quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Os 50 anos do Álbum Branco

Na data de hoje, há 50 anos, os Beatles lançavam o "Álbum Branco", o único disco duplo da carreira do grupo. Ao contrário dos seus outros discos, não tinha um título, levava apenas o nome do grupo. A denominação "Álbum Branco", portanto, não é oficial, e surgiu em função do fato de que a obra tinha uma capa inteiramente branca, com o nome "The Beatles" escrito em relevo. Por essa e outras razões, é um trabalho singular na história do grupo. No ano anterior, os Beatles haviam lançado o disco "Sargent Peppers Lonely Hearts Club Band", o mais icônico do grupo, que se tornou um divisor de águas na música pop. Depois disso, eles não tinham mais nada a provar, pois já haviam vendido milhões de cópias de seus discos, e criado alguns dos maiores clássicos da música em todos os tempos. O "Álbum Branco", em função disso, foi marcado pelo despojamento. Se o "Sargent Peppers" era uma superprodução, com uma capa repleta de fotos de celebridades, o disco duplo dos Beatles se apresentava sem nenhuma ilustração. Seu processo de gravação foi acidentado. Ringo Starr e o produtor George Martin chegaram a se afastar das sessões de estúdio. O clima entre os integrantes do grupo já apresentava tensões, prenunciando que sua dissolução estava próxima. A maior parte das músicas foi composta durante o retiro espiritual que eles fizeram com o Maharish Mahesh Yoggi, uma ideia de George Harrison que foi seguida pelos demais Beatles. Em suas 31 músicas, o "Álbum Branco" apresenta um trabalho de inegável qualidade, mas sem nenhum megasucesso. O estilo próprio de compor de cada um dos componentes dos Beatles aparece de forma bem mais nítida, e até Ringo Starr estreia como autor exclusivo de uma música com "Don't Pass Me By". Nesse disco tão belo quanto despretensioso, não é fácil apontar qual a música de maior destaque. Porém, é muito provável que muitos se inclinem por escolher "While My Guitar Gently Weeps", a lindíssima composição de George Harrison que contou com um espetacular solo de guitarra de Eric Clapton não referido nos créditos do disco. O difícil é saber qual das gravações dessa música é a mais bonita, se a que tem o solo de Clapton, a acústica, só revelada ao mundo na série "Anthology", lançada nos anos 90, ou, ainda, a do musical "Love", do Cirque du Soleil", que acrescenta orquestra à versão desplugada. O "Álbum Branco", entretanto, é um passeio riquíssimo pelo talento multifacetado dos Beatles. Tem, por exemplo, Paul McCartney homenageando sua cadela de estimação em "Martha My Dear", e John Lennon soltando toda a sua raiva contra o Maharishi em "Sexy Sadie". Sem limites em sua criatividade, os Beatles passearam por outros ritmos com músicas como "Yer Blues" e até com a que seria considerada por muitos como a primeira composição heavy metal da história, "Helter Skelter". Há composições pungentes, como "Julia" que Lennon fez em referência à sua mãe. Outras são tocantes, como "Good Night", uma música de ninar composta por Lennon para seu filho Julian, e que é interpretada por Ringo no disco. Há o refrão contagiante de "Obla-di, Obla-da", composição de Paul. Enfim, é uma obra com um mosaico de músicas com o inigualável padrão Beatle. Os 50 anos do Álbum Branco estão sendo comemorados com versões remasterizadas da obra, de altíssima qualidade sonora e preço elevado. Um trabalho que merece ser revisitado por quem já o conhece, e revelado para as novas gerações.