quinta-feira, 3 de abril de 2014

O anti-professor

Os arautos do atraso, que levaram o Brasil a mergulhar nas trevas de uma ditadura militar espúria por 21 anos, ainda continuam a botar suas manguinhas de fora, mesmo após 29 anos da redemocratização do país. Na segunda-feira, dia 31 de março, data em que se completavam 50 anos do golpe militar, o professor de direito administrativo da USP, Eduardo Lobo Botelho Gualazzi, distribuiu um texto para alunos do 3º ano em que tratava o nefando golpe por "revolução" e o defendia abertamente. O argumento central é o de sempre, ou seja, a "ameaça comunista" que pairava sobre o Brasil. Em protesto, um coletivo de alunos, apoiado pelo Centro Acadêmico 11 de agosto, organizou um "escracho" em sala de aula, que gerou irada reação de Gualazzi e de seus monitores. Em seu texto, Gualazzi traça, também, o que definiu de seu "perfil de personalidade", uma "opção íntima" que teria feito na infância-adolescência. Esse perfil se sustenta nos seguintes itens: a) aristocratrismo; b) burguesismo; c) capitalismo; d) direitismo; e) euro-brasilidade; f) família; g) individualismo; h) liberalismo; i) música erudita; j) panamericanismo; k) propriedade privada; l) tradição judaico-cristã. Por tudo o que foi descrito até aqui, não há como definir Gualazzi de outra forma que não seja como o anti-professor. Um professor ensina, orienta, educa, aponta caminhos. Gualazzi é a antítese de tudo isso. Apóia o que é indefensável, e traça um perfil de si próprio que vai na contramão do humanismo. Assume ser sectário e preconceituoso ao definir-se como aristocrático, burguês, capitalista, direitista, individualista e defensor de uma "euro-brasilidade", o que denota uma visão eugenista e racista. Gualazzi reúne alguns dos piores sentimentos que podem habitar um ser humano. Não está habilitado a ensinar nada para ninguém, ainda mais num curso tão nobre, do ponto de vista humanístico, como é o de Direito. Sua presença em sala de aula é um acinte num país cujas feridas do período ditatorial ainda estão longe de cicatrizar.  Se, valendo-se da liberdade de expressão que a democracia assegura a todos, Gualazzi quiser continuar defendendo suas execráveis ideias, que o faça por meio de artigos ou livros. Na sala de aula, não. Ela é um espaço para educar, não para transmitir um conceito de sociedade excludente e discriminatório.