segunda-feira, 18 de abril de 2011

Paternidade tardia

Os avanços constantes da ciência modificaram significativamente a vida humana. Devido a eles, a expectativa média de vida vem aumentando, em todo o mundo, já que a medicina proporciona a cura ou o controle de várias doenças que antes eram incapacitantes ou fatais. A tecnologia evolui a passos largos em todos os campos de atividade humana. Coisas antes impensáveis tornam-se realidade em função dos progressos científicos. Um desses notáveis recursos da modernidade é a fertilização "in vitro", que permite a geração de filhos por casais com problemas de fertlidade ou mulheres em idade avançada. Tudo isso é muito bom, é a prova de que o engenho humano pode superar limitações impostas pela natureza, mas é preciso olhar certas situações com alguma reserva. Tal é o caso que envolve um casal brasileiro que aguarda o nascimento de filhos gêmeos. Ele, de nome Ítalo, tem 87 anos. Ela, que se chama Janete, tem 51 anos. Estão juntos há 23 anos. Ítalo já é bisavô. Janete será mãe pela primeira vez. Ela diz que sempre desejou ser mãe, mas foi adiando a gravidez e, quando se deu conta, o tempo já havia passado. Foi, então, que resolveu partir para a fertilização em laboratório. O procedimento foi bem sucedido e, portanto, essa parece ser uma história de final feliz. Porém, é quase inevitável que, diante do fato, a maioria das pessoas se questione sobre a conveniência de gerar filhos nessa altura da vida. Ítalo, que já tem até bisnetos, terá muito pouco tempo para usufruir a convivência de seus novos filhos. Janete, em pouco tempo, estará na condição de criar os filhos sozinha e, quando eles forem ainda muito jovens, já será uma mulher idosa. O casal e os médicos que realizaram o procedimento estão, certamente, muito satisfeitos com o êxito alcançado. Será, no entanto, que os gêmeos que estão por nascer terão essa mesma apreciação do fato, no futuro? Como se dará seu desenvolvimento, sua preparação para a vida, seu amadurecimento emocional, diante de uma situação tão singular? Ter filhos não é apenas cumprir um projeto pessoal. Envolve um enorme compromisso com sua criação, amparo, proteção. Nesse aspecto, os futuros filhos de Ítalo e Janete já saíram perdendo.