segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Provincianismo

A discussão em torno das reformas no estádio Beira-Rio, visando sua utilização na Copa do Mundo de 2014, está tomada pelo mais patético e absurdo provincianismo. Pessoas identificadas com o Internacional, proprietário do estádio, defendem que o clube deveria desistir de sediar jogos da Copa, para não comprometer seu futuro. Num acesso enlouquecido do bairrismo mais retrógrado, tais pessoas vociferam contra a FIFA, tida como uma entidade maligna que quer prejudicar o clube. Tudo porque a instituição que rege o futebol mundial quer que o Inter apresente garantias bancárias para a realização das obras ou, em caso contrário, associe-se a uma construtora para levá-las a efeito. O Inter não conseguiu as garantias bancárias, mas também não quer se associar a uma construtora, pois isso implicaria numa cessão de direitos sobre o estádio por cerca de dezoito anos, o que o clube não deseja. Ora, na vida, a banca paga e recebe. O Inter quer ter o privilégio de seu estádio ser utilizado para a Copa, sem que isso implique em nenhum ônus. Na verdade, a FIFA, ao menos nessa história, nada tem de vilã. Foi o Brasil que se candidatou a sediar a Copa de 2014 e que arrolou o Beira-Rio como um dos estádios para a competição. Todos sabem que os países, uma vez escolhidos para sediar uma Copa do Mundo, tem de obedecer a um caderno de encargos estabelecido pela FIFA com normas muito rígidas. É o preço que se paga pelo privilégio de sediar uma competição de tal magnitude. Acreditar que seja possível preparar um estádio para a Copa unicamente com recursos próprios, sem apresentar garantias e sem se associar a uma construtora é algo da mais rematada estupidez. O discurso de que o clube deve mandar a FIFA às favas, realizando obras apenas para o conforto do seu torcedor e abrindo mão da Copa, é de estarrecer pelo que contém de mediocridade, primitivismo, estreiteza mental e xenofobia. É mais uma daquelas lamentáveis pregações de um Rio Grande do Sul que se basta, que vê o resto do mundo com desprezo, que se fecha no culto a si próprio, voltado para o próprio umbigo, revelando-se, com tal postura, atrasado e tacanho. Em todos os lugares do mundo, os novos estádios surgem em associações com as construtoras ou grandes empresas de outros ramos. É o caso do Alianz Arena, na Alemanha, e do Emirates Stadium, na Inglaterra. Clube algum do mundo consegue, hoje em dia, erguer um estádio às próprias expensas. O tempo dos estádios erguidos com tijolos doados pelos torcedores foi bonito, mas já passou e não volta mais. O discurso da soberania colorada apenas expõe o clube e o Rio Grande do Sul, por extensão, ao ridículo. As exigências da FIFA são adequadas ao porte de uma competição como a Copa do Mundo. Não são para serem discutidas. São para serem cumpridas e ponto final.

Premiação previsível

A festa da entrega do Oscar não apresentou surpresas no que diz respeito aos premiados, já que todos os favoritos foram agraciados. O que é bom, pois, nesse caso, surpresas se configurariam em injustiças. Para quem quer que tenha assistido aos filmes concorrentes, não resta dúvida de que venceu quem merecia. O melhor ator coadjuvante, Christian Bale, teve uma atuação memorável em "O Vencedor". John Hawkes, por "Inverno da Alma", faz jus a uma menção honrosa por seu magnífico desempenho, mas a vitória de Bale foi o resultado mais justo. O mesmo se aplica a melhor atriz coadjuvante, Melissa Leo, também de "O Vencedor". Seu Oscar foi justíssimo, embora Amy Adams, outra do elenco de "O Vencedor", também tenha tido excelente atuação. O Oscar de melhor atriz, para Natalie Portmann, premia um trabalho notável, que se situa acima do próprio filme. "Cisne Negro" é um filme de difícil assimilação, mas Natalie rouba a cena com sua personagem reprimida e enlouquecida. Anette Bening, em "Minhas mães e meu pai", tem um grande desempenho, mas nada que se aproxime da atuação de Natalie Portmann. O Oscar de melhor ator, para Colin Firth, era ainda mais previsível. Nenhum dos outros indicados teve uma atuação que se aproximasse da sua em "O Discurso do Rei". Aliás, "O Discurso do Rei", também ganhou os prêmios de melhor diretor, para Tom Hooper, e melhor filme. Justo reconhecimento a um filme envolvente, de excelente reconstituição de época e de grandes atuações do elenco. Não houve, dessa vez, um filme que colecionasse vários prêmios, mas sim, uma divisão relativamente equilibrada entre os indicados, o que demonstra uma safra de produções de boa qualidade. Porém, ao ganhar três dos quatro prêmios mais importantes, "O Discurso do Rei" tornou-se o grande vencedor da noite. Merecidamente.

A demissão de Adílson Batista

Depois de treinar o time por apenas 11 jogos, o técnico Adílson Batista foi demitido pelo Santos. Adílson já tinha tido, em 2010, uma curta e fracassada passagem por outro grande clube brasileiro, o Corinthians. Vai ser difícil que, depois de dois insucessos consecutivos, o técnico continue a ser cortejado pelos grandes clubes. Adílson foi, como jogador, um grande zagueiro e um líder. No Grêmio, ficou conhecido como o "Capitão América", por ter sido o capitão do time que conquistou a Taça Libertadores da América de 1995, a segunda da história do clube. Porém, como técnico, até hoje, não se afirmou, o que dificilmente conseguirá. O próprio Grêmio foi o seu primeiro grande clube na função e seu desempenho esteve longe de ser bom. Com Adílson, o Grêmio escapou do rebaixamento no Campeonato Brasileiro de 2003 na última rodada. Em 2004, o clube foi eliminado pela Ulbra nas semifinais do Campeonato Gaúcho, o que ocasionou a saída do técnico. A melhor passagem de Adílson como técnico foi no Cruzeiro, onde permaneceu por cerca de dois anos. O técnico montou um time qualificado no clube mineiro, mas, nem mesmo lá, deixou de sofrer contestações. A torcida não o suportava e Adílson nada mais conseguiu além de títulos estaduais, tendo perdido uma Libertadores, para o Estudiantes de La Plata, cujo jogo decisivo foi no Mineirão. Escrevi, acima, que Adílson dificilmente se afirmará como técnico e, agora, explico o porquê. Trata-se de um técnico que reúne características comuns a outros profissionais da área que também colecionam insucessos. Tais características são a teimosia, afrontando o senso comum, o invencionismo, que resulta na adoção de esquemas táticos estapafúrdios, a preterição de jogadores mais qualificados por outros menos dotados, o mau humor e a impaciência no trato com a imprensa,, pela qual se julgam perseguidos. Alguém notou a semelhança dessas descrições com figuras como Celso Roth e Dunga? Pois é, não se trata de uma mera coincidência. Todos os três tem em comum serem considerados sérios e dedicados, fazem boas campanhas, mas não chegam a lugar algum. Não vale argumentar que Roth foi campeão da Libertadores pelo Inter, em 2010, pois só treinou o time nos quatro jogos finais. No Campeonato Brasileiro e no Mundial de Clubes, quando deveria confirmar seu trabalho, fracassou rotundamente. Dunga, por sua vez, pela Seleção Brasileira, seu único trabalho como técnico até hoje, fez excelente campanha nas eliminatórias e em competições como a Copa América e a Copa das Confederações, mas fracassou nas que realmente interessavam, as Olimpíadas e a Copa do Mundo. Adílson, Roth e Dunga são resultado da excessiva valorização que foi dada aos técnicos de futebol nos últimos anos. Durante décadas absolutamente secundários em relação aos jogadores, os técnicos passaram, de uma para a outra, a serem considerados gênios da estratégia. Isso foi bom para os seus bolsos, dada a valorização salarial que tiveram, mas não foi nada benéfico para o futebol. Um bom técnico nada mais deve ser do que um facilitador para que o time renda o máximo do seu potencial, não deve contrariar o senso coletivo, remando contra a maré. Não deve, também, bolar esquemas demasiado engenhosos, nem alterar a escalação a cada jogo. Deve fazer o mais simples, definir e fixar uma escalação e ter a consciência de que as verdadeiras estrelas são os jogadores. Infelizmente, grande parte dos técnicos de hoje não age assim. Encerro com uma história envolvendo o próprio Adílson Batista, quando técnico do Grêmio, para exemplificar o quão equivocada pode ser a postura de alguns técnicos. O relato foi feito pelo ex-dirigente do Grêmio, Carlos Josias, num programa de rádio. Diante da lesão de um titular, que o tirava do próximo jogo, todos esperavam que Adílson escalasse o seu reserva imediato. O técnico, no entanto, preferiu fazer uma improvisação, o que resultava numa mexida em outras posições do time, alterando sua estrutura. Espantado com a informação, Carlos Josias se dirigiu ao técnico e lhe perguntou se não seria mais lógico simplesmente colocar, no lugar do jogador lesionado, o seu substituto natural. Adílson concordou que sim, dizendo que isso era o óbvio que qualquer um faria se estivesse em seu lugar. Porém, acrescentou que, em seu trabalho, não se propunha a fazer o óbvio. Por atitudes como essa é fácil entender por que Adílson se indispõe com a torcida em todos os clubes nos quais trabalha e não consegue se tornar um técnico vencedor.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Enxurrada de competições

