quinta-feira, 30 de julho de 2015

Mercadorias humanas

Esporte que apaixona multidões, o futebol, com o tempo, transformou-se num negócio milionário. O público se depara com a revelação de somas astronômicas despendidas na aquisição de jogadores, aos quais são pagos salários altíssimos. Essa situação mostrou-se, particularmente, muito interessante, financeiramente, para os chamados "empresários", que representam os jogadores junto aos clubes. No Brasil, especialmente, desde a entrada em vigor da malfadada Lei Pelé. A partir dela, os tais "empresários" dão as cartas no futebol. Ávidos pela prospecção de bons negócios para seus representados, pois recebem uma generosa fatia a cada transação fechada, sua única preocupação é com os cifrões. Para eles, os jogadores são mercadorias humanas, cuja vontade não conta, pois o que importa é ganhar muito dinheiro. Duas entrevistas, nas últimas horas, deixaram isso bem claro, ambas envolvendo a negociação de jogadores do Inter. Ontem, em declaração prestada ao jornal "Diário Gaúcho", o executivo do Grupo DIS, que detém parte dos direitos do volante Aránguiz, Roberto Moreno, diante do fato de que três clubes europeus apresentaram propostas pelo jogador, disse que não há chance de que o desejo dele prevaleça na transferência. Aránguiz interessa ao Bayer Leverkusen, da Alemanha, ao Olympique de Marselha, da França, e ao Leicester, da Inglaterra. O jogador prefere ir para o clube alemão, mas os valores oferecidos pelo Leicester são os maiores em relação aos três pretendentes. Para o Inter e o Grupo DIS, é mais interessante que o negócio seja fechado com o clube inglês. Conforme Moreno, para o jogador a ida para o Leicester também é vantajosa, pois ele receberá em libras, que valem muito mais. Moreno acrescenta que, caso Aránguiz não queira ir para o Leicester ou outro clube que fizer a melhor proposta, ficará no Inter, pois o grupo para o qual trabalha não irá perder dinheiro. Outra entrevista, nessa mesma linha, foi dada, hoje, pelo empresário do atacante Nilmar, Orlando da Hora, para a Rádio Bandeirantes, de Porto Alegre. Conhecido pelo seu gosto pelo "vil metal", Orlando da Hora revelou que foi contra o retorno de Nilmar ao Inter. Para voltar ao Inter, Nilmar abriu mão de 7 milhões de euros que tinha direito a receber do clube onde jogava, no Catar, e aceitou um salário bem menor do que ganhava até então. Ele teria feito isso, segundo o empresário, por "amor ao clube", contrariando frontalmente a vontade de Orlando da Hora. Em ambas as entrevistas, fica claro que os jogadores são desconsiderados no seu aspecto humano. Moreno não admite que a vontade de Aránguiz possa fazer o seu grupo perder dinheiro. Orlando da Hora, argumentando que está pensando no futuro do jogador que representa, mostra inconformidade com quem abre mão de um dinheiro a que tem direito. Nenhum dos dois leva em conta o que os jogadores possam preferir para as suas vidas, um clube melhor estruturado, uma cidade em que lhes agrade mais viver, ou algo assim. Para figuras como eles, jogadores são máquinas de fazer dinheiro. A crise moral do futebol, como se vê, não se resume aos desmandos da Fifa. Ela é muito mais profunda, e ameaça diminuir o encantamento que esse magnífico esporte proporciona para as pessoas.