terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A praga do politicamente correto

Há poucos dias, a presidente Dilma Rousseff foi vaiada ao usar a expressão "portadores de deficiência". Percebendo as razões da vaia, Dilma pediu desculpas e corrigiu a expressão para "pessoas com deficiência", sendo, então, aplaudida. O fato foi, apenas, mais uma demonstração de uma praga que assola os nossos dias, a do uso do "politicamente correto". Assim como ocorreu com os deficientes físicos que vaiaram Dilma, homossexuais rejeitam o termo "homossexualismo", que consideram pejorativo. Preferem a palavra "homossexualidade" para designar a sua condição. Dentro dessa onda de substituição de termos, "negro" é tido como ofensivo. Recomenda-se o uso de "afrodescendente". Essa censura verbal é patética. As palavras passam a ser consideradas agressivas ou discriminatórias, o que é uma bobagem. Se fosse verdade que quem usa as expressões cujo banimento é proposto demonstra desprezo pelos supostos atingidos, ao utilizar outras tidas como aceitáveis estaria, apenas, sendo hipócrita. Na verdade, a retomada da democracia, num país sufocado por séculos de autoritarismo e censura, teve um efeito libertador sobre toda a sociedade, e, particularmente, em segmentos historicamente discriminados, que passaram a ter vez e voz. Isso é ótimo. Porém, em nome de defender os direitos desses grupos não se pode partir para uma censura verbal. Considerar que chamar alguém de "negro" constitui racismo é praticar um exagero. Os homossexuais são alvo de grande preconceito, é sabido, mas mudar a palavra que define essa condição em nada altera a situação. No fundo, a postura de quem protesta contra o uso de determinadas palavras revela um sentimento de vitimização. Numa sociedade plural e democrática, o politicamente correto é uma forma de censura, o que é condenável. Com exceção dos palavrões, nenhum termo é, em princípio, ofensivo. Respeito se conquista de formas bem mais objetivas e práticas, não censurando o modo de falar das pessoas. Toda censura, feita em nome seja lá do que for, constitui uma violência. Numa sociedade plural e democrática é preciso saber conviver, sem fazer imposições ou coerções sobre o que dizem os outros.