domingo, 30 de janeiro de 2022

O baluarte dos pés de barro

A política brasileira sempre foi repleta de canalhas, mas tão perigosos quanto eles são os falsos bonzinhos, figuras aparentemente impolutas e respeitadas, mas que, na verdade, representam os velhos interesses e preconceitos das "pessoas de bem". Um deles é o baluarte dos pés de barro a que se refere o título acima, o ex-governador do Rio Grande do Sul, Pedro Simon. Durante o regime militar, como deputado estadual e senador, Simon foi uma voz forte de oposição à ditadura. Com a redemocratização do país, foi ministro da Agricultura no governo de José Sarneý, e governador do Rio Grande do Sul, cargo do qual se afastou, no último ano de mandato, para concorrer novamente ao Senado, onde ficou por várias legislaturas até encerrar sua carreira política. Numa longa entrevista, concedida por ocasião dos seus 92 anos, completados na última segunda-feira, Simon lamentou a possibilidade de um segundo turno entre Luís Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro na eleição presidencial de novembro próximo, e revelou que gostaria de uma chapa composta por Sérgio Moro e Simone Tebet. Simon tem todo o direito de desejar um outro nome fora da disputa entre Lula e Bolsonaro para ser o presidente do país, bem como de incluir na chapa Simone Tebet, sua companheira de partido no MDB. Porém, ao defender a candidatura de Moro para presidente, Simon deixa cair sua máscara de falso democrata. Como pode um dos "líderes da luta contra a ditadura" apoiar Moro, um juiz que, sob a capa de herói da Operação Lava-Jato, condenou injustamente o candidato favorito nas eleiçòes presidenciais de 2018, impediu-o de participar do pleito, encaminhou a vitória de outro concorrente e, depois, renunciou á magistratura para assumir como ministro do seu governo? As decisões de Moro contra Lula já foram, todas, anuladas pelo Supremo Tribunal Federal, pois eram, comprovadamente, parciais e arbitrárias, violando princípios básicos do Direito. Ao defender Moro como candidato a presidente, Simon expõe sua verdadeira face, que é a das "pessoas de bem" da sociedade brasileira, ou seja, hipócrita e falso moralista. Só os muito ingênuos podem continuar a considerar Simon como um exemplo de político ético e idealista.