quinta-feira, 11 de julho de 2013

Contramão

O Brasil vive um momento singular de sua história. Enquanto as grandes massas clamam por mais justiça social, há quem atue no sentido contrário, tentando ampliar a exclusão e estendê-la até para áreas historicamente populares. Exemplo nesse sentido é o que o ocorre com o futebol brasileiro e suas modernas "arenas". São estádios belíssimos, mas de capacidade reduzida em relação aos colossos de concreto do passado. Em um tempo ainda não muito distante, estádios como Maracanã, Morumbi e Mineirão tinham capacidade de público superior a 100 mil pessoas. Hoje, o maior estádio do país segue sendo o Maracanã, mas sua capacidade máxima se reduziu para 79 mil pessoas. Com menos lugares, é óbvio, pela lei da oferta e da procura, o preço dos ingressos sobe. Afora isso, as novas arenas, ou os velhos estádios reformados para se transformarem em uma, passaram a ser explorados pela iniciativa privada, que privilegia o lucro. A consequência disso já está sendo vista e tornou-se mais flagrante com o anúncio de que o consórcio de empresas que ganhou o direito de administrar o Maracanã, pretende colocar grades separando setores da arquibancada, impedir a presença de torcedores em pé e sem camisa, e proibir bandeiras com mastros de bambu. A alegação é de que tais medidas são para evitar a violência. Na verdade, são uma clara intenção de elitizar o futebol, um esporte marcadamente popular. Há quem veja nisso uma saudável evolução. Nada mais falso. Os estádios lotaram durante décadas sem que os torcedores se sentissem incomodados de ter de se sentar em degraus de cimento. Afinal, quem vai a um jogo, busca, essencialmente, a emoção, não o conforto. Um estádio com lugares marcados, em que torcedores não possam assistir ao jogo em pé e sem camisa, perde o seu calor humano. O argumento de que "na Europa é assim", não passa de mais uma demonstração do velho complexo de vira-latas de alguns brasileiros. O povo brasileiro é conhecido por sua descontração e espontaneidade, não tem a sisudez dos europeus. Não se pode construir estádios como se fossem cinemas ou teatros, pois são espetáculos que não guardam nenhuma semelhança com o futebol. No cinema e no teatro, prezam-se o silêncio e o conforto. No futebol, o ruído é indispensável. Mais uma vez, por força de interesses econômicos, estabelecem-se medidas na contramão da vontade popular, dessa vez não poupando, nem mesmo, o futebol, o esporte das multidões, e seu maior símbolo no Brasil, o Maracanã.