sexta-feira, 5 de junho de 2015

Moral retrógrada

O Brasil sempre foi um país conservador, ainda que muitos propagassem a ideia de que aqui a libidinagem e a licenciosidade seriam superlativas. A nefasta influência religiosa, da  Igreja Católica, anteriormente, e dos neopentecostais, hoje em dia, levam à disseminação do falso moralismo. Paralelamente ao que vem acontecendo no campo político, com alguns anencéfalos propugnando a volta da ditadura, na área dos costumes há quem ensaie andar para trás. A polêmica envolvendo a novela "Babilônia", da Rede Globo, é um exemplo disso. A novela não conseguiu emplacar na audiência, por mais modificações que seus autores façam nos rumos da história, a partir do que é extraído dos chamados "grupos de estudo". Muitos personagens foram totalmente esvaziados, pois sofreram rejeição dos tais grupos. As pessoas consultadas se opuseram a papéis como o de um jovem proxeneta, uma garota de programa e o de um viúvo que "sai do armário" e assume um romance com um jovem. Ao mesmo tempo, assassinatos a sangue frio, negociatas políticas e outras práticas repulsivas parecem não incomodar o público. O beijo lésbico entre duas senhoras, no início da novela gerou uma tal rejeição que parece ter selado a sorte de "Babilônia" de maneira irrecorrível. Ouvidos a respeito, um dos autores, Gilberto Braga, e o diretor geral, Dênis Carvalho, identificaram uma onda de "caretice" que toma conta do país, a ponto de tornar inaceitáveis pelo público situações que em décadas anteriores eram bem toleradas. Não há lógica nesse comportamento. Assim como não é possível aceitar a volta do autoritarismo, também a imposição de uma moral retrógrada tem de ser amplamente rechaçada. O Brasil não pode se deixar dominar pelos defensores do retrocesso. Os grandes avanços obtidos nos últimos anos no campo do comportamento e do combate aos preconceitos não podem se perder. Os autores da novela, ao reescreverem vários capítulos e modificarem o perfil de alguns personagens, descaracterizaram sua obra e cederam à pressão de grupos conservadores. Não deveriam tê-lo feito. Os conservadores são muito barulhentos, mas não são tão poderosos quanto querem fazer crer. O correto é enfrentá-los de peito aberto, mostrando que a sociedade não vai voltar atrás em suas conquistas para atender aos seus caprichos.