quarta-feira, 28 de março de 2012

Cantando até o fim

Outra perda sofrida pelo país foi a da cantora Ademilde Fonseca, uma das representantes da chamada "Era do Rádio". Sua morte vem se juntar a de outro representante dessa época, o cantor Jorge Goulart, ocorrida há poucos dias. Ademilde destacou-se como intérprete de chorinhos. Mesmo com o término do período áureo do rádio, prosseguiu com sua carreira e, ultimamente, cantava junto com a filha. Estava com 91 anos e, na semana passada, havia se apresentado em Porto Alegre. Apenas dois dias antes de sua morte, concedeu uma entrevista para a televisão, ainda inédita na sua íntegra, em que se mostrava jovial e bem disposta, na qual também cantou. Um exemplo notável de quem não abandonou jamais a sua atividade. Mesmo com uma idade tão avançada, cantou, literalmente, até o fim de sua vida.

Perdas

Os últimos dias não tem sido fáceis para o país, em termos de perda de grandes personalidades. Depois da morte de Chico Anysio, talvez seu maior humorista, o Brasil ficou também sem o talento múltiplo de Millôr Fernandes, jornalista, teatrólogo, cartunista e desenhista. Millôr morreu com idade incerta, pois, de acordo com alguns documentos, teria 87 anos e, conforme outros, estaria com 89. De uma forma ou de outra, foi uma longa e profícua existência, de um homem que marcou presença pela inteligência e independência intelectual. Luís Fernando Veríssimo foi muito feliz quando disse, a respeito do falecimento de Millôr, de que hoje o Brasil ficou um pouco mais burro. Em sua extensa trajetória, Millôr trabalhou nas revistas "O Cruzeiro" e "Veja" e fez parte do notável grupo do mítico e irreverente jornal "O Pasquim", junto com Ziraldo, Jaguar, Tarso de Castro, Sérgio Cabral, Paulo Francis, entre outros. Millôr é representante de uma época em que a imprensa era muito mais crítica e combativa do que hoje. Trabalhou, durante muitos anos, tendo de enfrentar a censura aos meios de comunicação imposta pelo regime militar. Nunca se dobrou. Com suas charges e textos recheados de um humor incisivo soube enfrentar as agruras da ditadura. Jamais bajulou os poderosos de plantão. Foi uma referência de como deve ser o autêntico jornalismo, crítico e independente. Talvez tenha sido o último representante de uma linhagem de homens de imprensa para os quais, infelizmente, não se vislumbra sucessores.