sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O assunto do momento

Não é preciso pensar muito para perceber o tema que mais ocupou espaços na chamada "mídia" nesses primeiros dias de 2011. Os gays estão por toda a parte. No reality show "Big Brother Brasil", afora um transsexual que já foi eliminado do programa, vários outros participantes definem-se como homossexuais ou bissexuais. A atual novela das sete da Rede Globo, "Tititi", tem, entre seus personagens três homossexuais masculinos e uma feminina. A nova novela das oito da mesma Globo, "Insensato Coração", que estreou há poucos dias, promete um total de seis personagens gays durante o seu desenrolar. O programa "Amor e Sexo", em sua segunda temporada, estreou um novo quadro, o "Gayme", ou seja, um game entre gays. Ah, dirá o leitor dessas linhas, todos esses programas são popularescos, não refletem a posição da sociedade como um todo. Ah, é? Então o que dizer da nada popularesca revista "Veja" que, na edição da semana passada, ocupou o seu espaço mais nobre, as páginas amarelas, com uma entrevista com o cantor Ricky Martin falando de porque decidiu "sair do armário"? Ou da revista americana que estampou em sua capa o cantor e compositor Elton John e seu companheiro David Furnish carregando nos braços o filho do casal, concebido com o auxílio de uma barriga de aluguel? A verdade é que, depois de séculos de repressão e perseguição, sendo tachados de doentes ou de pervertidos, os homossexuais ganham cada vez mais espaço na sociedade. A Organização Mundial de Saúde já afirmou que a homossexualidade não é uma doença e o conceito de perversão também não é correto, sendo fruto apenas do obscurantismo intelectual  e  principalmente religioso. A história, ao contrário dos carros, não possui ré e não anda para trás, só para frente. Daí o porquê de a expansão do movimento de inserção dos gays na sociedade ser irreversível, independente do desconforto que isso cause em alguns. Ninguém precisa violentar os seus princípios ou revisar os seus conceitos, basta que entenda que a vida em sociedade caracteriza-se pela pluralidade de idéias, opções e comportamentos e, como tal, nela não há lugar para o radicalismo, mas, sim, para a tolerância mútua. Afinal, o sol nasce para todos.

A crise na música

A música, uma das mais ricas expressões artísticas, passa, já há alguns anos por uma crise de criatividade. Os novos nomes que vão surgindo chamam muito mais a atenção por seus comportamentos bizarros, excêntricos e escandalosos do que pela qualidade do seu trabalho. Belchior já dizia, em sua antológica composição dos anos 70 "Como nossos pais", que "nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam, não". Na falta de nomes consistentes na nova safra de cantores e compositores, apela-se para o que é bom, conhecido e garantido. Não é sem motivo que, ultimamente, discos clássicos da música brasileira e internacional venham sendo lançados em CDs remasterizados. Trata-se de algo muito bom, tanto para os velhos fãs de tais obras, quanto para possibilitar que as novas gerações as conheçam, mas evidencia, por outro lado, a pobreza da produção musical atual. Senão, vejamos. Afora a excelente Maria Gadú, que outro nome surgiu, nos últimos anos, na música brasileira, que tenha vindo para ficar? A crise é tão séria, que até Djavan, um dos melhores e mais prolíficos compositores do Brasil, resolveu, em seu mais recente lançamento, fazer um "disco de intérprete", gravando apenas criações clássicas de outros autores. No que diz respeito a onda de remasterizações, aqui e lá fora, já foram lançadas, recentemente, a obra completa dos Beatles, com grande vendagem, todos os discos da carreira solo de John Lennon, o mais bem sucedido disco solo de Paul McCartney, "Band on the Run", e coleções especiais da Editora Abril com 20 discos da carreira de Chico Buarque e 15 da de Tim Maia. No Rio Grande do Sul, o jornal Zero Hora lançou uma coleção com 25 discos que marcaram época na música brasileira, gravados nos anos 60,70 e 80. São obras de grande qualidade que todos devem conhecer, mas, paralelamente, é preciso que uma nova leva de cantores e compositores de alto nível surja, tanto no Brasil, como no exterior. Há um tempo atrás tivemos, no Brasil, o aparecimento de nomes de qualidade, hoje já passados dos 40 anos, que acabaram se tornando artistas de um público fiel, mas reduzido, como Zélia Duncan, Lenine, Zeca Baleiro, entre outros, que não alcançaram a condição estelar  da geração dos anos 60 de Gal, Bethânia, Roberto, Erasmo, Caetano, Gil, Chico Buarque e Mílton Nascimento. No exterior, nomes como Amy Winehouse, por exemplo, destacam-se muito mais pelo que aprontam fora dos estúdios e palcos, alimentando a imprensa sensacionalista, do que por gravar algo que agrade aos ouvidos. Nossos velhos ídolos da música são muito bons e sua obra é imortal, mas o show não pode parar e é preciso que surjam, logo, novos nomes capazes de nos encantar.

