terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Erros e acertos do Oscar

Assisti a todos os nove filmes que concorriam ao Oscar da categoria, antes da cerimônia de entrega das estatuetas, ocorrida no domingo. Também assisti a todos os filmes que tinham nomes indicados para concorrer aos prêmios de ator e atriz, tanto principais como coadjuvantes, à exceção de "O Impossível", que valeu a indicação de Naomi Watts para melhor atriz. Assim, me sinto em condições de discorrer sobre as principais premiações do Oscar. Os prêmios para ator, principal e coadjuvante, foram os mais indiscutíveis. O ator austríaco Cristoph Waltz voltou a ganhar como coadjuvante, quatro anos depois de obter o mesmo prêmio. Em 2009, sua premiação se deu por "Bastardos Inglórios", filme dirigido por Quentin Tarantino. Agora, por "Django Livre", outro filme do mesmo diretor. Em ambos, sua atuação não é menos que magnífica. O Oscar de ator principal, para Daniel Day Lewis, era mais do que previsível. Este é o terceiro Oscar de Lewis, um recorde entre os homens e apenas um a menos que a recordista geral, Katherine Hepburn, até hoje imbatível com seus quatro prêmios. Lewis é um ator intenso, que incorpora um personagem como poucos são capazes de fazer. Sua atuação no papel-título de "Lincoln" já havia obtido outras premiações, e o Oscar veio, apenas, confirmá-las. Já os vitoriosos de outras das categorias mais importantes não foram tão incontestáveis. Anne Hathaway, por "Os Miseráveis", era mesmo a mais cotada para ganhar como melhor atriz coadjuvante, e, portanto, não houve qualquer injustiça em sua vitória. Porém, se Amy Adams, de "O Mestre", fosse a escolhida, seria justo da mesma forma. O prêmio de melhor diretor para Ang Lee, por "As Aventuras de Pi", não ficou mal, mas qualquer outro dos indicados que ganhasse faria por merecer a conquista. O mesmo não se pode dizer dos escolhidos para atriz principal e melhor filme. Jennifer Lawrence fez um bom trabalho em "O Lado Bom da Vida" e, aos 22 anos, já concorria a um Oscar pela segunda vez, o que é uma demonstração de seu talento. No entanto, o filme que lhe valeu a indicação é uma obra menor, uma comédia despretensiosa. Já Emmanuelle Riva, que completou 86 anos exatamente no dia da festa do Oscar, teve uma atuação grandiosa no multipremiado "Amor", que ganhou o Oscar de filme estrangeiro e também concorreu ao prêmio principal de sua categoria. Jennifer Lawrence tem toda uma vida pela frente para ganhar oscars. Sua vitória lembra o que aconteceu com outra veterana e extraordinária atriz, a brasileira Fernanda Montenegro, que, em 1998, concorrendo ao Oscar de Melhor Atriz por "Central do Brasil", foi derrotada pela então iniciante Gwyneth Paltrow, de "Shakespeare Apaixonado" . Em ambas as ocasiões, ficou a impressão de uma "patriotada" americana. A escolha do melhor filme também merece reparos. "Argo" é um bom filme, já havia ganho outros prêmios, mas nada tem de excepcional. Sua temática, a de uma operação bem sucedida para resgatar americanos em risco abrigados na embaixada do Canadá no Irã, pareceu ter sido decisiva. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood quase sempre é mais simpática aos filmes laudatórios ao americanismo do que a obras mais críticas ou questionadoras. Particularmente, eu teria optado por "Django Livre", cuja longa duração, de duas horas e quarenta e cinco minutos, nem é sentida pelo espectador, tal o dinamismo de seu desenrolar. Se "Argo" é tão bom assim, como entender que seu diretor, Ben Affleck, não tenha sido indicado para concorrer ao prêmio de sua categoria? Enfim, são acertos e erros do mais prestigiado prêmio do cinema mundial, que alcançou, este ano, a sua 85ª edição.