sexta-feira, 27 de março de 2015

Escolhas heterogêneas

As escolhas dos novos ministros da presidente Dilma Rousseff mostram de forma exemplar os problemas originados pela busca da governabilidade. Como os governantes não dispõem de maioria parlamentar quando se elegem, se obrigam a fazer alianças para poderem viabilizar sua administração, o que tem um lado bom e outro ruim. O lado bom é que, ao não conceder uma maioria de cadeiras para os parlamentares do mesmo partido do governante, o eleitor evita uma concentração de poder que é potencialmente danosa à democracia. O lado ruim é que isso força a composição de alianças entre partidos com pouca afinidade, e no loteamento de cargos nos vários escalões. Essa situação ficou demonstrada, claramente, no anúncio dos novos ministros. A indicação do filósofo Renato Janine Ribeiro para ministro da Educação é digna de elogios. Janine é um intelectual de alto nível, e uma figura de expressão no meio acadêmico. Representa uma escolha essencialmente técnica, como talvez devessem ser todas as indicações ministeriais. O mesmo não se pode dizer de Henrique Eduardo Alves, provável futuro ministro do Turismo. Sem nenhuma afinidade com a área, Alves, que é ex-presidente da Câmara dos Deputados, onde cumpriu mandatos por 42 anos consecutivos, foi derrotado na eleição para governador do Rio Grande do Norte, em 2014. Com isso, ficou sem mandato. Sua escolha é apenas uma maneira de mantê-lo no cenário político, atendendo, provavelmente, a um pedido de seu partido, o PMDB, que é o fiel da balança em termos de governabilidade. Por outro lado, a nomeação de Edinho Silva para Secretário de Comunicação da Presidência é um afago nas alas mais rebeldes do PT, inconformadas com algumas concessões do governo federal às forças conservadoras. O resultado de tudo isso é um ministério inchado, com 39 pastas, e marcado por escolhas heterogêneas, reunindo nomes tipicamente de esquerda, como Miguel Rosseto e Pepe Vargas, políticos meramente fisiológicos, como Henrique Eduardo Alves, e neoliberais como Joaquim Levy e Kátia Abreu. Na tentativa de agradar a gregos e troianos, ou seja, de contemplar todas as forças de sustentação do seu governo, a presidente Dilma corre o risco de, ao contrário, não contentar ninguém. Um governo de coalizão nada tem de condenável, desde que as forças associadas não sejam tão díspares. Ao formar um ministério misturando nomes brilhantes com figuras medíocres, políticos carreiristas e defensores de ideologias contrárias às que norteiam o governo, a presidente cria um quadro de difícil harmonização, o que torna mais árdua a já desafiante tarefa de administrar o país.