segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O culpado já é conhecido

A crise econômica afeta fortemente alguns países da Europa, como Grécia, Portugal e Irlanda. Agora, as atenções se voltam para a Espanha, cujo índice de desemprego já está em 22%. Muitas são as razões que levam a economia de um país a atravessar situações como essa, mas, para os ideólogos da direita, o trabalhador é o único culpado. A revista "Veja", a mais fiel tradução do pensamento de direita no Brasil, afirma, em sua edição dessa semana, que o excesso de benefícios sociais é que está causando a crise espanhola. Conforme a publicação, durante o horário de verão, os espanhóis trabalham apenas seis horas por dia. Os trabalhadores do país também ganham 16º salário e bonificação por bater cartão. A revista sustenta, também, que mesmo os desempregados que recebiam um salário considerado baixo conseguem viver bem com um auxílio, pago pelo governo, equivalente a 75% da antiga remuneração. Dessa forma, analisa "Veja", não há interesse em buscar um novo emprego, e as praias ficam lotadas no verão espanhol. O economista Alberto Nadal, da Confederação Espanhola de Organizações Empresariais, diz que a única saída para os empresários ganharem competitividade é demitir, mas que a rigidez da legislação trabalhista do país é a principal barreira para isso. Os benefícios trabalhistas na Espanha são negociados em acordos entre empresários e sindicatos. Ocorre que, segundo a revista, os sindicatos, historicamente, tem muito mais força, condição que foi herdada do período da ditadura de Francisco Franco, que buscava aliciar os trabalhadores como massa de manobra, ofertando-lhes pequenos brindes. Os funcionários públicos espanhóis possuem estabilidade e ganham em  torno de três vezes o que se paga para trabalhadores de contrato temporário, o que também contribuiria para a crise. A publicação resume bem o seu pensamento a respeito do assunto ao afirmar que os trabalhadores espanhóis só tem direitos e nenhum dever. Por certo, a revista deve ter como modelo trabalhista ideal o que ocorre na China, país que não se cansa de exaltar como sendo o da economia que mais cresce no mundo. Lá, os trabalhadores só tem deveres e nenhum direito. Enfrentam cargas horárias desumanas, num regime de semiescravidão, e ganham salários irrisórios. Deve ser esse o ideal de relações trabalhistas sonhado por "Veja". A sorte dos espanhóis, e dos europeus em geral, é que "Veja" não tem nenhum peso no mercado editorial internacional. Trata-se apenas de uma publicação que defende os interesses dos plutocratas brasileiros.