sexta-feira, 17 de novembro de 2017

A defesa da barbárie

A direita brasileira está deitando e rolando no descalabro em que vive o país. Seus expoentes perderam qualquer inibição, e defendem abertamente o "direito" que julgam ter de discriminar, humilhar, segregar, oprimir e perseguir os que não se encaixem em sua visão elitista e supremacista de sociedade. O advogado Ives Gandra da Silva Martins, notória figura do ultraconservadorismo brasileiro, escreveu, há alguns dias, que não tem culpa de não ser negro, índio, quilombola, homossexual, guerrilheiro ou invasor de terras. Num texto carregado de cinismo, Gandra se apresenta como um homem branco, "modesto" advogado e heterossexual. O mote de sua argumentação é de que pessoas como ele estariam se sentindo um peixe fora d'água numa sociedade que defende os grupos citados. Poucas vezes se viu tanta calhordice! Gandra mistura, no mesmo balaio, origem étnica, opção sexual e postura ideológica para defender seu ponto de vista de homem branco supremacista. Em seu texto, faz referência a "injustiça" do sistema de cotas das universidades, e crítica o fato de que os cidadãos brasileiros tenham de pagar indenizações para guerrilheiros que matavam e tentavam derrubar o governo militar. A ironia grosseira de Gandra é a de que pessoas como ele estariam se sentindo "deslocadas" no Brasil atual, por não pertencerem aos grupos acima arrolados. O resumo do pensamento de Gandra é simples. O que ele e seus pares querem é o "direito" de exibirem abertamente o seu racismo, homofobia, demofobia e ódio visceral contra qualquer ideia de justiça social sem sofrer nenhum constrangimento. Na mesma linha, o não menos notório J. R. Guzzo, em mais um de seus escritos na abominável revista "Veja", reclama que o Brasil está se tornando um país de chatos, devido á ação de uma "patrulha" do pensamento politicamente correto, formada, segundo ele, por pretensas celebridades e falsos intelectuais. O que Guzzo quer, ao protestar contra a situação que descreve, é que ele, e os que partilham das suas convicções, possam continuar a rir abertamente de piadas sobre negros e "viados", manifestarem seu machismo, exercer livremente sua repulsa aos mais pobres e desfavorecidos. A direita brasileira perdeu qualquer resquício de constrangimentos em mostrar sua verdadeira face. Exibe "orgulhosa" toda a sua podridão e, por meio de escritos como os aqui referidos, protesta contra os que se rebelam contra isso. Seus integrantes estão se sentindo á vontade para expressar essas ideias, por julgarem que o momento que vive o país lhes é favorável. Podem continuar fazendo a defesa da barbárie, mas não irão calar os brasileiros que lutam por um país mais justo e igualitário, sem discriminações de cor, gênero, ou condição social.