segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Direita Miami

A polarização entre PT e PSDB, que atingiu níveis histéricos, fez surgir as expressões "esquerda caviar" e "direita Miami". Bem, a esquerda caviar parece ser apenas um contraponto argumentativo, mas a direita Miami apareceu na eleição para presidente claramente, sem nenhum disfarce. A maior vitória de Aécio Neves sobre Dilma se deu, justamente, entre os eleitores brasileiros residentes em Miami. Lá, Aécio teve quase 92% dos votos, índice que não conseguiu em nenhuma cidade do Brasil. Confirma-se, assim, a existência de um grupo ideológico muito bem identificado, de convicções antipetistas, formado por pessoas endinheiradas, fascinadas pelo consumismo e ostentação característicos dessa cidade litorânea dos Estados Unidos. São pessoas que tem horror à pobreza, e que deleitam-se com a opulência. Consideram seus privilégios um direito, e como despeitados e invejosos aqueles que os questionem. Para a direita Miami, nada é mais detestável do que um governo que traga 50 milhões de pessoas para o mercado de consumo. São elitistas convictos. Não querem repartir suas regalias. Os programas sociais do governo, as cotas para negros nas universidades, e tantas outras medidas de inclusão social são vistas com repúdio por esse grupo. A direita Miami acostumou-se com um Brasil com muito para poucos e quase nada para a maioria da população. Na famosa "Belíndia", definição do economista Edmar Bacha sobre a divisão social no Brasil, pertencem à porção "Bélgica", pequena e rica, em contraste com a "Índia", enorme e pobre. Porém, para o bem do país, não conseguem impor a sua vontade. A acachapante vitória de Aécio em Miami ficará, apenas, como um dado curioso do pleito. Na eleição como um todo, a presidente Dilma Rousseff foi reeleita, e a porção "Índia" do país continuará encolhendo, com mais justiça social para milhões de brasileiros.