terça-feira, 25 de setembro de 2018

Povo só nos treinos

O apartheid social brasileiro, cada vez mais cruel e desumano, conseguiu privar as camadas mais pobres da população até mesmo da frequência aos estádios de futebol, um esporte essencialmente popular. Em nome de um maior conforto, e da adaptação ao chamado "padrão Fifa", os estádios brasileiros encolheram. Hoje, nenhum estádio brasileiro é capaz de comportar a presença de 100 mil pessoas ou mais. Os setores populares, por conseguinte, foram eliminados. Nos estádios recentemente construídos, e nos antigos que foram reformados para a Copa do Mundo de 2014, todos os assentos são numerados e, obviamente, o preço do ingresso ficou fora do alcance dos mais pobres. Até mesmo clubes marcadamente populares como Flamengo e Corinthians cobram um valor médio de ingresso que afasta as pessoas de menor poder aquisitivo da possibilidade de irem aos jogos. O Corinthians, como medida paliativa, tem promovido, esporadicamente, a realização de treinos abertos, com acesso franqueado ao torcedor. Hoje, num desses treinos, o Itaquerão recebeu um público de 38 mil pessoas. São torcedores que gostariam de ir aos jogos, mas não conseguem devido ao alto preço dos ingressos. Os estádios, que antes eram um espaço democrático,  abrigando pessoas de diferentes segmentos da população, hoje tornaram-se restritos e elitizados. Povo só nos treinos, parece ser o slogan dos administradores do futebol na atualidade. Ser pobre, no Brasil, não é, apenas, uma condição socioeconômica. Antes de tudo, é um estigma, pois todas as portas são fechadas aos menos aquinhoados financeiramente num país que, a cada dia, se mostra mais envolto pela demofobia.