Sempre me opus aos que entendem que o Brasil não tem condições de sediar grandes competições esportivas, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. São muitas as pessoas que defendem esse ponto de vista, alegando que o país tem inúmeras prioridades a atender, antes de pensar em sediar tais eventos. Argumentam, também, que, pelas várias obras que exigem para a sua realização, tais acontecimentos esportivos abrem as portas para a corrupção, o superfaturamento e o enriquecimento ilícito. Ora, tais desvios éticos são permanentes no Brasil, com ou sem eventos esportivos. Além disso, é inconcebível que um país como o México, em tudo semelhante ao Brasil no que tange às suas mazelas, tenha, num espaço de apenas dezoito anos, entre 1968 e 1986, sediado duas Copas do Mundo, uma Olímpiada e uma edição dos Jogos Pan-americanos e o Brasil, de muito maior expressão no esporte, principalmente no futebol, não possa fazer o mesmo. No entanto, não se deve pecar nem pela escassez, nem pelo excesso. O Brasil que, ate pouco tempo, tinha apenas sediado a Copa do Mundo de 1950 e os Jogos Pan-Americanos de 1963, dentre as grandes competições internacionais, passará agora por uma enxurrada de torneios esportivos. Depois de sediar pela segunda vez o Pan, em 2007, o Brasil será local de competições por quatro anos consecutivos. A série começará, em 2013, com a Copa das Confederações. Em 2014 será a vez da Copa do Mundo. Em 2015, haverá a Copa América. Finalmente, em 2016, acontecerão as Olímpiadas. Será que tantas competições sucessivas não irão gerar uma saturação? Uma Copa América realizada no país um ano depois da Copa do Mundo conseguirá motivar o torcedor brasileiro? A infra-estrutura e a logística não serão demasiadamente exigidas para atender tal calendario de eventos? São reflexões que se fazem necessárias. Se antes as grandes competições não vinham para cá, o que, no meu entender, não era justo, agora correm o risco de se banalizarem, pela realização em série. Convém repensar o assunto, enquanto ainda há tempo.

Deu a lógica

A lógica se impôs nos jogos pelas semifinais do primeiro turno do Campeonato Gaúcho. Grêmio e Caxias, donos das melhores campanhas da competição e que jogaram em casa, eliminaram Cruzeiro e São José, respectivamente, e irão decidir a Taça Piratini. Porém, tais classificações não vieram sem alguns sobressaltos. O Grêmio sofreu dois gols e enfrentou um adversário que buscou permanentemente o resultado, sem esmorecer. O Caxias, depois de fazer um gol no início do jogo, cedeu o empate no final e precisou passar pela angustiante cobrança de tiros livres da marca do pênalti. Ao fim e ao cabo, no entanto, classificaram-se os favoritos que, agora, decidirão o primeiro turno do Gauchão no Olímpico, na quarta-feira de Cinzas. O Grêmio, por jogar em casa, ter mais tradição e um time mais qualificado, surge, desde já, como o favorito para a decisão.

Moacyr Scliar

A morte de Moacyr Scliar priva-nos, a um só tempo, de um grande escritor e de um notável ser humano. Scliar foi um escritor prolífico, autor de mais de setenta livros. Sua obra primou, também, pela qualidade, o que o levou, além dos prêmio literários obtidos, a tornar-se um "imortal" da Academia Brasileira de Letras. Homem afável, extremamente gentil no trato com as pessoas, Scliar era muito apegado às suas origens. Porto-alegrense de nascimento, permaneceu residindo em sua terra natal, não realizando o êxodo, tão comum em escritores do seu nível, para o centro do país. O Bom Fim, bairro em que se criou, era uma referência constante em seus escritos. Homem pouco dado a paixões avassaladoras, mantinha uma relação distante com o futebol, mas fazia questão de revelar ser um torcedor do Cruzeiro, de Porto Alegre, clube que, em 2011, volta a ter destaque no cenário esportivo do Rio Grande do Sul, retornando à primeira divisão, da qual esteve ausente por 33 anos. Era, também, um praticante do basquete. Particularmente, sentirei muita falta de sua crônica dominical no jornal Zero Hora, leitura que, para mim, era obrigatória. Enfim, Moacyr Scliar se foi, pois da morte ninguém escapa. Porém, como "imortal" da ABL que é, sua obra permanecerá.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Jogo de interesses

Um repórter esportivo de Porto Alegre costuma dizer que o futebol é um bang-bang sem mocinho. A atual crise envolvendo o Clube dos 13, grandes clubes brasileiros e as redes de televisão em função dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de 2012 a 2014 é uma prova disso. Não há inocentes nessa história, que envolve interesses milionários. O Clube dos 13, que desde sua criação, em 1987, contribuiu decisivamente para que os clubes ganhassem cada vez mais dinheiro com a venda dos direitos de transmissão do Brasileirão, ameaça implodir. O Corinthians anunciou sua saída do orgão, os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro anunciaram uma ruptura parcial e até o Grêmio, clube de origem do presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, estaria pensando em abandonar o barco. O triste disso tudo é que tais fatos se dão não pela busca de ideais ou defesas de princípios, mas sim, por interesses financeiros e buscas de vantagens. No caso do Corinthians e dos quatro grandes do Rio de Janeiro, o que se quer é uma fatia maior do montante dos direitos de transmissão. No caso do Grêmio, poderia ser uma retaliação do presidente Paulo Odone contra Fábio Koff, que apoiou a oposição contra o candidato de Odone na eleição para presidente do clube, em 2008. Além disso, é evidente a aproximação de Odone com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, inimigo de Koff, tanto que o presidente do Grêmio chefiou a delegação da Seleção Brasileira no recente amistoso contra a França. Como consequência disso, Odone poderá conseguir que a CBF destitua o Beira-Rio da condição de estádio de Porto Alegre para a Copa do Mundo de 2014, passando a atribuição para o novo estádio do Grêmio, que está sendo construído. No meio disso tudo, a poderosa Rede Globo também mexe os seus pauzinhos e sonha com a volta do Campeonato Brasileiro com a fórmula de mata-mata, o que se constituiria num retrocesso absurdo, já que o sistema de pontos corridos é o que de melhor aconteceu no futebol brasileiro em muitos anos. Como se vê, não há nada de nobre em todas essas movimentações de bastidores. O melhor do futebol brasileiro continua sendo visto dentro de campo. Fora dele, é um espetáculo pouco indicado para estômagos sensíveis.

