quarta-feira, 13 de abril de 2011

A China e os direitos humanos

A China, que durante décadas viveu sob um regime de esquerda totalmente autoritário e fechado, é hoje o grande fenômeno da economia mundial. Seus governantes abriram a economia do país dentro dos moldes capitalistas, porém, no que tange à liberdade de expressão e o respeito aos direitos humanos, não houve avanços. A economia chinesa apresenta índices de crescimento espetaculares, a cada ano, mas isso é obtido às custas de um regime de trabalho semiescravo e de uma competição desleal com os demais países. Como na China os salários são baixíssimos e a carga horária de trabalho é massacrante, o país fabrica produtos em larga escala e a um custo irrisório, o que gera um preço final muito inferior ao de qualquer concorrente. Dessa forma, muitos empregos são suprimidos em outros países pela impossibilidade de suas empresas de concorrerem com os baixos preços dos produtos chineses. Para se ter uma idéia do que ocorre na China no aspecto trabalhista, um bom exemplo é o que acontece com a Foxconn, a maior fabricante de componentes eletrônicos do mundo. Conforme revelou o escritor canadense Don Tapscott, em entrevista para a edição dessa semana da revista "Veja", a Foxconn emprega 900 000 pessoas na China, mas é descrita como uma prisão de segurança mínima. Grande parte de seus trabalhadores mora na própria fábrica. A taxa de suícidio entre seus empregados é alarmante, a ponto da empresa ter colocado redes em torno do prédio para impedir que os trabalhadores se matem jogando-se da janela. Trata-se, como disse Tapscott, de um regime de produção militar. Esse é um dos tantos exemplos de atropelos contra os direitos humanos praticados pela China, um país que não reconhece o direito à liberdade de expressão e que censura conteúdos da Internet. O fato deplorável é que, levados pelo interesse de realizar acordos econômicos ou diplomáticos com a China, países defensores da democracia façam vistas grossas ao que acontece naquele país. O Brasil é um deles. Interessado em obter o apoio da China à sua pretensão de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, o Brasil emitiu, durante a visita que a presidente Dilma Roussef realiza àquele país, um comunicado conjunto em que a referência aos direitos humanos é genérica e lacônica. Perguntada sobre o tema, Dilma declarou que todos os países, inclusive o Brasil, tem problemas de direitos humanos. Para quem sentiu, na própria pele, os abusos de um regime ditatorial, é uma postura lamentável. Não é admissível que o quadro existente na China se estenda por tempo indeterminado. Enquanto persistirem tais situações, todo e qualquer discurso proferido no mundo em defesa dos direitos humanos será um mero exercício de retórica.