quinta-feira, 10 de julho de 2014

A arrogância de Felipão

O técnico da Seleção Brasileira, Luís Felipe Scolari, o Felipão, é um dos mais vitoriosos da história do futebol brasileiro. Isso não se discute. Por clubes, Felipão ganhou um Campeonato Brasileiro, três Copas do Brasil e duas Libertadores. Faltou-lhe o Mundial de Clubes, que perdeu em duas oportunidades, treinando o Grêmio, em 1995, e o Palmeiras, em 1999. Porém, conquistou o maior dos títulos mundiais, a Copa do Mundo, pela Seleção Brasileira, em 2002, vencendo todos os jogos. Sua competência, portanto, é comprovada. Felipão, todavia, com o passar dos anos, foi se tornando cada vez mais ríspido no trato com a imprensa, revelou simpatia pelo ditador genocida chileno Augusto Pinochet, e foi tomado por uma autossuficiência e prepotência claramente identificáveis. Dias antes do fatídico jogo da Seleção contra a Alemanha, Felipão, referindo-se a uma conversa que teve com alguns jornalistas em detrimento de outros, disse "quem não gostou que vá para o inferno". Em suas entrevistas, costuma fazer caretas demonstrando impaciência com as perguntas formuladas, e interrompe os jornalistas constantemente, antes que concluam suas questões. Suas duas últimas entrevistas foram lamentáveis. A primeira, pouco depois da goleada humilhante para a Alemanha, foi inacreditável. Felipão parecia tranquilo, bem menos tenso que nas entrevistas após vitórias da Seleção. Em nenhum momento esboçou um mea culpa. Pelo contrário. Reafirmou sua convicção no acerto de seu trabalho, e creditou o desastre a um "apagão" que levou a uma enxurrada de gols em poucos minutos. Ontem, em nova entrevista, Felipão voltou a falar no apagão, e disse que não tinha explicação para ele. Pior do que isso, mostrou toda a sua arrogância. Ao saber que o presidente da Federação Catarinense de Futebol, e futuro diretor da CBF, Delfim Peixoto, lhe fizera severas críticas, Felipão respondeu: "O Delfim disse isso? O único título nacional que Santa Catarina tem fui eu que ganhei, a Copa do Brasil de 1991, pelo Criciúma. O Delfim deveria se ajoelhar diante de mim, e pedir a benção". Delfim Peixoto está longe de ser "flor que se cheire", é um desses tantos dirigentes que se eternizam como presidentes de federações estaduais e que em nada contribuem com o futebol brasileiro. Porém, as palavras de Felipão revelam um homem que se julga acima do bem e do mal, que não tolera críticas. Sua carga de culpa sobre a catástrofe diante da Alemanha é enorme, mas Felipão não a assume. Argumentar a ocorrência de um apagão e dizer que não sabe explicá-lo é patético.O tom e o teor da resposta que deu a Delfim Peixoto mostram o perfil agressivo de sua personalidade e a sua ausência de autocrítica. Felipão é do tipo que, na busca do sucesso profissional, não hesita em conviver com algumas das figuras mais nefandas do futebol, como o presidente da CBF, José Maria Marin, por exemplo. Aprendeu a circular com desenvoltura pelos corredores do poder, e o faz sem pruridos, dobrando-se aos desígnios dos que comandam, de forma espúria, o futebol brasileiro. Por isso sentiu-se tão à vontade para responder agressiva e debochadamente para Delfim Peixoto. Na arrogância de Felipão, em sua ausência de senso crítico, estão muitos dos motivos que levaram a Seleção ao fracasso.