Uma data para ser lembrada

No dia de hoje, 25 de fevereiro, George Harrison, se vivo estivesse, estaria completando 68 anos. Guitarrista e compositor talentoso, George, no entanto, sempre se viu ofuscado, nos Beatles, pelas figuras míticas de John Lennon e Paul McCartney, o que fazia com que seu valor parecesse menor do que era na realidade. Num texto anterior que escrevi nesse blog, referi o fato de que o próprio Paul, em sua recente passagem pelo Brasil, admitiu que, como músico, George era o melhor dos Beatles. No livro "1000 discos que você precisa ouvir antes de morrer", na resenha referente ao seu álbum triplo "All Things Must Pass", o texto diz se tratar de um dos dois ou três melhores discos solo de um Beatle. É o único disco de George listado no livro, enquanto John e Paul tiveram mais de um. Pois me atrevo a dizer, conhecendo a obra de todos eles, que "All Things Must Pass" é não um dos melhores, mas sim, o melhor disco solo de um Beatle. Discos como "Imagine", de John, e "Band on The Run", de Paul, por exemplo, são ótimos, mas, no meu entender, inferiores ao disco de George. Dessa forma, é incompreensível que as seções de datas dos jornais não refiram a passagem do dia de seu nascimento e de sua morte. Em 2010, os 70 anos de nascimento de John Lennon e os trinta anos de sua morte foram muito lembrados. Os 70 anos de Paul McCartney, a serem completados em 18 de junho de 2012, certamente serão muito festejados. Será que os dez anos da morte de George, em 29 de novembro de 2011, e os 70 anos de seu nascimento, em 25 de fevereiro de 2013, vão passar em brancas nuvens? Esperemos que não. Seria uma enorme injustiça. Encerro esse texto simplesmente dizendo: "Thank you, George".

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Coisas do Brasil

Tem coisas que, decididamente, só acontecem no Brasil. Em mais uma prova da tolerância do país para com a corrupção e os desmandos do poder instituído, Fernando Collor de Mello, que foi deposto do cargo de presidente da República em 1992, recuperou seus direitos políticos anos mais tarde e, atualmente, é senador. O mais incrível é que Collor acaba de ser escolhido para ser o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado. Nos últimos dois anos, já havia presidido a Comissão de Infraestrutura, que fiscaliza as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Trata-se de um escárnio. Collor não poderia ter tidos seus direitos políticos restituídos. Deveria ter sido banido da vida pública. Não foi e, o que é pior, tornou-se presidente de comissões importantes do Senado. Os caras-pintadas deveriam voltar para as ruas, desta vez vestidos de palhaços, que é a condição a que os políticos reduzem todos os cidadãos brasileiros.

Libertadores

Com exceção do Santos, todos os demais clubes brasileiros fizeram essa semana o seu segundo jogo pela Libertadores. O pior resultado foi o do Fluminense. Empatou o segundo jogo consecutivo dentro de casa, desperdiçando enorme oportunidade de acumular pontos e, agora, já é o terceiro colocado do seu grupo, fora, portanto, da zona de classificação. O Cruzeiro fez o contrário, isto é, aproveitou os dois jogos seguidos em casa e ganhou ambos por goleada, encaminhando sua classificação. Grêmio e Inter viveram situações bem distintas. O Inter jogou em casa contra um adversário fraco, o Jaguares, atualmente na lanterna do Campeonato Mexicano. Dessa forma, mesmo jogando mal e concedendo a posse de bola para o adversário, goleou por 4 x 0. Apesar da vitória, ficou a impressão de que será preciso muito mais futebol para alimentar pretensões de título. Já o Grêmio apresentou uma atuação de altos e baixos e acabou derrotado, fora de casa, pelo Atlético Junior de Barranquilla, da Colômbia. O Grêmio começou melhor, marcando o adversário na saída de bola. Com isso, conseguiu abrir o marcador aos 4 minutos. Porém, a partir dos 25 minutos de jogo recuou, sofreu o gol de empate e foi dominado até o final do primeiro tempo. O segundo tempo começou com o Grêmio melhor, tendo a posse de bola e contendo o adversário. No entanto, mesmo dominando, o Grêmio não chutava a gol. Para piorar, numa cobrança de escanteio, uma falha da defesa permitiu o gol da virada. O resultado, em si, não deverá trazer maiores prejuízos ao Grêmio, que irá se classificar com facilidade, resta saber se em primeiro ou segundo lugar. Alguns pontos, entretanto, terão de ser observados pelo técnico do Grêmio, Renato Portaluppi, visando os jogos futuros. Carlos Alberto não dá nenhuma contribuição para o time e não pode continuar a ser escalado pelo nome ou por ser uma indicação do técnico. Gílson fez, pela enésima vez, uma partida horrorosa, sendo uma verdadeira avenida por onde o Grêmio foi atacado o tempo inteiro. Sua contratação em definitivo, efetuada essa semana, soa como algo incompreensível, e é outro jogador que está se valendo do fato de ser uma indicação do técnico para se manter como titular. Apesar de todos os erros do próprio Grêmio, é preciso dizer que o resultado também teve a influência da arbitragem. O árbitro mexicano Marco Rodriguez, que já apitou até em Copa do Mundo, mostrou-se localista durante todo o jogo, deixou de marcar um pênalti sobre Borges e deu apenas um minuto e meio de acréscimo. Já em termos da participação dos clubes brasileiros, como um todo,  na Libertadores, pode-se dizer, até aqui, que só o Fluminense corre riscos. Os demais deverão se classificar sem sobressaltos.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A taça das bolinhas

A CBF, nos últimos meses, tem se mantido muito ocupada com o exame da legitimidade de títulos obtidos por clubes brasileiros no passado e equiparando as antigas competições de cunho nacional com o atual Campeonato Brasileiro. Se, em dezembro último, a confederação meteu os pés pelas mãos ao igualar os títulos da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa com o do Brasileirão, numa decisão absurda e injusta, dessa vez, ao reconhecer o Flamengo como campeão brasileiro de 1987, acertou plenamente. O Sport Recife não teve o seu título cassado e, agora, divide com o Flamengo a condição de campeão brasileiro daquele ano. Já não era sem tempo! O Flamengo foi o justo e merecido campeão de uma competição que reuniu os doze maiores clubes do país e ainda teve a participação de Bahia, Coritiba, Goiás e Santa Cruz, num total de dezesseis disputantes. O não reconhecimento do título do Flamengo era uma atitude birrenta e prepotente da CBF, agora sensatamente revogada. Pena que a medida tenha sido tomada dias após a Caixa Econômica Federal ter entregado a chamada "taça das bolinhas" para o São Paulo que, até então, era, do ponto de vista oficial, o primeiro clube a ter conquistado cinco títulos de campeão brasileiro. A taça caberia, em definitivo, ao primeiro clube que conquistasse o título do Brasileirão três vezes consecutivas ou cinco alternadas. Com a nova decisão, quem ostenta essa primazia agora é o Flamengo, que também se iguala ao São Paulo na condição de clube com seis títulos do Brasileirão. Teremos, assim, uma nova pendenga judicial pela posse da taça. Os são-paulinos, em particular, e os anti-flamenguistas, como um todo, podem não concordar, mas finalmente se fez justiça. Injunções de bastidores não podem modificar o que foi estabelecido, legitimamente, dentro do campo. Sem temor de expor minha opinião, acrescento ainda que a decisão de colocar o Sport como co-campeão é apenas um artifício para tornar a medida menos polêmica. Para quem analisa o futebol com seriedade e levando em conta apenas os fatos de campo, o Flamengo é o único e legítimo campeão brasileiro de 1987. O Sport ganhou uma competição que equivaleria ao atual Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Maré de azar

