sábado, 18 de agosto de 2012

Realidade distorcida

A revista "Veja", fiel ao seu perfil de extrema direita, aborda, em sua mais recente edição, a proposta aprovada pelo Senado, no último dia 7, que restitui a volta da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. A publicação, assim como toda a grande imprensa brasileira, lutou durante anos pelo fim da obrigatoriedade do diploma, o que, afinal, foi conseguido em 2009, em decisão do Supremo Tribunal Federal, cujo presidente, à época, era Gilmar Mendes, uma figura notoriamente espúria do meio jurídico brasileiro, permanentemente afinada com os interesses das elites econômicas. Numa tentativa de convencer seus leitores da inconveniência da medida, a revista apela para o surrado argumento da ameaça à "liberdade de expressão". Conforme "Veja", a obrigatoriedade do diploma foi instituída em 1969 pela junta militar que governava o país, com o intuito de controlar quem teria acesso às redações. A revista sustenta que, desde a queda da exigência do diploma, sindicalistas e faculdades de comunicação, vendo-se ameaçados em sua sobrevivência, iniciaram uma campanha para anular a decisão do Supremo Tribunal Federal. Trata-se de uma mal intencionada distorção da verdade. O que "Veja" e os demais veículos da grande imprensa brasileira sempre desejaram foi a liberdade para contratar quem bem entendessem para atuar no jornalismo, seguindo critérios que favorecem a busca da audiência ou da expansão de leitores, mas sem nenhum compromisso com  a qualidade. Um exemplo claro disso ocorre no jornalismo esportivo. Nas redes de televisão, visando atrair a audiência, os jornalistas com sólida formação e conhecimento na área são preteridos por ex-esportistas que, em sua grande maioria, exibem enorme precariedade para o exercício da profissão. Não é verdade, como querem fazer crer os defensores do "exercício livre do jornalismo", de que a profissão se caracterize por um caráter generalista que dispense a especialização. Como tantas outras atividades, o jornalismo também exige uma sólida e bem fundamentada formação acadêmica. O contrário disso, que é o que "Veja" deseja, é uma profissão manchada pela presença nas redações de toda a sorte de aventureiros, que desqualificam a atividade e facilitam o seu aviltamento salarial. O fim da obrigatoriedade do diploma foi um absurdo que está em vias de ser corrigido. Só resta esperar que a Câmara dos Deputados tenha tanto discernimento quanto o Senado e confirme a volta da exigência do diploma para o exercício do jornalismo.