terça-feira, 7 de maio de 2013

A praga do bom mocismo

Poucas coisas são mais irritantes do que o bom mocismo, com sua visão tacanha e pseudo-moralista do que seja correto. Na atualidade, infelizmente, é algo que está se disseminando como uma praga. Na ânsia de se mostrarem zelosos com a segurança pública, ou obedecendo a imperativos de natureza religiosa, com toda a sua carga de preconceitos, alguns legisladores brasileiros cismaram de impor proibições a usos e costumes arraigados na população, como se hábitos pudessem ser eliminados com a edição de uma lei. Tempos atrás, alguns estados brasileiros, entre eles o Rio Grande do Sul, proibiram o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios. A medida foi saudada por muitos como sendo um meio de inibir a violência nas praças esportivas. Esquecem os que assim pensam que nas cercanias dos estádios continua-se a vender bebidas, o que torna a referida proibição inócua em relação ao efeito desejado. A única consequência prática de tal lei é fazer com que o público postergue sua entrada no estádio, deixando-a para momentos antes do início dos jogos, o que, evidentemente, gera tumultos, pois os portões de acesso não conseguem dar vazão, rapidamente, a tantas pessoas num mesmo espaço de tempo. Porém, os arautos do bom mocismo não aprendem, e continuam a fazer das suas. Agora, por exemplo, a vereadora Lurdes Spengler (PMDB) quer, simplesmente, proibir a comercialização, a utilização e o manuseio de fogos de artifício em Porto Alegre. Como justificativa para o seu projeto, já em tramitação na Câmara Municipal, Lurdes Spengler lembrou da tragédia de Santa Maria, quando um artefato pirotécnico desencadeou a morte de 241 pessoas, e o falecimento de um adolescente atingido por um sinalizador num jogo de futebol na Bolívia. A vereadora argumentou, ainda, que a queima de fogos perturba pacientes de hospitais e até mesmo animais, principalmente os dotados de maior sensibilidade auditiva. Parece tudo muito justo, mas não é. Os fogos de artifício são potencialmente perigosos, e devem ser manuseados com grande cuidado. Sua entrada em estádios de futebol, portados por torcedores, é claro, não deve ser permitida. No entanto, sua total proibição é um despropósito. A queima de fogos em ocasiões como o Ano Novo e em comemorações de títulos no futebol é tradicional, uma forma de marcar a euforia presente em tais momentos. Desde que sejam manejados com o devido cuidado, não há porque proibi-los. A vida já é carregada de maus momentos e de situações difíceis que todos tem de suportar. Não lhe acrescentemos um peso adicional, penalizando os que exteriorizam o seu contentamento em momentos especiais. Como já escrevi anteriormente, a vida é, por definição, buliçosa. Ela exige o movimento, o ruído próprio da existência, e não combina com o silêncio. Na verdade, sob a capa de boas e nobres intenções de tais legisladores está a intenção de submeter as pessoas à amargura dos frustrados que, por sua crônica incapacidade de serem felizes, querem impedir que os outros o sejam.