A sucessão de notícias ruins no Inter parece não parar. Depois dos últimos dias turbulentos devido aos maus resultados de campo, seu principal jogador, o argentino D 'Alessandro, sofreu uma lesão em um treino e desfalcará o time contra o Jaguares, do México, quarta-feira, no Beira-Rio. Se é verdade que o jogo é em casa, contra um adversário de pouca expressão, ainda assim é uma má notícia em hora das mais impróprias. Os próximos dias deverão sinalizar muito do que será o Inter em 2011. O vice-presidente de futebol, Roberto Siegmann, já começou a tomar medidas visando o enxugamento do grupo de jogadores. O mesmo Siegmann já deixou bem claro que vai cobrar resultados imediatos do time que, se não forem alcançados, redundarão em novas medidas corretivas. Entre tais medidas, poderá estar a demissão do técnico Celso Roth, incompatibilizado com  a torcida e que só permaneceu no cargo por influência do ex-presidente Fernando Carvalho, contrariando a vontade de Siegmann, que desejava dispensá-lo logo após o fracasso no Campeonato Mundial de Clubes. O Inter precisará, contra o Jaguares, não só vencer mas, também, mostrar um futebol convincente. Se não for assim, o vento das mudanças continuará a soprar forte no clube.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O passeio das "zebras"

Não foi só no Campeonato Gaúcho que a "zebra" andou passeando no fim de semana. Além da eliminação do Inter pelo Cruzeiro nas quartas de final do Gauchão, o Fluminense foi desclassificado nas semifinais da Taça Guanabara pelo Boavista, de Saquarema. No caso do Fluminense, o  fracasso foi ainda maior, pois jogou com os seus titulares, enquanto o Inter usou o seu time B. Porém, de uma forma ou de outra, tais resultados levarão a adoção de medidas duras em ambos os clubes. Afinal, o Inter é o atual campeão da Libertadores da América e o Fluminense o detentor do título de campeão brasileiro. Os dois clubes tem uma folha de pagamento bastante alta. Não podem assistir passivamente a tais resultados diante de adversários tão modestos.

Gangorra

Uma imagem que se consolidou, ao longo do tempo, no futebol gaúcho, é a da gangorra. Devido a rivalidade entre Grêmio e Inter, costuma-se dizer que quando um está bem, o outro está mal, ou seja, um está na parte de cima da gangorra, o outro na de baixo. O ano está apenas começando, mas os indícios de que o Grêmio esteja se encaminhando para o alto da gangorra começam a surgir. Durante a semana, enquanto o Grêmio obteve duas vitórias em casa, ambas por goleada, o Inter trouxe um empate amargo do Equador e viu seu time B ser eliminado do primeiro turno do Campeonato Gaúcho em pleno Beira-Rio. A reação da diretoria do Inter ao mau resultado no Gauchão demonstra que o clube passa por momentos de séria instabilidade. O vice-presidente de futebol do Inter, Roberto Siegmann, homem de temperamento sanguíneo, resolveu desativar, ao menos por enquanto, o time B, e determinou que o grupo principal, treinado por Celso Roth, é que irá, a partir de agora, representar o clube no Gauchão. Trata-se de uma mudança total no que havia sido estabelecido anteriormente. O próprio Siegmann dizia, enfaticamente, que o time B é que disputaria os jogos do Campeonato Gaúcho. Os tropeços em campo, no entanto, forçaram a correção de rumos, comprovando, mais uma vez que, no futebol, tudo é determinado pelos resultados. Por outro lado, o Grêmio tem navegado em águas mansas. A derrota para o Novo Hamburgo no domingo retrasado, afora a perda da invencibilidade no Gauchão, não trouxe nenhum tipo de prejuízo, pois o jogo pouco valia. Já as duas últimas vitórias serviram para tornar o Grêmio líder de seu grupo na Libertadores e classificado para as semifinais do primeiro turno do Campeonato Gaúcho. Enquanto a estrela de Renato parece brilhar cada vez mais, Celso Roth enfrenta um volume cada vez maior de contestações ao seu trabalho. Tranquilidade de um lado, turbulência de outro. Uma velha rotina na história da dupla Gre-Nal.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Balanço inicial

Completada a participação dos clubes brasileiros na primeira rodada da Taça Libertadores da América, cabe fazer um balanço dos resultados. O melhor desempenho, sem dúvida, foi o do Cruzeiro. Golear um adversário do porte do Estudiantes de La Plata por 5 x 0 no jogo de estréia na competição é algo inesperado e que eleva o moral do grupo. O segundo melhor resultado foi o do Grêmio, que goleou o Oriente Petrolero por 3 x 0. O Grêmio jogou mal no primeiro tempo e foi beneficiado pela marcação de um pênalti inexistente mas, no segundo tempo, se impôs. O adversário era fraco, mas o Grêmio, ainda assim, fez a lição de casa. Estrear goleando, seja contra quem for, é sempre muito bom. Santos e Inter tiveram resultados apenas razoáveis. Se é verdade que jogaram fora de casa, o que em tese torna o empate satisfatório, a fragilidade técnica dos adversários mostrou que era possível obter a vitória. Dessa forma, o 0 x 0 do Santos com o Deportivo Táchira e o 1 x 1 do Inter com o Emelec foram resultados frustrantes. Porém, o clube brasileiro que obteve o pior resultado foi o Fluminense. Empatar com o Argentinos Juniors em casa, por 2 x 2, estando sempre atrás no marcador e levando dois gols de cabeça de um jogador de 1,62 m de altura, mostra que a trajetória do atual campeão brasileiro na Libertadores não deverá ser das mais fáceis.  O Fluminense, dos três brasileiros que estrearam em casa, os outros foram o Cruzeiro e o Grêmio, foi o único que não ganhou.Tudo, no entanto, está apenas começando e ainda é muito cedo para se fazer qualquer prognóstico.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Salário mínimo

O novo valor do salário mínimo, aprovado pela Cãmara dos Deputados, é, como o governo federal havia proposto, de 545 reais. Representantes da oposição tentaram estabelecer valores maiores, mas suas emendas foram rejeitadas. O argumento, por parte do governo, para não permitir uma maior elevação do salário mínimo é sempre o mesmo, ou seja, o impacto que cada real pago a mais gera nas contas públicas. Pode-se, portanto, ver um grande volume de dinheiro escorrer pelo ralo da corrupção e gastar cerca de 100 mil reais por mês com cada um dos mais de quinhentos deputados federais, que nada disso é considerado como impacto nas contas públicas. Já o salário mínimo é sempre visto como o vilão da história por parte dos governos e dos empresários. Na realidade, o salário mínimo, no Brasil, não cumpre com o estabelecido quando da sua criação, isto é, que consiga suprir as necessidades de uma família quanto a moradia, alimentação, estudo e lazer. Está muito longe disso. Seu valor é muito baixo e, no entanto, milhões de brasileiros recebem-no como pagamento por seus serviços. O salário mínimo é apenas mais um exemplo da enorme desigualdade que impera no país. Governantes e parlamentares que usufruem de bons salários e incontáveis mordomias determinam o que será  ganho por uma multidão de brasileiros que, diante de um valor tão insuficiente, submetem-se a uma vida de privações. Há de chegar o dia em que tal forma de remuneração proporcione, a quem a recebe, uma vida, também, com um mínimo de dignidade.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Novos uniformes

A necessidade de gerar receita com a venda de camisetas faz com que os clubes lancem, a cada ano, uma nova coleção de uniformes. A camisa número 1 recebe pequenas mudanças, para não ferir a tradição, mas o segundo e terceiro uniformes são alterados radicalmente a cada novo lançamento, de modo a estimular o torcedor a adquiri-los para se manter atualizado. Os resultados, muitas vezes, não são os melhores. Em outros casos, consegue-se criar um modelo muito bonito, mas que, mesmo assim, é abandonado no ano seguinte, pela necessidade de sempre se lançar algo novo. Grêmio e Cruzeiro, por exemplo, acabam de lançar seus novos uniformes. No Grêmio a camisa principal, tricolor, ficou bem mais bonita que a que vinha sendo utilizada, pois suas listras são mais estreitas e o tom do azul é o celeste, como manda a tradição do clube. Porém, o segundo e terceiro uniformes são de um gosto, no mínimo, duvidoso. A tradicional camisa toda em azul celeste foi resgatada, mas, agora, conta com uma espécie de cruz numa das partes laterais que é, esteticamente, bastante discutível. A camisa branca ganhou duas imensas listras verticais em cada um dos lados, uma azul e outra preta, que, também, está longe de ser um acerto em termos de bom gosto. No Cruzeiro, o problema é a camisa principal. Além de trazer de volta o distintivo que tem o círculo com o nome do clube, não mais deixando as cinco estrelas soltas na camisa que geram um efeito muito mais bonito, acrescentou-se uma faixa branca na parte superior, descaracterizando a tradicional monocromia do azul. Parece que o tal uniforme se baseia no primeiro utilizado pelo clube ao mudar seu nome de Palestra Itália para Cruzeiro, em 1942. O fato é que a nova camisa é bem menos bonita do que a anterior. Nada se pode ter contra o fato de os clubes buscarem na venda de camisetas uma importante fonte de receita. Cabe pedir, no entanto, que compatibilizem essa necessidade com o senso estético.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A despedida de Ronaldo

