segunda-feira, 9 de julho de 2012

Estranhas comemorações

O Brasil é um país de singularidades. Entre as coisas estranhas que acontecem no país estão as comemorações de revoluções fracassadas. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o dia 20 de setembro é feriado estadual. Comemora-se, nessa data, o aniversário da chamada "Revolução Farroupilha", movimento separatista que durante dez anos, de 1835 a 1845, tentou fazer do Rio Grande do Sul um país independente, separando-o do Brasil. Apesar de sua, relativamente, longa duração, o movimento fracassou em sua estapafúrdia intenção, como não poderia deixar de acontecer. Durante sua existência, a "República Riograndense" mudou de capital várias vezes, sempre escolhendo municípios de pouca expressão, já que Porto Alegre e Rio Grande, as cidades mais importantes, resistiram a todos os ataques dos revolucionários, mantendo-se fiéis ao império. Mesmo tendo redundado em fracasso, o movimento é, até hoje, cultuado pelos gaúchos. A bandeira do Rio Grande do Sul é a mesma da delirante república, e o hino estadual cita o 20 de setembro em sua letra como sendo o "precursor da liberdade". Como consequência disso tudo, muitos gaúchos cultivam, até hoje, um sentimento separatista em relação ao resto do país. No entanto, nesse apreço por movimentos derrotados, o Rio Grande do Sul não está sozinho. A data de hoje, 9 de julho, é feriado estadual em São Paulo, comemorativo à denominada "Revolução Constitucionalista de 1932". O mote do movimento era, pretensamente, a luta contra a ditadura de Getúlio Vargas para pedir a convocação de uma Assembleia Constituinte. Na verdade, as razões eram bem outras. Assim como a "Revolução Farroupilha" foi deflagrada em razão do descontentamento de seus líderes com medidas do governo central que afetavam seus negócios como proprietários rurais, o movimento paulista foi uma ação comandada pelas oligarquias excluídas do poder pelo governo de Getúlio Vargas que, ao assumir como presidente, rompeu um longo ciclo de hegemonia de São Paulo na política brasileira. Nos dois casos, buscou-se travestir esses movimentos como sendo resultado de uma aspiração popular. Nada mais falso. As duas "revoluções", na verdade, traduziam insatisfações de elites desacostumadas a serem contrariadas. Seja como for, ambas as investidas contra o poder central, separadas por quase um século no tempo, foram derrotadas. Assim sendo, não faz sentido reverenciar as datas que lembram as mesmas. Porém, gaúchos e paulistas ignoram essa evidência e seguem comemorando sua rebeldia fracassada, com direito a feriado. Algo muito insólito, sem dúvida, como tantas coisas no Brasil.