segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Intervencionismo

A revista "Veja", maior expoente da direita na imprensa brasileira, é de um americanofilismo exacerbado. Toma os Estados Unidos como um modelo a ser seguido em todos os níveis e considera natural o papel de xerife do mundo exercido por aquele país. Todos os que contestam tais posições são logo identificados pela publicação como representantes do "antiamericanismo", algo que a revista vê como inaceitável. Nas páginas amarelas, seção nobre da revista, o entrevistado da semana é, na maioria das vezes, um americano. Na edição que chegou às bancas no final de semana, não foi diferente. O entrevistado é, mais uma vez, um americano, o diplomata Roger Noriega. Entre outras afirmações típicas da paranóia terrorista que tomou conta dos Estados Unidos desde o 11 de setembro de 2001, Noriega diz que a América Latina virou base do terror islãmico, e que o Brasil não pode ignorar o terrorismo porque o risco para o país é real e iminente. Afirma que na Venezuela grupos terroristas tem permissão oficial para se adestrar e planejar ataques contra os Estados Unidos. O diplomata declara, também, que o presidente da Bolívia, Evo Morales, hospeda uma academia de treinamento de milicianos patrocinada pelos iranianos. No entender de Noriega, agentes iranianos patrocinam mesquitas islâmicas nas Américas com a finalidade explícita de radicalizar a comunidade muçulmana local. Bem, diante de tudo isso, o que propõe o senhor Noriega? O diplomata entende que os Estados Unidos tem negligenciado a América Latina, e que precisam prestar mais atenção na região, estabelecendo relações econômicas fortes e saudáveis para estimular o crescimento, a prosperidade e a estabilidade entre o que chama de "nossos vizinhos". Mais adiante, Noriega diz que, na América Latina, os serviços de inteligência locais são ineficientes e a região tem baixa capacidade de aplicação das leis. Diante disso, argumenta, os Estados Unidos precisam empenhar-se mais na cooperação com seus vizinhos e, desse modo, "fortalecê-los". Ora, o que está por trás de todo esse discurso é o velho intervencionismo americano. Com base na tal "ameaça terrorista" que estaria se abatendo sobre a América Latina, Noriega deseja é justificar uma intervenção americana na região. Convém que estejamos atentos para esse fato. Os países da América Latina não podem ter sua soberania desrespeitada em nome da obsessão dos Estados Unidos com o terrorismo. Essa é uma questão essencialmente americana, não uma causa a ser abraçada por outros países. Chega de intervencionismo. Os Estados Unidos não podem continuar a ser a polícia do mundo. O tempo dos países da América Latina serem tratados como "repúblicas das bananas" já passou.