sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Um país tomado pelo luto

O ano de 2019 está somente começando, são apenas 39 dias transcorridos. Porém, num período de tempo tão exíguo, o Brasil tornou-se um país tomado pelo luto. Tudo começou com o crime ambiental de Brumadinho (MG), com mais de cem vítimas. Prosseguiu com o temporal no Rio de Janeiro, dois dias atrás, que deixou seis vítimas fatais e um rastro de destruição. Hoje, o país amanheceu com a notícia de que dez jovens das categorias inferiores do Flamengo, morreram num incêndio em alojamentos do "Ninho do Urubu", o centro de treinamento do clube. Se a dor da perda de vidas é comum aos três episódios, na essência eles diferem entre si. O único dos três casos que pode ser considerado uma fatalidade é o do temporal no Rio de Janeiro. Afinal, temporais são manifestações da natureza, ainda que suas consequências sejam maiores quando há omissão do poder público nas medidas preventivas. O rompimento da barragem em Brumadinho é um crime ambiental dos mais abjetos, cuja responsabilidade é da mineradora Vale. O ocorrido, hoje, no "Ninho do Urubu", não é uma fatalidade, nem um crime, mas o resultado do provisório cuja temporariedade vai se prolongando. Os alojamentos consumidos pelo incêndio eram estruturas provisórias, ainda que dotadas de conforto, montadas sobre contêineres. Eles eram utilizados desde 2014, inicialmente pelo grupo de profissionais. Com o avanço das obras do centro de treinamento, os profissionais foram transferidos para alojamentos definitivos e de alto padrão. Os contêineres, então, foram reservados para os jovens das categorias inferiores. Na próxima semana, também eles irão para alojamentos mais estruturados. Os dez garotos que perderam a vida em meio ao fogo, no entanto, não irão usufruir das novas instalações. Eles foram vítimas do descaso que permitiu ao Flamengo fazer uso dos contêineres sem alvará de funcionamento, nem plano de combate a incêndio. Os sonhos de meninos pobres, que vêem no futebol seu único meio de ascensão social, foram ceifados pela desídia dos que dirigem um dos maiores clubes do país, combinada com a omissão dos agentes públicos. Em todos esses casos, a corda sempre rebenta do lado mais fraco, ou seja, o dos mais pobres. No rompimento da barragem, com a morte de operários da mineradora e de trabalhadores humildes da região. No temporal, com as perdas, humanas e materiais, dos moradores de morros e encostas, os mais expostos nessas situações. Por fim, no incêndio, com a abrupta interrupção da trajetória de vida de jovens pobres em busca de um futuro melhor. O Brasil, em outros tempos um país marcado pela descontração e expansividade de seu povo, agora chora mortos em sequência. São apenas 39 dias, e 2019 já parece interminável.