. Um espetáculo patético e inútil de quem está perdendo o trem da História.