quarta-feira, 30 de março de 2011

Cumprindo tabela

O Inter, na noite de quarta-feira, nada mais fez do que cumprir tabela. No linguajar do futebol é o que se costuma chamar de "jogo jogado". Não havia nenhum resultado possível que não fosse a vitória do Inter sobre um adversário ao qual já havia goleado, fora de casa, por 4 x 1. Um adversário tão modesto que foi rebaixado para a segunda divisão do futebol boliviano! Tão precário é o Jorge Wilstermann, atualmente, que ficou hospedado nos alojamentos do Pedra Branca, de Alvorada, para economizar gastos com hotel. Assim, o Inter goleou novamente o Jorge Wilstermann, dessa vez por 3 x 0. O jogo não pode servir para que se tire nenhuma conclusão sobre a verdadeira potencialidade do Inter, dada a limitação técnica do adversário. Só quando enfrentar times mais qualificados se poderá saber até onde o Inter tem condições de chegar.

Inadmissível

Foi o próprio técnico do Grêmio, Renato, que definiu como inadmissível a forma como o time perdeu para o Juventude, na noite de quarta-feira. O Grêmio terminou o primeiro tempo vencendo por 1 x 0. Sofreu o empate no início do segundo tempo, passou novamente a frente no placar, ficou com um homem a mais em campo devido a expulsão de um jogador do Juventude, passou a dominar inteiramente o jogo e perdeu dois gols feitos. Esse fato, o das chances claras de gol desperdiçadas, pareciam prenunciar que algo de ruim poderia acontecer. Como também disse Renato, o futebol pune quem tem a chance de liquidar um jogo e a desperdiça. No final do jogo, o Grêmio não só não ampliou o resultado, como permitiu a virada do Juventude. Primeiro, com um patético gol contra de Gílson. Depois, com uma bola perdida na saída da defesa, que redundou num chute forte de fora da área, pegando Vítor adiantado. Renato deveria, no entanto, assumir a sua parcela de culpa pelo resultado, pois insiste em escalar Gílson, que além de não jogar bem até fez um gol contra, e escalou Neuton, de péssima atuação, quando deveria ter optado por Mário Fernandes. A insistência com Gílson é incompreensível, já que há a opção de Bruno Collaço ou, até mesmo, a de fazer Lúcio retornar a sua posição de origem. Já quanto a Mário Fernandes, além de ser tecnicamente muito superior a Neuton, sua escalação permitiria que Rafael Marques passasse para o lado esquerdo da zaga, sua verdadeira posição. O fato é que a derrota para o Juventude já é a terceira do Grêmio no Campeonato Gaúcho. As outras duas foram para o Novo Hamburgo e para o Cruzeiro. Em todas elas, o time apresentou um comportamento em campo incompatível com a grandeza do clube. Contra o Novo Hamburgo, no dizer de seu próprio técnico, o Grêmio parecia estar passeando em campo. Na partida contra o Cruzeiro, com um time jovem, correu menos que o adversário, que havia jogado 48 horas antes. Já no jogo contra o Juventude, tendo um homem a mais em campo, deixou de obter uma goleada que se desenhava e permitiu a virada do adversário. Junte-se a isso a derrota, também de virada, para o Atlético Junior de Barranquilla, na Colômbia e o empate medíocre com o León, em Huánaco, no Peru, e se tem um conjunto de atuações preocupantes, que não sinalizam um futuro promissor. Está mais do que na hora de a diretoria do Grêmio cobrar do técnico e dos jogadores a razão de tão seguidos maus desempenhos. Antes que seja tarde demais.

Muitos queriam Adriano

O sempre polêmico centroavante Adriano é outro que está de volta ao futebol brasileiro, contratado pelo Corinthians. Nos últimos anos, sua carreira tem tido altos e baixos devido a seu comportamento fora de campo e a problemas emocionais. No seu clube anterior, o Roma, teve uma péssima passagem, de apenas oito meses, na qual pouco jogou e não marcou nenhum gol, o que culminou com a rescisão de seu contrato. Isso não desestimulou, no entanto, a que vários clubes brasileiros tentassem a sua contratação, conforme revelou seu ex-empresário, Gilmar Rinaldi. Grêmio, Fluminense, Vasco, Atlético Mineiro e Cruzeiro sondaram Rinaldi sobre a possibilidade de contratar Adriano. O empresário recusava as investidas afirmando que Adriano não estava pronto para voltar. Ocorre que, segundo Rinaldi, o ex-jogador Ronaldo Nazário, sem entrar em contato com ele, encaminhou a ida de Adriano para o Corinthians. Gilmar Rinaldi, mostrando-se magoado com a atitude de Ronaldo, deixou de representar Adriano, mas lembrou que, antes do jogador está o ser humano, que precisa completar o seu processo de recuperação física e que a torcida do Corinthians deve levar isso em consideração. Um fato, no entanto, chamou a atenção no relato de Rinaldi. As sondagens que o empresário recebia sobre Adriano partiam sempre de dirigentes, gerentes ou patrocinadores dos clubes. Só no caso do Grêmio ela foi feita diretamente pelo técnico Renato. Mais um dado para alimentar a idéia, sustentada por muitos, de que o poder de Renato, no Grêmio, vai muito além das quatro linhas do gramado.

Recepção apoteótica

O centroavante Luís Fabiano, que voltou para o São Paulo após jogar sete anos na Europa, foi recebido de forma apoteótica no Morumbi, onde 45 mil pessoas aguardavam a sua presença. Trata-se, sem dúvida, de um grande reforço contratado pelo clube, mas chama a atenção um número tão grande de torcedores para assistir apenas a sua chegada, sem que houvesse um jogo a ser realizado. Luís Fabiano é um jogador de qualidade, mas não é um craque de exceção, capaz de justificar tamanha mobilização popular. Mais que o entusiasmo natural de uma torcida pela volta de um ídolo, a recepção dada a Luís Fabiano em sua chegada talvez demonstre o quão carentes estão as pessoas de obterem emoção e satisfação em suas vidas, em geral marcadas pelas dificuldades e falta de perspectivas. O fato reforça, mais uma vez, a capacidade que tem o futebol de canalizar expectativas e aspirações e de mobilizar intensamente as pessoas. Os maís críticos dirão que isso é alienante, que tamanha energia deveria ser empregada em favor de coisas mais consequentes. Porém, ao se envolverem a tal ponto com seus clubes e ídolos, os torcedores só estão em busca, ainda que por via indireta, daquilo que a vida insiste em negar para a maioria, ou seja, a perspectiva da vitória, da glória e a consequente sensação de realização.