quinta-feira, 14 de março de 2013

A banalização da crueldade

Vivemos um tempo de paradoxos. Por um lado, os incríveis avanços tecnológicos que nos fazem dispor de recursos impensáveis até pouco tempo atrás, e as conquistas da medicina, que aumentam significativamente a expectativa média de vida. Por outro, uma sociedade em que a violência se disseminou, e onde a crueldade e a indiferença para com o sofrimento alheio atingem níveis alarmantes. O que dizer de um assassinato como o de Eliza Samúdio, pelo qual o goleiro Bruno foi, recentemente condenado? Matar alguém já é algo inaceitável. Como encarar, então, um assassinato em que a vítima tem o seu corpo esquartejado e jogado para os cachorros? Agora, há poucos dias, em São Paulo, um motorista embriagado atropelou um ciclista e arrancou-lhe um dos braços. Afora não ter prestado socorro á vítima, o atropelador ainda jogou o braço decepado num córrego! Como explicar tamanha brutalidade? A violência sempre acompanhou a humanidade, e atitudes bárbaras não são exclusividade dos tempos atuais. Porém, dado o grau de civilização e avanço cultural atingido pelo ser humano, crimes com tais requintes de crueldade são não apenas chocantes, mas incompreensíveis. Tratar fatos assim como casos isolados, justificando que seus autores são psicopatas, seria tapar o sol com a peneira. Na verdade, os autores de tais atrocidades sabiam muito bem o que estavam fazendo, e mostraram total indiferença para com suas vítimas. Avançamos cientificamente, mas involuímos no convívio social. Mergulhamos num individualismo que gera a desconsideração pelo outro, e que só leva em conta a satisfação dos desejos e apetites de cada um. Esquecemos o que quer dizer fraternidade. Ignoramos  o que seja civilidade. Tornamos a violência um fato comum de todos os dias. Chegamos à banalização da crueldade, convivendo com o horror como se ele constituísse uma regra, e não uma exceção, como deveria. Ao se chegar nesse estágio, não serão leis mais severas e punitivas que mudarão este quadro, pois isto seria atacar a consequência, ignorando a causa. Não estamos numa crise de autoridade, mas de valores. Enquanto estivermos mergulhados no individualismo e no consumismo, não haverá saída para tal situação.