sexta-feira, 2 de maio de 2014

Modernizações

Vivemos numa época de acelerado avanço tecnológico, em que a obsolescência de tendências, posturas, comportamentos e modismos é constante. Para a chamada "indústria cultural", isso é uma fonte de permanente preocupação. Afinal, no contexto capitalista e consumista, tudo é submetido a uma lógica de mercado. Jornais, emissoras de rádio e tv, sites de internet, e toda e qualquer forma de difusão da informação, são reféns da busca por vendagens, audiência, número de visualizações. Dentro dessa linha de pensamento, é preciso identificar o que o público quer e, principalmente, o que ele rejeita. Num tempo em que o áudio-visual sobrepuja a palavra escrita, temos uma evidente prevalência da forma sobre o conteúdo. O importante não é o que se informa, mas, sim, de que isso seja feito de um modo "atrativo". Os jornais e revistas, particularmente, enfrentam dificuldades, já que o interesse pela leitura vem decaindo. Para que ainda consigam atrair leitores, tais veículos apostam em constantes modernizações em seu aspecto visual. A intenção declarada é tornar a leitura mais agradável e fácil, com uma diagramação mais leve e atraente. Em geral, no entanto, o que se vê é que, a cada reformulação do gênero, o volume de informações parece se tornar mais escasso, e o conteúdo do que é transmitido fica mais ralo. A recente reformulação gráfica de um jornal de Porto Alegre confirma essa impressão. O jornal apostou numa simplificação visual que o tornasse mais sedutor aos olhos do leitor. Não há como negar que, na forma, a publicação rejuvenesceu. O que não chega a ser tão meritório. Jornais impressos, por natureza, são mesmo um tanto sisudos, e uma certa imponência, nesse caso, é muito mais virtude do que defeito. Porém, como a superficialidade é uma característica dos tempos atuais, os proprietários de jornais querem adequá-los ao gosto do público, para que sejam comercialmente viáveis. Assim, voltando ao exemplo do rejuvenescido jornal de Porto Alegre, ele se tornou menos "pesado" visualmente. O problema é que, em termos de conteúdo, ele também perdeu peso. Ha pouca informação, ou seja, é, incrivelmente, um jornal para quem não gosta de ler. Sem dúvida, um dado emblemático dos tempos atuais, em que a comunicação de massas, em vez de esclarecer e promover o desenvolvimento do senso crítico do público, colabora para o seu empobrecimento cultural e intelectual..