segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Cantilena

O leitor deste espaço talvez já esteja cansado de verificar a frequência com que abordo este tema, mas é impossível deixar de fazê-lo. Refiro-me à insistência, igualmente cansativa, com que a imprensa conservadora brasileira identifica pretensões golpistas e antidemocráticas por parte do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e do PT. Tais fantasmas nunca foram mais do que isto, ou seja, assombrações. As "ameaças à democracia e ao estado de direito" são apenas delírios de grupos inconformados com a perda do poder. As mais novas "denúncias" dos fiscais da ética política dão conta de que Lula que ser "rei" e estaria interferindo em administrações de "correligionários que lhe devem o cargo", como afirma a revista "Veja", maior porta-voz do direitismo brasileiro. Lula estaria, segundo a publicação, reunindo-se em horário de expediente com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e membros do seu secretariado, para traçar diretrizes da administração. A revista trata o fato como escandaloso. Não vejo o porquê. Goste-se dele ou não, Lula é o maior líder político brasileiro da atualidade. Se Haddad, sabidamente, é um dos tais correligionários que lhe devem o cargo, porque Lula iria se eximir de influir em sua administração como prefeito? Dizer que Lula está transgredindo normas ao proceder assim é um argumento desesperado de quem tenta de todas as formas desacreditar a imagem do ex-presidente e do governo do PT no plano federal, e fracassa continuadamente neste intento. A revista chega ao ponto de, num tom raivoso e genérico, destituído de objetividade, afirmar que o ex-presidente, quando no poder, sempre demonstrou prazer em fazer aquilo que a Constituição, as leis, a liturgia do cargo e o bom-sendo proibiam. Outra "ameaça" captada  no ar pela imprensa conservadora foi a de que Lula teria sinalizado para a presidente Dilma Rousseff que gostaria de voltar ao cargo,  o que a impediria de concorrer à reeleição. Duas coisas devem ser esclarecidas sobre isto. A primeira é que tal hipótese não passa de uma especulação. A segunda é que ela nada tem de ilegal. Lula cumpriu dois mandatos sucessivos como presidente, o máximo que a Constituição autoriza, e não praticou o golpe de emendar a Carta Magna para obter um terceiro mandato, embora fosse líquido e certo que o conseguiria, se assim o desejasse. Agora, depois de cumprido um período com outro ocupante no cargo, nada impede que Lula concorra novamente ao posto. A cantilena contra Lula e o PT prossegue, mas nada tem obtido de prático, a não ser, provavelmente, esgotar a paciência dos leitores.