sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Prática recorrente

A cada vez que um partido sucede a outro no poder, nos vemos diante de uma prática recorrente. Ela consiste em alardear que a situação financeira recebida é "dramática". Com o governador eleito do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB), não foi diferente. Sartori disse que sabia da situação financeira do Estado, mas que desconhecia a extensão das dificuldades. Em função desse quadro, anunciou que adotará "medidas duras" no campo econômico. Todos os governantes, quando quem lhes antecedeu no poder é de uma corrente ideológica diversa da sua, descrevem um panorama financeiro catastrófico, que resulta numa "herança maldita" que terão de administrar. Assim, podem justificar o não cumprimento de promessas de campanha, pois o "caos financeiro" lhes levará a falta de recursos para novos investimentos. No caso em questão, a situação tem um efeito ainda mais perverso. Sartori tentou se esquivar, durante a campanha, de qualquer definição mais clara sobre suas intenções, caso fosse eleito. As razões para esse comportamento são claras. O futuro governador do Rio Grande do Sul é adepto das práticas econômicas neoliberais, que levam ao arrocho salarial, cortes nos investimentos, aumento do desemprego e privatizações. Agora, já eleito, fala em medidas duras. O ex-ocupante do cargo, Alceu Collares, sem papas na língua, já declarou que Sartori fará um mau governo, pois, lembrou, todos as administrações estaduais anteriores do PMDB foram ruins, o que é absolutamente verdadeiro. Porém, o eleitor deu a Sartori uma vitória maciça no segundo turno. Não terá o direito de se queixar quando as "medidas duras" afetarem o seu bolso. Afinal, como expressa o ditado popular, quem corre por gosto não cansa.