Mudança deletéria

Um movimento articulado por acadêmicos e políticos visa restituir ao Rio de Janeiro a condição de capital federal, mesmo que de maneira conjunta com Brasília, de forma semelhante ao que ocorre em determinados países. A alegação é a de que a cidade sofreu muitos prejuízos com a perda do seu atributo de capital do país. Há, inclusive, quem defenda que o Rio de Janeiro deva ser ressarcido financeiramente por parte da União pelos efeitos econômicos da destituição. A chance de sucesso de tais proposições é baixa, mas a discussão do assunto é válida. A troca da capital do país foi uma mudança deletéria, cujos danos se fazem sentir até hoje, mais de seis décadas depois. A justificativa, dada por muitos, de que a alteração era suscitada desde o século XVIII como forma de favorecer a ocupação do interior do país, até então quase desabitado, é frágil, pois isso poderia ser feito de outros modos sem uma medida tão radical. Na verdade, a intenção de levar a capital do país para uma região tão distante dos grandes centros foi a de fugir da pressào popular, facilitando o exercício de administrações elitistas e demofóbicas. A construção de Brasília foi muito dispendiosa, e gerou uma cidade artificial e inóspita. O Rio de Janeiro sempre foi a melhor traduçào da brasilidade, a cidade referência do país, tanto interna quanto externamente. Por isso, jamais poderia deixar de ser sua capital. Não foram só os cariocas que perderam com a troca, mas todos os brasileiros.