quinta-feira, 13 de setembro de 2018

A voz dos militares

Nos países do Terceiro Mundo, os militares são uma ameaça permanente. Em vez de se limitarem a cumprir o seu papel constitucional, constantemente se sentem tentados a tutelar a sociedade. Costumam propagar a ideia, aceita por muitos incautos, de que só eles podem colocar o país em ordem quando há uma situação de grande instabilidade. O caos gerado no Brasil com o golpe militar de 1964, cujos efeitos nefastos se fazem sentir até hoje, provam o contrário. No momento conturbado que o Brasil vive atualmente, consequência de um golpe parlamentar que destituiu uma presidente legitimamente eleita, a voz dos militares está se fazendo ouvir novamente. Como sempre, de modo desastrado, contribuindo para tensionar e dividir a população. O mais boquirroto de todos é o general Hamilton Mourão, candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro na eleição presidencial. Depois de várias declarações desastradas, em que destilou preconceitos de toda a ordem, Mourão disse que uma constituição não precisa ser feita por representantes eleitos pelo povo. O general considera que muitos dos problemas enfrentados pelo Brasil na atualidade tem origem na Constituição de 1988, elaborada por parlamentares. Sua sugestão é de que uma nova constituição seja elaborada por uma comissão de notáveis, e depois submetida a um plebiscito. Chama a atenção como os setores conservadores da sociedade brasileira cultuam essa ideia. O conceito de "notável", por si só, é altamente discutível. O que faz alguém ser merecedor dessa classificação? Certamente, um conselho desse tipo acabaria sendo integrado na sua quase totalidade por homens brancos de idade avançada e privilegiada posição social, que legariam ao país uma constituição carregada de demofobia. O Brasil não precisa da tutela dos militares. O lugar deles é no quartel, e de boca fechada.