Conforme já havia sido anunciado ontem, Ronaldo, chamado de "fenômeno", o maior goleador da história das Copas do Mundo, confirmou, hoje, que parou de jogar futebol. Ronaldo tinha afirmado, no ano passado, de que iria jogar até o final de 2011. Porém, a eliminação do Corinthians na "Pré-Libertadores", as cobranças da torcida, revoltada com o fato, e as constantes lesões, o fizeram antecipar a aposentadoria. Ronaldo revelou, também, que sofre de hipotireoidismo, o que, segundo ele, o impedia de perder peso, já que os remédios que combatem a doença não podem ser utilizados por atletas profissionais, e disse que muitos que o criticavam por seu sobrepeso certamente estariam arrependidos ao tomarem conhecimento dessa informação. Ronaldo, agora, já não brilhará nos gramados, mas quem teve o privilégio de assistí-lo não o esquecerá. Desde que saiu do modesto São Cristovão, do Rio de Janeiro, clube no qual surgiu, Ronaldo só jogou em grandes clubes, do Brasil e do exterior. Foi escolhido por três vezes como o melhor jogador do mundo. Além disso, foi convocado para quatro edições da Copa do Mundo, competição que, como já foi referido, tem nele o seu maior goleador. Trata-se de um currículo que fala por si mesmo. Não há nenhuma controvérsia ou pretenso deslize na vida pessoal que possa deslustrá-lo. Para os amantes do futebol só resta uma coisa a dizer para Ronaldo: "Muito Obrigado"! Por fim, também cabe a todos nós, desejar que, mesmo fora dos campos, ele tenha muito sucesso e sorte, pois é o que Ronaldo merece, por tudo que realizou.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Goleada e banho de bola

O desempenho da Seleção Brasileira Sub-20 no jogo contra o Uruguai, que lhe deu o título do Campeonato Sul-Americano Sub-20 e a classificação para as Olimpíadas de 2012, em Londres, excedeu qualquer expectativa. Contra um adversário de grande tradição e que liderava o hexagonal decisivo da competição, a equipe brasileira foi impiedosa e se impôs com uma goleada de 6 x 0. O primeiro gol, é verdade, só aconteceu aos 40 minutos do primeiro tempo e, até então, o Uruguai continha bem o ímpeto brasileiro, procurando garantir ao menos o empate, o que já lhe daria o título. Porém, como expressa o dito popular, "porteira onde passa um boi, passa uma boiada" e, um minuto e meio depois do primeiro gol, o Brasil já fazia o segundo. Por sinal, dois golaços, ambos marcados por Lucas. Aliás, os destaques individuais da equipe brasileira é outro item a ser ressaltado. Além de Neymar, que foi o goleador do Campeonato Sul-Americano Sub-20, com 9 gols, e do próprio Lucas, de atuações exuberantes durante a disputa, outros jogadores surgiram como grandes afirmações. São os casos de Fernando, volante do Grêmio, e Casemiro, volante que, a exemplo de Lucas, joga no São Paulo. Fernando provou, mais uma vez, que é possível jogar como primeiro volante, como fez contra o Uruguai, tendo boa saída de bola e sem distribuir pancadas, isto é, sem ser, como muitos acham necessário naquela posição, um "brucutu". Resta saber qual o aproveitamento que os técnicos de seus clubes darão a tais talentos emergentes. Neymar é, há muito tempo, titular absoluto do Santos e até já esteve na Seleção Brasileira principal. Lucas e Casemiro já vinham sendo aproveitados no São Paulo e, por certo, se tornarão, daqui para a frente, titulares indiscutíveis. Porém, e quanto a Fernando? Com o futebol que demonstrou ele não é inferior a qualquer outro volante que o Grêmio possua em seu grupo. Fernando terá o aproveitamento adequado ou será colocado de lado enquanto jogadores técnicamente sofríveis são escalados, tal e qual aconteceu com Douglas Costa? Isso só o tempo dirá. Numa outra perspectiva, cabe saudar a classificação obtida para as Olimpíadas, até porque existe a tendência de que, em 2012, o futebol faça parte do programa olímpico pela última vez. Assim, poderá ser, também, a última chance do futebol brasileiro obter a única glória que ainda lhe falta, a medalha de ouro olímpica.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O renascimento de uma grandeza

Rio Grande, minha terra natal, sempre teve muito do que se orgulhar. Com 274 anos de fundação, a serem completados no dia 19 de fevereiro, é o mais antigo município do Estado, que herdou seu nome. Fica também em Rio Grande a mais antiga igreja do Estado, a catedral de São Pedro. O clube de futebol mais antigo do Brasil é o Sport Club Rio Grande, fundado em 1900, fato reconhecido pela CBF que instituiu a data de aniversário do clube, 19 de julho, como Dia Nacional do Futebol. A rodovia Rio Grande-Cassino, que está sendo duplicada, foi a primeira do Rio Grande do Sul a receber pavimentação. Muitos vultos históricos nasceram em Rio Grande, como o Almirante Tamandaré, Rafael Pinto Bandeira, Marcílio Dias, General Neto. O municípío possui a maior praia do mundo em extensão, a do Cassino, com mais de 200 quilômetros. Também é seu o único porto marítimo do Rio Grande do Sul. Como se vê, motivos para Rio Grande se orgulhar de si própria não faltam. Porém, nos últimos cinquenta anos, num processo que engolfou toda a zona do sul do Estado, Rio Grande passou por um período de empobrecimento, distanciando-se de seu antigo brilho. A sabedoria popular diz, no entanto, que "não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe" e Rio Grande está voltando ao seu lugar de destaque. Devido aos investimentos no chamado Pólo Naval, Rio Grande está expandindo a oferta de empregos, atraindo pessoas de todas as partes do país, impulsionando seu comércio, ampliando sua rede hoteleira. A construção civil, é claro, se beneficia desse momento, com a construção de novas casas e prédios, gerando mais empregos. A previsão é de que, num espaço de dez anos, o município salte dos 200 mil habitantes atuais para 450 mil e que sua economia passe a ser a segunda do Estado, só abaixo da Capital. Tudo isso é mais do que merecido. Rio Grande, além dos pioneirismos e personalidades históricas, é marcante por sua cultura de forte influência portuguesa, principalmente na culinária e na arquitetura, e pela beleza de sua geografia, cercada que é pelas águas da Laguna dos Patos e do Oceano Atlântico. O que está acontecendo em Rio Grande não é algo novo, mas, sim, a retomada de uma grandeza que andava adormecida.

