segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Dois pesos e duas medidas

Os veículos de imprensa deveriam primar pela isenção na análise dos fatos que ocorrem a cada dia. Sabemos, contudo, que não é assim. O destaque maior ou menor que recebe a abordagem de um assunto está diretamente relacionada à linha ideológica e aos interesses dos proprietários dos veículos. Nesse momento, vivemos uma situação que escancara essa realidade. A multinacional Siemens, o maior conglomerado de Engenharia da Europa, denunciou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre a formação de um cartel em licitações do metrô e de trens urbanos em São Paulo e em contratos do metrô do distrito federal. A empresa, que obteve as informações dos seus próprios funcionários da subsidiária brasileira, apresentou as denúncias ao Cade beneficiando-se de um acordo de leniência, isto é, que prevê isenção de penalidades para os denunciantes. O prejuízo ao erário pode ter chegado a 450 milhões de reais. No entanto, em que pese a gravidade do fato, a maior revista semanal de informação do país, a "Veja", vem tratando o assunto com visível desinteresse, ao contrário do "mensalão", tachado por ela como o "o maior escândalo da história do Brasil", que, desde 2005, tem recebido uma cobertura massiva e gerado muitas capas. Depois de semanas do fato estar em pauta, sendo coberto por outros veículos, "Veja" dedicou-lhe cinco páginas de sua edição dessa semana, mas sem o estardalhaço que confere a outros escândalos. No período dos contratos denunciados, o PSDB governava o Estado de São Paulo, e o DEM, o Distrito Federal. A revista apressa-se em afirmar que os governadores de São Paulo e Distrito Federal da época, José Serra (PSDB) e José Roberto Arruda (DEM), respectivamente, foaram apenas citados nos milhares de documentos e e-mails apreendidos, e de forma não comprometedora. Conhecendo-se, especialmente, a trajetória política de Arruda, é difícil acreditar nessa hipótese. Assim como ignora o chamado "mensalão mineiro", promovido pelo PSDB, que ocorreu antes do que é atribuído ao PT e ainda não foi julgado, a revista tenta despistar sobre um assunto que expõe, mais uma vez, o alto nível de corrupção de seu partido favorito, o PSDB. A isso se costuma definir como sendo o uso de dois pesos e duas medidas, típico de uma publicação que pratica, despudoradamente, a desonestidade intelectual.