segunda-feira, 14 de maio de 2012

Imprensa livre

Inconformada com a ascensão da esquerda ao poder, a direita brasileira insiste em usar uma tática junto à opinião pública que, exitosa no passado, já não apresenta eficácia. Trata-se do velho recurso de atemorizar os cidadãos com fantasmas do tipo "o partido instalado no poder quer acabar com a liberdade de imprensa". A ideia de estigmatizar a esquerda, e mais especificamente o PT, como um segmento político antidemocrático e supressor da liberdade de expressão, que levaria o país, também, a um retrocesso econômico pela debandada dos investidores, caso chegasse ao poder, funcionou durante algum tempo. Tanto é assim que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva só conseguiu a eleição para o cargo na quarta tentativa. Com o intuito de atemorizar o eleitor, a grande imprensa e os empresários espalhavam ideias como a de que um governo de esquerda cercearia a imprensa, produziria um festival de estatizações, afugentaria o capital estrangeiro, procuraria se perpetuar no poder. Nada disso se confirmou. Cansado dos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, cuja administração recebia fartos elogios da imprensa mas frustrou a expectativa dos cidadãos, o eleitor, finalmente, deixou de lado os seus receios e elegeu um presidente de esquerda, Lula, que sempre foi perseguido pelos que se autointitulavam defensores da democracia. Como Lula não fizesse nada do que a direita propagava, partiu-se, então, para a tentativa de desqualificar seus méritos. Assim, o inegável êxito da economia brasileira sob seu governo seria resultado, tão somente, da manutenção de medidas tomadas pela administração de Fernando Henrique. Os programas sociais do governo, igualmente muito bem sucedidos, também teriam sido iniciados pela administração anterior. Sem dar a mínima para tais argumentos, o eleitor reconduziu Lula ao cargo de presidente. Passou-se, então, a espalhar um outro fantasma, o de que Lula usaria sua maioria no Congresso Nacional para mudar o critério que permite aos governantes apenas uma reeleição, o que lhe possibilitaria concorrer a um terceiro mandato consecutivo. Isso, também não se confirmou. Lula respeitou as regras eleitorais, deixando o cargo após oito anos, e elegeu sua sucessora, a atual presidente Dilma Rousseff. Na verdade, quem alterou as regras eleitorais em benefício próprio foi Fernando Henrique, que instituiu a reeleição para o poder executivo, até então inexistente no país. Lula e Dilma ostentam os mais altos índices de popularidade de presidentes brasileiros em toda a história, mas a direita não sossega. Novamente, por meio de sua publicação mais raivosa, a revista "Veja", começa a tentar disseminar a ideia de que a liberdade de imprensa sofre séria ameaça no país. Cada vez mais desmoralizada pela prática de um jornalismo panfletário, antiético, fascista e direitopata, a revista busca, na sua edição dessa semana, mostrar-se como uma vítima dos "fanáticos petistas" que, segundo sustenta, querem controlar a imprensa. Será mais uma tentativa frustrada. O eleitor já não se deixa assustar por tais assombrações, e a credibilidade da publicação, depois de alguns fatos revelados nas últimas semanas, reduziu-se a quase nada. A maioria da população deseja, é claro, uma imprensa livre. A imprensa só é livre, contudo, quando há apreço à verdade dos fatos e pluralidade na linha editorial dos veículos. Exatamente o que a revista "Veja", que se traveste de defensora da liberdade de imprensa, teima em não praticar.