sábado, 8 de fevereiro de 2014

O milésimo gol de Túlio

Enfim, aconteceu. Com um gol de pênalti, jogando pelo Araxá contra o Mamoré, no Campeonato Mineiro da Segunda Divisão, o centroavante Túlio, aos 44 anos, marcou, segundo afirma, o seu milésimo gol. Repete, assim, o feito de Romário, outro jogador da posição que fez seu gol mil já na condição de quarentão. Os dois perseguiram a marca obstinadamente, na ânsia de igualar o feito do maior jogador do mundo em todos os tempos, Pelé. No entanto, as diferenças na obtenção da façanha são gritantes. Pelé alcançou o índice de maneira comprovada e documentada, e o fez ainda no auge de sua carreira, aos 29 anos, no mais célebre dos estádios, o Maracanã, contra um grande clube, o Vasco. Romário, para chegar à marca, contabilizou até jogos de categorias anteriores aos profissionais, e Túlio, cujos números também não batem com a contabilidade oficial, foi esticando sua carreira e jogando pelos clubes mais inexpressivos até atingir a tão pretendida meta. Em comum aos três, somente o fato de o gol mil ter sido de pênalti. Ao contrário de Pelé, um gênio, e de Romário, um craque, Túlio foi apenas um bom jogador. Inegavelmente, é também uma grande figura humana, irreverente e simpático. Porém, sua busca do milésimo gol foi constrangedora e patética. Menos mal que, ainda que no modesto cenário da segunda divisão de Minas Gerais, a saga do gol mil de Túlio chegou ao fim. O episódio entrará para a história, na melhor das hipóteses, como algo folclórico. Túlio, contudo, tem o direito de saborear o seu "feito" e de ter uma sobrevida como alguém capaz de mobilizar a mídia em torno de si, tantos anos depois de ter deixado de ser, na prática, um jogador de nível profissional. Não há em si, nenhum mal nisso. Ele lutou com as armas de que dispunha para se manter em evidência. Seu desafio será daqui para frente, pois não ficou rico com o futebol. Tomara que, de uma forma ou de outra, a vida lhe seja generosa, pois, sendo, como é, um bom ser humano, Túlio faz por merecer.