sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Reforma ministerial

A reforma ministerial que há tanto tempo era anunciada, finalmente foi divulgada, hoje, pela presidente Dilma Rousseff. A demora entre a intenção e a efetivação da medida, que chegou a sofrer adiamentos, revelam a dificuldade de se realizar uma ação desse tipo, tantas são as "costuras" necessárias. Ao contrário do que possa parecer para alguém desavisado, uma reforma do ministério não é um ato de vontade do presidente. Tendo em vista a tão propalada governabilidade, é preciso acomodar interesses de vários partidos, conceder agrados a potenciais opositores, entre outras atitudes próprias do jogo político. O país não sai necessariamente ganhando com mudanças dessa ordem. Com os aspectos políticos colocados em primeiro plano, nem sempre os ministros indicados tem a qualidade desejável para o exercício do cargo. O caso do Ministério da Educação é emblemático. Numa área tão importante para qualquer país, e que há muito tempo não é tratada com a importância que merece, ter Renato Janine Ribeiro como ministro era um alento, dada a sua indiscutível qualificação técnica e intelectual. Porém, Janine acabou tendo uma passagem meteórica pelo governo, sem que pudesse deixar uma marca forte de sua administração. Foi substituído por Aloízio Mercadante, uma figura de peso do PT, mas que estava tendo problemas como ministro-chefe da Casa Civil, por ser considerado um negociador pouco hábil pelos demais partidos. Para o lugar de Mercadante foi nomeado Jacques Wagner, tido como um interlocutor mais flexível. Mercadante, no entanto, pelo peso que possui no partido, não poderia ficar de fora do ministério, e foi para a pasta da Educação. Esse caso específico mostra como as injunções políticas se sobrepõem, muitas vezes, aos interesses maiores do país. Não é culpa do governo. A estruturação política brasileira não permite um cenário muito diferente. Com a reforma, o PT tem, agora, nove ministérios, o PMDB, sete, um a mais do que antes da reforma, e outros partidos, tem um cada. Oito ministros não tem partido. Afora isso, oito ministérios foram extintos. Menos mal, para quem se preocupa com a descaracterização do perfil de esquerda do governo, que a presença de nomes como Miguel Rosseto e Ricardo Berzoíni em cargos relevantes mantém essa inclinação. Miguel Rosseto será o ministro do Trabalho e Assistência Social, áreas extremamente sensíveis para a população menos privilegiada, e Berzoíni assumirá a poderosa função de secretário-geral de governo. Tomara que, a partir dessa reforma, o governo possa navegar em águas menos turbulentas.