quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Espanholização

Há muitos cronistas esportivos e dirigentes que desejam a volta do formulismo ao Campeonato Brasileiro. Eles propõem que a competição tenha uma fase classificatória, após a qual ocorreriam jogos no sistema "mata-mata". Alegam que, assim, o campeonato ganha em emoção, e que um maior número de torcidas permanece com interesse e mobilização, pois não há o risco de um clube disparar para a conquista do título. Outro argumento que vem sendo utilizado ultimamente, pelos defensores do execrável formulismo, é o de que ele ajuda a equilibrar a disputa, que estaria ameaçada por uma "espanholização" em favor de Flamengo e Corinthians.. Por "espanholização" entenda-se uma vantagem financeira esmagadora dos dois clubes citados sobres os demais, a exemplo do que acontece na Espanha com Real Madrid e Barcelona. Essa foi a justificativa do ex-presidente do Inter, Fernando Carvalho, na edição dessa quarta-feira do programa "Sala de Redação", da Rádio Gaúcha, para apoiar a volta dos "mata-matas" ao Brasileirão, no que foi apoiado pelo presidente eleito do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior, que tomará posse hoje. Romildo disse que o formulismo permite que um time que esteja, no dia da decisão, mais mobilizado e focado, possa vencer um adversário teoricamente superior, e conquistar o título. Poucas vezes vi uma tamanha demonstração de mediocridade. O futuro presidente gremista deseja ganhar títulos "correndo por fora" ou "comendo pelas beiradas", certamente por não confiar na possibilidade de ser o melhor dentre todos e se impor sobre eles, como fez o Cruzeiro nos dois últimos anos. Lamentável! Os argumentos dos adeptos do formulismo, por sinal, são extremamente frágeis. Eles esquecem que o atual campeão espanhol, mesmo com toda a desigualdade na distribuição de recursos, é o Atlético de Madrid, e de que o Cruzeiro, bicampeão brasileiro, recebe a mesma cota de televisão de Grêmio e Inter, que é muitíssimo inferior ao que ganham Flamengo e Corinthians. O Cruzeiro, inclusive, é o único dos grandes clubes do país que não ganhou nenhum Campeonato Brasileiro na era do formulismo. Depois que a disputa passou a ser por pontos corridos, já foi campeão três vezes. A dupla Gre-Nal tem que abandonar o discurso do coitadismo. Se, dos quatro principais estados do futebol do país, só o Rio Grande do Sul ainda não teve um clube campeão brasileiro na era dos pontos corridos, a culpa não é da fórmula da competição nem do valor da cotas de televisão. O que está faltando é competência. A desigualdade de recursos é apenas uma desculpa esfarrapada. Tomara que essas vozes não sejam ouvidas pelos que comandam o futebol brasileiro. A volta do formulismo ao mais importante campeonato do país seria um retrocesso inadmissível, e só pioraria o já combalido futebol brasileiro.