sábado, 5 de maio de 2012

Retrocesso

O Brasil tem tido notáveis avanços no campo dos costumes, removendo, aos poucos, as velhas imposições do falso moralismo. A antiga sociedade machista e patriarcal sofreu profundas mudanças que redefiniram o papel da mulher, o conceito de família e o comportamento sexual das pessoas. Em meio a esse saudável e irrefreável avanço, surgem, também, os que operam em sentido contrário, tentando um impossível retorno a conceitos e posturas obsoletos e bolorentos. Movimentos religiosos não descansam na busca de impor suas ideias restritivas ao prazer, recheadas de interdições e do conceito de pecado. Uma matéria publicada no jornal "Zero Hora" nesse fim de semana, dá conta de que aumenta o número de jovens, homens e mulheres, que se mantém castos até o casamento. A reportagem apresenta, inclusive, depoimentos de jovens que vivenciam essa situação. Os argumentos apresentados são ralos e claramente influenciados pela retórica religiosa. Num mundo em que a velocidade das transformações assusta e, por vezes, desestabiliza as pessoas, muitos são levados a buscar em velhas práticas as soluções para problemas atuais. Nada mais infrutífero. Encastelar-se em conceitos superados, regredir a comportamentos ultrapassados, é uma falsa saída para os que se debatem com as angústias da existência. Não passa de um recurso escapista, de quem procura disfarçar sua fragilidade alegando uma suposta fortaleza moral. A falta de sentido de tal postura fica evidenciada quando os depoentes revelam que se esforçam para não se expor ao desejo, refreando seus instintos, pois, dizem, "a ocasião faz o ladrão". Ora, porque pessoas que se amam e se sentem fortemente atraídas umas pela outras tem de conter a consumação do seu desejo? Em que a liberação de suas vontades lhes traria algum tipo de prejuízo? Como a própria autora da matéria escreve, em certo trecho do texto, para quem quiser entender os motivos da opção pela castidade, não haverá êxito, a menos que acredite no sobrenatural, na fé. Como busco analisar a realidade com o olhar da racionalidade, a adoção desse tipo de comportamento me parece, tão somente, um arcaísmo sem qualquer sentido.