sábado, 23 de junho de 2012

Um filme já visto

O impeachment do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, representa um enorme retrocesso não só para o país, mas para a América do Sul. A região sofreu em tempos ainda não tão distantes, com ditaduras e golpes de Estado. A recomposição democrática nos países sul-americanos foi um longo e doloroso processo, que custou muitas vidas. A deposição de um presidente legitimamente eleito é um fato extremamente lamentável. As razões apontadas para a queda de Lugo são frágeis, e refletem uma visão própria dos militares e dos setores de direita. Entre as alegações contra Lugo está a de que ele tinha vínculos com movimentos sociais do país e mostrava falta de ação contra a invasão de terras. Ora, esses são argumentos tipicamente direitistas. Outra acusação é de que os militares teriam sido "submetidos às ordens" dos "carperos", como são conhecidos os sem-terra no Paraguai. Seguem-se várias outros motivos no mesmo tom, sempre refletindo a ótica da direita. O Paraguai, historicamente, tem dificuldade de conviver com os preceitos democráticos. Um exemplo disso é a longa ditadura que viveu de 1954 a 1989, quando foi governado por Alfredo Stroessner. Mesmo depois da redemocratização, ocorrida após a queda de Stroessner, o Paraguai teve várias tentativas de golpe e até o assassinato de um vice-presidente, Luiz Maria Argaña. O fato levou à renúncia do presidente Raul Cubas, cujo processo de impeachment já havia sido iniciado. Portanto, a destituição de Lugo dá prosseguimento a uma velha prática paraguaia de deflagrar golpes de estado. Ainda assim, não deve ser vista com naturalidade. O correto seria a comunidade internacional negar o reconhecimento do novo governo. Isso, infelizmente, não vai acontecer. Fica, então, o alerta para que outros países da região não se deixem contaminar pelos ares golpistas. Nossas ainda frágeis democracias precisam ser preservadas. O golpismo é um filme que os sul-americanos já viram, e não desejam rever.