A volta da inflação

Entre as notícias desse início de ano, uma das mais surpreendentes e indesejadas é a que aponta para o aumento dos índices de inflação. Desde a implantação do Plano Real, em 1994, no governo Itamar Franco, o processo inflacionário, que durante décadas infernizou a vida dos brasileiros, parecia ter sido contido. Pois eis que 2011 começa com uma elevação preocupante dos indíces de inflação, o que já levou o governo federal a fazer cortes no orçamento e a tomar medidas como a suspensão da realização  de concursos, por exemplo. Trata-se de uma perigosa ameaça no horizonte do povo brasileiro. O país vinha, nos últimos anos obtendo êxitos econômicos como o aumento do poder aquisitivo da população, com a consequente expansão do consumo, e a ampliação das ofertas de emprego. A volta da inflação, num cenário assim, teria efeitos desastrosos, seria um retrocesso. A equipe econômica do governo tem de ser ágil e competente para cortar o mal pela raiz, não permitindo que a tendência inflacionária permaneça e se expanda. Os ganhos de quase 20 anos de estabilidade econômica, não podem, de uma hora para outra, ir por água abaixo, levando consigo os sonhos de uma vida melhor de milhões de brasileiros.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Vai começar a verdadeira Libertadores

Começará hoje a noite a Taça Libertadores da América propriamente dita. Até aqui, tivemos apenas a chamada "Pré-Libertadores", que só chamou a atenção pela eliminação do Corinthians pelo Deportes Tolima, da Colômbia. Agora todos os clubes começarão a tomar parte na competição. O primeiro brasileiro a estrear será o atual campeão do país, o Fluminense, que jogará contra o Argentinos Juniors, campeão da Libertadores de 1985, no Engenhão, no Rio de Janeiro. O jogo não deverá ser fácil para o Fluminense, não só pela tradição do futebol argentino, como pela ausência de seu principal atacante, Fred. Por outro lado, urge que o regulamento da Libertadores seja modificado, pois não premia os clubes conforme o desempenho nos campeonatos dos seus países. O próprio Fluminense, campeão brasileiro, por exemplo, caiu num grupo difícil, que tem, além do Argentinos Juniors, o Nacional do Uruguai e o América do México. Já o Grêmio, vindo da "Pré-Libertadores", pegou, possivelmente, o grupo mais fácil da primeira fase, no qual estão Atlético Junior de Barranquila (COL), Oriente Petrolero (BOL) e León de Huánaco (PERU). Além disso, para estabelecer a vantagem do segundo jogo em casa nas partidas de mata-mata é levado em conta o maior número de pontos na primeira fase, desconsiderando o desnível técnico entre os grupos. Isso sem contar o item do regulamento que proíbe que dois clubes do mesmo país decidam a competição. A Libertadores é muito importante e, a partir de hoje, começará a empolgar os torcedores. Porém, é preciso mudar o regulamento para que seja privilegiada a qualidade técnica, o que é essencial em qualquer disputa esportiva séria. Os regulamentos devem permitir que os melhores sobressaiam, sem criar armadilhas que façam as competições se nivelarem por baixo.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

As singularidades do futebol

O futebol é uma atividade que, decididamente, obedece a parâmetros muito próprios. Em que outro meio profissional há tantos ganhos astrônomicos, disparatados, com cifras elevadas encaradas com naturalidade, como se fossem alguns tostões? O mais curioso é que tais ganhos, muitas vezes, não são correspondentes ao nível de qualificação e preparo de quem os obtém, ao menos no Brasil. A maioria dos técnicos do futebol brasileiro não tem nenhuma formação acadêmica para exercer a função. A quase totalidade dos treinadores brasileiros é formada por ex-jogadores que param de atuar num dia e começam na nova função, praticamente, no outro. Por incrível que pareça, trata-se de um perfil valorizado, principalmente, pelos jogadores, que preferem técnicos que falem a chamada "língua dos boleiros", enquanto desdenham de quem tenha uma sólida formação acadêmica mas nunca tenha chutado uma bola. Um exemplo nessa direção acaba de ser dado por um dos maiores clubes brasileiros, o Corinthians. O clube anunciou como seu novo gerente de futebol o  ex-jogador William que, até o final do ano passado, ainda atuava pelo próprio Corinthians. William, é verdade, possui um nível instrucional e uma capacidade de expressão acima da média dos jogadores brasileiros, mas, ainda assim, que qualificação específica o ex-jogador possui para assumir tal cargo que, certamente, é muito bem remunerado? Num período tão breve de tempo como o que separou sua despedida dos gramados e sua estréia nos gabinetes, William, certamente, não fez nenhum curso preparatório para a nova atividade. Por certo, tal situação seria impensável no tão profissional futebol europeu, por exemplo. Uma das razões pelas quais nossos técnicos não conseguem, com raras exceções, abrir mercado na Europa é, justamente, a sua condição de "práticos licenciados", sem o devido conhecimento acadêmico. Um gerente de futebol na mesma condição deve ser então, provavelmente, um exotismo típico do Brasil. Nada contra William. Tomara que ele tenha êxito na nova função, mas nossos clubes precisam ser mais exigentes quanto a qualificação de quem ocupa cargos tão importantes num esporte que desperta tanto interesse.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Tristeza no reino da alegria

O incêndio que atingiu os barracões da Grande Rio, Portela, União da Ilha do Governador e da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), na Cidade do Samba, no bairro da Gamboa, no Rio de Janeiro, é um duro golpe faltando um mês para o carnaval. Um golpe duro não só para as comunidades diretamente envolvidas com a preparação para o desfile, mas para todos quantos reconheçam no carnaval do Rio de Janeiro a condição de um espetáculo belíssimo e suntuoso. Aqueles que, como é o meu caso, já tiveram a oportunidade de assistir o desfile ao vivo no sambódromo da avenida Marquês de Sapucaí, sabem o quanto é visualmente extasiante e emocionalmente contagiante. O carnaval de 2011 já está, em parte prejudicado. A Liesa já decidiu que não haverá escolas rebaixadas e que as três prejudicadas pelo incêndio não serão submetidas a julgamento. Isso tira um pouco do brilho do evento, mas, trata-se de uma medida justa. No entanto, de uma forma ou de outra, quando o carnaval chegar, lá estarão milhares de pessoas no sambódromo e milhões pela tv, deixando-se enlevar por um espetáculo encantador. O carnaval do Rio de Janeiro sofreu um abalo, sem dúvida, mas vai passar por cima disso.

A mudança que faltou

Só os mais desavisados podem ter se surpreendido com a derrota do time principal do Inter por 2 x 1 para o Veranópolis, de virada, pelo Campeonato Gaúcho. O Inter tratou de afastar Renan e Alecsandro, tidos como os principais culpados pelo fracasso no Campeonato Mundial de Clubes, mas, incrivelmente, manteve o técnico Celso Roth, cujo esdrúxulo esquema com apenas um atacante já havia mostrado sua total ineficiência em 2010. O técnico, conhecido por sua teimosia, não abdicou de suas idéias e escalou, para um jogo contra um clube do interior um meio de campo com dois e, mais tarde, três volantes, e apenas um atacante. Só podia dar no que deu, ainda que o adversário fosse modesto. Nem mesmo Ademir de Menezes, Coutinho,  Eusébio, Van Basten, Romário ou Ronaldo Fenômeno, todos centroavantes goleadores, conseguiriam jogar sem parceria. Leandro Damião até fez um gol, mas não podia ir muito além disso. O pior, para o Inter, é que sequer pode se queixar da sorte. Ao renovar com Roth, já devia saber o que lhe esperava e, como expressa o ditado popular, "quem corre por gosto não cansa".

