sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

A higienização do futebol

O futebol não é uma ilha. Esporte mais popular dentre todos, ele vem refletindo, dentro e fora do Brasil, a guinada para a direita que se verifica em grande parte do mundo. O que antes era um esporte autenticamente popular, tornou-se, antes de tudo, um produto midiático. Realizou-se, no pior sentido da expressão, a higienização do futebol. Os antigos estádios, muitos enormes, com pouco conforto, mas de um calor humano contagiante, foram substituídos por outros mais "modernos", com lugares numerados, onde o valor dos ingressos exclui o torcedor de menor poder aquisitivo, justamente o mais espontâneo e apaixonado. O modelo "Premier League", nome pomposo dado desde os anos 90 ao Campeonato Inglês, tornou-se a bússola dos deslumbrados de plantão. Uma competição voltada prioritariamente para os torcedores de poltrona, ou seja, os que assistem aos jogos pela televisão. Os estádios, numa forma democraticida de conter a violência em seu interior, viraram um privilégio para quem pode pagar. O efeito disso tudo é um esporte que, a cada dia, fica mais frio, artificial, mercantilista, asséptico. A suspensão da venda de bebidas alcoólicas nos estádios foi mais uma medida que veio na esteira desse processo de descaracterização do futebol. Em nome da "segurança", retirou-se do torcedor o direito de beber no interior dos estádios, rompendo com uma tradição secular. O futebol precisa recuperar sua autenticidade. A sofisticação do espetáculo só faz crescer, enquanto a qualidade do que se apresenta  dentro de campo despenca a olhos vistos, com falsos craques inflados pela "mídia" tomando o lugar antes ocupado por gênios da bola. Chega de futebol "Nutella"! O futebol raiz precisa ser restituído.