terça-feira, 14 de agosto de 2012

Decisão absurda

Como explicar que um estádio que teve todo o seu anel inferior demolido e está com 25% da sua parte superior interditada continue a sediar jogos de futebol? Esse descalabro, impensável em qualquer outro lugar, vem acontecendo no Rio Grande do Sul, e terá continuidade, conforme decisão tomada, hoje, pela Justiça. O estádio em questão é o Beira-Rio, pertencente ao Inter, que está em obras para abrigar jogos da Copa do Mundo de 2014. Ao contrário de todos os outros estádios que estão sendo reformados para a Copa, no Beira-Rio a realização de partidas não foi suspensa. O Inter, alegando que sofreria prejuízos técnicos, resiste a ideia de jogar em outro local. O mau desempenho de Atlético Mineiro e Cruzeiro em 2011, jogando fora de Belo Horizonte, é citado pelo Inter como exemplo do que pode ocorrer com quem tem de se afastar de seu estádio. Ocorre que há interesses bem maiores que estão sendo desconsiderados. Um estádio parcialmente demolido oferece riscos evidentes para seus frequentadores. Afora isso, com somente o anel superior liberado para o público, e, assim mesmo, apenas parcialmente, a acessibilidade e o conforto de quem assiste aos jogos ficam seriamente comprometidos. Diante de tantas evidências da inconveniência de se realizarem partidas no Beira-Rio, porque se permite tal situação? A imprensa esportiva gaúcha, historicamente identificada com o Inter, desconsiderou todos esses fatores, e apoiou a posição defendida pelo clube, chegando ao ponto de desqualificar a atitude dos procuradores do Ministério Público que, ajuizada e responsavelmente, solicitaram a interdição do estádio, insinuando que estariam movidos pela suposta condição de torcedores do Grêmio. A decisão tomada hoje pisoteia os princípios mais basilares da defesa do interesse público, e reafirma a incrível influência exercida pelo Inter em todos os estamentos de poder do Rio Grande do Sul. Um absurdo jurídico perpetrado em nome de interesses clubísticos. Uma nódoa indelével na história da Justiça gaúcha.