Paixão pelo futebol

O brasileiro, como se sabe, adora futebol, mas, até hoje, não se chegou a um consenso sobre em que unidade da federação essa paixão seria maior. Depois do que aconteceu ontem, Pernambuco parece reivindicar para si a condição de estado brasileiro mais apaixonado pelo futebol. Refiro-me ao público do clássico Santa Cruz 2 x 0 Sport Recife, que superou a marca de 45 mil pessoas. Com isso, é, até o momento, o maior público do ano no futebol brasileiro. O mais incrível é que o jogo nada decidia, era válido pelo Campeonato Pernambucano e não por uma competição de maior porte, e os dois adversários não integram a primeira divisão do país.  O Sport pertence à segunda divisão e o Santa Cruz ainda tem de buscar, via campeonato estadual, o direito de participar do campeonato brasileiro da quarta divisão! O futebol reflete, infelizmente, a realidade econômica do país. Onde há mais riqueza e desenvolvimento, há futebol mais forte, o que explica o fato de os 12 maiores clubes do Brasil pertencerem somente a duas regiões, Sul e Sudeste. O que é uma pena, pois, enquanto o jogo em Pernambuco recebia um grande público, no Engenhão, no Rio de Janeiro, o clássico Botafogo 3 x Fluminense 2, teve pouco mais de 13 mil assistentes. O público do jogo de Recife, caso fosse colocado no Engenhão, lotaria o estádio, cuja capacidade é exatamente de 45 mil pessoas. Os torcedores pernambucanos, diante de tamnaha demonstração de gosto pelo futebol, merecem ser brindados pela formação de times mais fortes e qualificados. O Brasil é um país de dimensões continentais e o melhor do seu futebol não pode ficar concentrado, permanentemente, nos quatro estados mais ricos da federação.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O assunto do momento

Não é preciso pensar muito para perceber o tema que mais ocupou espaços na chamada "mídia" nesses primeiros dias de 2011. Os gays estão por toda a parte. No reality show "Big Brother Brasil", afora um transsexual que já foi eliminado do programa, vários outros participantes definem-se como homossexuais ou bissexuais. A atual novela das sete da Rede Globo, "Tititi", tem, entre seus personagens três homossexuais masculinos e uma feminina. A nova novela das oito da mesma Globo, "Insensato Coração", que estreou há poucos dias, promete um total de seis personagens gays durante o seu desenrolar. O programa "Amor e Sexo", em sua segunda temporada, estreou um novo quadro, o "Gayme", ou seja, um game entre gays. Ah, dirá o leitor dessas linhas, todos esses programas são popularescos, não refletem a posição da sociedade como um todo. Ah, é? Então o que dizer da nada popularesca revista "Veja" que, na edição da semana passada, ocupou o seu espaço mais nobre, as páginas amarelas, com uma entrevista com o cantor Ricky Martin falando de porque decidiu "sair do armário"? Ou da revista americana que estampou em sua capa o cantor e compositor Elton John e seu companheiro David Furnish carregando nos braços o filho do casal, concebido com o auxílio de uma barriga de aluguel? A verdade é que, depois de séculos de repressão e perseguição, sendo tachados de doentes ou de pervertidos, os homossexuais ganham cada vez mais espaço na sociedade. A Organização Mundial de Saúde já afirmou que a homossexualidade não é uma doença e o conceito de perversão também não é correto, sendo fruto apenas do obscurantismo intelectual  e  principalmente religioso. A história, ao contrário dos carros, não possui ré e não anda para trás, só para frente. Daí o porquê de a expansão do movimento de inserção dos gays na sociedade ser irreversível, independente do desconforto que isso cause em alguns. Ninguém precisa violentar os seus princípios ou revisar os seus conceitos, basta que entenda que a vida em sociedade caracteriza-se pela pluralidade de idéias, opções e comportamentos e, como tal, nela não há lugar para o radicalismo, mas, sim, para a tolerância mútua. Afinal, o sol nasce para todos.

A crise na música

A música, uma das mais ricas expressões artísticas, passa, já há alguns anos por uma crise de criatividade. Os novos nomes que vão surgindo chamam muito mais a atenção por seus comportamentos bizarros, excêntricos e escandalosos do que pela qualidade do seu trabalho. Belchior já dizia, em sua antológica composição dos anos 70 "Como nossos pais", que "nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam, não". Na falta de nomes consistentes na nova safra de cantores e compositores, apela-se para o que é bom, conhecido e garantido. Não é sem motivo que, ultimamente, discos clássicos da música brasileira e internacional venham sendo lançados em CDs remasterizados. Trata-se de algo muito bom, tanto para os velhos fãs de tais obras, quanto para possibilitar que as novas gerações as conheçam, mas evidencia, por outro lado, a pobreza da produção musical atual. Senão, vejamos. Afora a excelente Maria Gadú, que outro nome surgiu, nos últimos anos, na música brasileira, que tenha vindo para ficar? A crise é tão séria, que até Djavan, um dos melhores e mais prolíficos compositores do Brasil, resolveu, em seu mais recente lançamento, fazer um "disco de intérprete", gravando apenas criações clássicas de outros autores. No que diz respeito a onda de remasterizações, aqui e lá fora, já foram lançadas, recentemente, a obra completa dos Beatles, com grande vendagem, todos os discos da carreira solo de John Lennon, o mais bem sucedido disco solo de Paul McCartney, "Band on the Run", e coleções especiais da Editora Abril com 20 discos da carreira de Chico Buarque e 15 da de Tim Maia. No Rio Grande do Sul, o jornal Zero Hora lançou uma coleção com 25 discos que marcaram época na música brasileira, gravados nos anos 60,70 e 80. São obras de grande qualidade que todos devem conhecer, mas, paralelamente, é preciso que uma nova leva de cantores e compositores de alto nível surja, tanto no Brasil, como no exterior. Há um tempo atrás tivemos, no Brasil, o aparecimento de nomes de qualidade, hoje já passados dos 40 anos, que acabaram se tornando artistas de um público fiel, mas reduzido, como Zélia Duncan, Lenine, Zeca Baleiro, entre outros, que não alcançaram a condição estelar  da geração dos anos 60 de Gal, Bethânia, Roberto, Erasmo, Caetano, Gil, Chico Buarque e Mílton Nascimento. No exterior, nomes como Amy Winehouse, por exemplo, destacam-se muito mais pelo que aprontam fora dos estúdios e palcos, alimentando a imprensa sensacionalista, do que por gravar algo que agrade aos ouvidos. Nossos velhos ídolos da música são muito bons e sua obra é imortal, mas o show não pode parar e é preciso que surjam, logo, novos nomes capazes de nos encantar.

Carlos Alberto no Grêmio

A contratação, pelo Grêmio, do meia Carlos Alberto, que estava no Vasco, é elogiável por ter o clube trazido um jogador de grande capacidade técnica, o que pode acrescentar muito ao potencial do time. Carlos Alberto, porém, tem, nos clubes por onde passa, um comportamento conflitivo, caracterizado pelo enfrentamento com técnicos e por uma atitude, por vezes, displicente. Parece que o Grêmio está apostando que o técnico Renato seja capaz de, mais uma vez, controlar o lado mais rebelde do jogador, fazendo com que as virtudes do seu futebol fiquem em primeiro plano, tal como aconteceu com Douglas que, a exemplo de Carlos Alberto, tem muito futebol mas apresenta um temperamento difícil. Como toda a aposta, a contratação feita pelo Grêmio envolve riscos, mas o clube resolveu corrê-los tendo em vista a qualidade do jogador. Para o bem do Grêmio e de Carlos Alberto, tomara que dê certo.

Coerência e credibilidade

A revista Placar, com 41 anos de tradição na cobertura dos acontecimentos esportivos, revelou, em sua edição de fevereiro, que o seu ranking de clubes, constantemente atualizado, não levará em conta a equiparação dos títulos da Taça Brasil e do Robertão com o Campeonato Brasileiro, realizada pela CBF em dezembro de 2010. Para a revista, bem como para qualquer pessoa de bom senso, o Santos, por exemplo, continua a ter apenas dois títulos do Campeonato Brasileiro, os de 2002 e 2004, e não os oito agora atribuídos pela CBF. A publicação considera que o Flamengo possui, sim, seis títulos de campeão brasileiro, mesmo que a CBF não tenha oficializado o de 1987, mas não deixa de reconhecer, também, como campeão, o Sport, detentor do título oficial. Enfim, é uma postura coerente e equilibrada, em tudo diferente da patética entrega de medalhas a granel feita em dezembro. Como diz a própria revista em sua matéria sobre o assunto, sem falsa modéstia, Placar está na frente da CBF em qualquer ranking de credibilidade.