Carlos Alberto no Grêmio

A contratação, pelo Grêmio, do meia Carlos Alberto, que estava no Vasco, é elogiável por ter o clube trazido um jogador de grande capacidade técnica, o que pode acrescentar muito ao potencial do time. Carlos Alberto, porém, tem, nos clubes por onde passa, um comportamento conflitivo, caracterizado pelo enfrentamento com técnicos e por uma atitude, por vezes, displicente. Parece que o Grêmio está apostando que o técnico Renato seja capaz de, mais uma vez, controlar o lado mais rebelde do jogador, fazendo com que as virtudes do seu futebol fiquem em primeiro plano, tal como aconteceu com Douglas que, a exemplo de Carlos Alberto, tem muito futebol mas apresenta um temperamento difícil. Como toda a aposta, a contratação feita pelo Grêmio envolve riscos, mas o clube resolveu corrê-los tendo em vista a qualidade do jogador. Para o bem do Grêmio e de Carlos Alberto, tomara que dê certo.

Coerência e credibilidade

A revista Placar, com 41 anos de tradição na cobertura dos acontecimentos esportivos, revelou, em sua edição de fevereiro, que o seu ranking de clubes, constantemente atualizado, não levará em conta a equiparação dos títulos da Taça Brasil e do Robertão com o Campeonato Brasileiro, realizada pela CBF em dezembro de 2010. Para a revista, bem como para qualquer pessoa de bom senso, o Santos, por exemplo, continua a ter apenas dois títulos do Campeonato Brasileiro, os de 2002 e 2004, e não os oito agora atribuídos pela CBF. A publicação considera que o Flamengo possui, sim, seis títulos de campeão brasileiro, mesmo que a CBF não tenha oficializado o de 1987, mas não deixa de reconhecer, também, como campeão, o Sport, detentor do título oficial. Enfim, é uma postura coerente e equilibrada, em tudo diferente da patética entrega de medalhas a granel feita em dezembro. Como diz a própria revista em sua matéria sobre o assunto, sem falsa modéstia, Placar está na frente da CBF em qualquer ranking de credibilidade.

Fórmula Indy em Porto Alegre

O Rio Grande do Sul é um estado com muitas singularidades. Os gaúchos adoram falar de suas raízes, sua história, seus feitos. Gostam também de exaltar o que chamam de "tradicionalismo" , um culto a um passado pretensamente glorioso que mistura, como se fora tudo verdade, fatos concretos, mitos delirantes e distorções históricas. Já quando se trata de agir para impulsionar o presente e projetar o futuro, os gaúchos são bem mais reticentes. Enquanto no Rio de Janeiro e em São Paulo, os eventos e acontecimentos ocorrem de maneira febril, dando a impressão de um movimento incessante, em Porto Alegre as coisas andam em passo de tartaruga. Isso porque, fiéis ao seu gosto pela polêmica e por discutir questiúnculas em vez de se deter nos aspectos mais grandiosos de uma proposição, os gaúchos postergam ou inviabilizam projetos e iniciativas que dariam um grande impulso para que o Estado e sua capital rompessem com o seu conhecido marasmo. O projeto Cais do Porto, por exemplo, que visa a fazer do porto da capital gaúcha algo semelhante ao realizado em Buenos Aires, até hoje não saiu do papel, vitimado por disputas políticas. Agora, eis que surge a oportunidade de Porto Alegre sediar uma corrida do Campeonato de Fórmula Indy, num circuito de rua. A idéia, espetacular em todos os aspectos, logo se viu bombardeada por questionamentos quanto aos custos, uso do dinheiro público e até do porquê não realizar a prova num autódromo. Sem dúvida, é o que se pode chamar de vocação para a mediocridade. Enquanto São Paulo abraçou a proposta imediatamente, montando um circuito de rua no sambódromo do Anhembi, onde realizou a corrida já no ano passado, aqui, onde a primeira prova ocorreria em 2012, encontram-se resistências à ideía. De minha parte, não me interessa saber o montante dos custos, quanto será gasto de dinheiro público ou outros detalhes dessa natureza. O ganho para a cidade em visibilidade, em exposição internacional, será imensurável. Porto Alegre deixaria de ser uma remota capital de um estado brasileiro para, definitivamente, entrar no mapa. Isso é algo que não pode ser medido em números, daí porque minha indiferença para com os aspectos burocráticos que envolvem a realização da corrida. Não é possível que uma ideia como essa deixe de se concretizar. Se isso acontecer, o Rio Grande do Sul e Porto Alegre estarão optando, definitivamente, pelo provincianismo e pelo marasmo, condenando-se a uma rotina tediosa e exasperante, enquanto a vida pulsa em outros centros.