Fórmula Indy em Porto Alegre

O Rio Grande do Sul é um estado com muitas singularidades. Os gaúchos adoram falar de suas raízes, sua história, seus feitos. Gostam também de exaltar o que chamam de "tradicionalismo" , um culto a um passado pretensamente glorioso que mistura, como se fora tudo verdade, fatos concretos, mitos delirantes e distorções históricas. Já quando se trata de agir para impulsionar o presente e projetar o futuro, os gaúchos são bem mais reticentes. Enquanto no Rio de Janeiro e em São Paulo, os eventos e acontecimentos ocorrem de maneira febril, dando a impressão de um movimento incessante, em Porto Alegre as coisas andam em passo de tartaruga. Isso porque, fiéis ao seu gosto pela polêmica e por discutir questiúnculas em vez de se deter nos aspectos mais grandiosos de uma proposição, os gaúchos postergam ou inviabilizam projetos e iniciativas que dariam um grande impulso para que o Estado e sua capital rompessem com o seu conhecido marasmo. O projeto Cais do Porto, por exemplo, que visa a fazer do porto da capital gaúcha algo semelhante ao realizado em Buenos Aires, até hoje não saiu do papel, vitimado por disputas políticas. Agora, eis que surge a oportunidade de Porto Alegre sediar uma corrida do Campeonato de Fórmula Indy, num circuito de rua. A idéia, espetacular em todos os aspectos, logo se viu bombardeada por questionamentos quanto aos custos, uso do dinheiro público e até do porquê não realizar a prova num autódromo. Sem dúvida, é o que se pode chamar de vocação para a mediocridade. Enquanto São Paulo abraçou a proposta imediatamente, montando um circuito de rua no sambódromo do Anhembi, onde realizou a corrida já no ano passado, aqui, onde a primeira prova ocorreria em 2012, encontram-se resistências à ideía. De minha parte, não me interessa saber o montante dos custos, quanto será gasto de dinheiro público ou outros detalhes dessa natureza. O ganho para a cidade em visibilidade, em exposição internacional, será imensurável. Porto Alegre deixaria de ser uma remota capital de um estado brasileiro para, definitivamente, entrar no mapa. Isso é algo que não pode ser medido em números, daí porque minha indiferença para com os aspectos burocráticos que envolvem a realização da corrida. Não é possível que uma ideia como essa deixe de se concretizar. Se isso acontecer, o Rio Grande do Sul e Porto Alegre estarão optando, definitivamente, pelo provincianismo e pelo marasmo, condenando-se a uma rotina tediosa e exasperante, enquanto a vida pulsa em outros centros.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Corinthians eliminado

O Corinthans foi eliminado na Pré-Libertadores ao perder para o Deportes Tolima, da Colômbia, por 2x0, em Ibagué. Na verdade, o desfecho já era esperado, pois, no primeiro jogo, em São Paulo, o empate em 0x0 só ocorreu porque o Tolima teve um gol legítimo anulado. A demissão do técnico Tite é bastante provável, mas ele não é o único culpado. O clube não trouxe os reforços necessários. Com a aposentadoria do zagueiro William, o Corinthians simplesmente tornou Leandro Castan titular, sem contratar um reforço de maior expressão. O excelente Elias, que foi jogar na Europa, também ainda não tem um substituto de nível semelhante. Ronaldo é, cada vez mais, a imagem de um ex-jogador, tendo já anunciado, inclusive, que irá parar no final do ano. Falta ao Corinthians, ainda, um goleiro mais afirmado. Com tudo isso, a eliminação do Corinthians não pode ser considerada uma surpresa. O pior é que,afora a derrota em si, o Corinthians ostenta duas condições que constrangem o seu torcedor. Continua sendo o único clube grande paulista a não ter ganho a Libertadores e, agora, é o primeiro clube brasileiro a ter sido eliminado na fase prévia da competição. Não vai ser fácil para os corintianos aturar as provocações dos torcedores dos outros três grandes clubes paulistas.

Grêmio classificado

O Grêmio está classificado para a fase de grupos da Taça Libertadores da América, após ganhar de 3x1 do Liverpool do Uruguai no estádio Olímpico. Porém, apesar do resultado positivo, a atuação do Grêmio durante o jogo dá motivo para muitas preocupações. Afora Vinícius Pacheco, que resolveu a partida com os seus dois gols, não houve nenhuma atuação individual destacada. Gabriel continuou sem mostrar o mesmo futebol de 2010. Paulão esteve muito abaixo do que costuma render e falhou no gol do Liverpool. Rafael Marques e Bruno Collaço foram apenas razoáveis. Adílson foi calamitoso, merecendo ter sido substituído ainda no primeiro tempo. Fábio Rochemback também esteve muito mal. Lúcio e Douglas foram apenas discretos. Júnior Viçosa é somente esforçado, não tem futebol para ser titular do Grêmio. André Lima marcou um gol mas perdeu outro de maneira inaceitável. O Grêmio precisa contratar um lateral-esquerdo, um volante para o lugar do fraquíssimo Adílson e um companheiro de ataque para Borges que, fatalmente, voltará a ser titular. A dupla de zaga deveria ser Mário Fernandes e Rodolfo. Com essas mudanças, o Grêmio poderá postular o título da Libertadores. Sem elas, será uma missão quase impossível.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sarney e Itamar

O dia de hoje marcou a posse de deputados federais e senadores para o início de mais uma legislatura. Foi também o dia de eleger os presidentes e as mesas diretoras das duas casas. Pois, para revolta de muitos, José Sarney foi reeleito presidente do Senado, a despeito de seu tortuoso histórico político. Sarney desconhece o que é ser oposição. Em mais de 50 anos de atividade política, foi amigo de todos os presidentes da República, de João Goulart a Lula, passando pelos generais do regime militar. Não será diferente com  Dilma Roussef. O próprio Sarney exerceu o mais alto cargo do país, mas, findo o seu mandato, em nenhum momento deixou a cena política, demonstrando sua avidez pelo poder. Por outro lado, também tomou posse hoje, como senador por Minas Gerais, Itamar Franco. Suas semelhanças com Sarney são as condições de ex-presidentes da República e octogenários. Somente isso, pois Itamar é vinho de outra pipa. Ao contrário de Sarney, que a esmagadora maioria das pessoas gostaria de ver afastado em definitivo do meio político, a volta de Itamar ao Senado é uma boa notícia para o país. No curto período em que foi presidente, de apenas dois anos, completando o mandato de Fernando Collor de Mello, que foi  cassado, Itamar teve um bom desempenho. Em seu governo foi gestado o Plano Real, até hoje tão elogiado por tantos. A grande imprensa, manipulando a verdade, como de hábito, creditou os louros do plano exclusivamente ao ministro da Fazenda de Itamar, Fernando Henrique Cardoso, que, na esteira do sucesso do mesmo, elegeu-se presidente logo a seguir. A mesma imprensa procurou caracterizar Itamar Franco como um sujeito provinciano, parvo, de idéias curtas, criador de uma tal "república do pão de queijo", aludindo a sua ligação com Minas Gerais. Tudo isso porque, entre outras qualidades, Itamar mostrou ser um nacionalista, um defensor da soberania nacional, coisa que a grande imprensa, adepta permanente do imperialismo e da globalização, não tolera. Itamar, que em 1974, ao se eleger senador junto com outros nomes do então MDB, começou a aplainar o caminho que levaria ao fim do regime militar, volta ao mesmo cargo para, certamente, dar novas contribuições ao país. Seu retorno, já em idade avançada, servirá para o digno encerramento de uma trajetória política. Itamar não tem a astúcia de Sarney, o gosto pelos factóides de Collor, o charme pessoal de Fernando Henrique, nem o carisma de Lula, para ficarmos apenas nas comparações com os outros presidentes pós-ditadura militar. Tem porém o mérito, de sempre ter estado na defesa dos interesses maiores do país. Ainda que o termo esteja desgastado, Itamar é um patriota, o que, no atual quadro político do Brasil, é uma qualidade rara e apreciável.