quarta-feira, 30 de abril de 2014

Mais um grande jogo

Depois da surpreendente goleada de ontem do Real Madrid sobre o Bayern de Munique, imaginava-se que o outro jogo pelas semifinais da Champions League, hoje, entre Chelsea e Atlético de Madrid seria bem menos interessante. Não foi assim. Pelo contrário. Foi mais um grande jogo. Se o jogo entre Real Madrid e Bayern foi decidido no primeiro tempo, a partida no Stamford Bridge teve emoção até o final. O Chelsea saiu na frente do placar, o que já lhe garantia a classificação, mas sofreu a virada, e acabou perdendo por 3 x 1. A vitória do Atlético de Madrid foi inequívoca e deu mais brilho, ainda, a sua campanha, que, até aqui é invicta. Agora, um clássico madrilenho irá decidir a Champions League, no dia 24 de maio, no Estádio da Luz, em Lisboa:: Real Madrid x Atlético de Madrid. Depois de anos de maus resultados, o Atlético de Madrid vive uma grande fase. Recentemente, foi, por duas vezes em três anos, campeão da Europa League. Agora, terá a chance de, na mesma temporada, ser campeão europeu e espanhol. Para todos os apreciadores do futebol, portanto, há um compromisso imperdível no dia 24 de maio. Uma decisão que promete muita emoção e, principalmente, bom futebol.

Rotina

Pela terceira vez seguida, o Grêmio foi eliminado da Libertadores nas oitavas de final. Uma triste rotina. Havia sido assim também, em 2011 e 2013. Ao contrário das outras duas ocasiões, dessa vez o Grêmio fez o segundo jogo em casa, mas nem isso adiantou. Venceu o San Lorenzo por 1 x 0, mas, como tinha perdido o primeiro jogo, fora de casa, pelo mesmo placar, a decisão da classificação para as quartas de final foi para os tiros livres da marca do pênalti. O Grêmio começou batendo, e Barcos já errou a primeira cobrança. Foi uma ducha de água fria no time e na torcida, e a eliminação era uma questão de tempo. Com mais uma cobrança errada, de Máxi Rodriguez, ela acabou se confirmando. No jogo em si, o Grêmio mostrou disposição, mas técnica e taticamente esteve muito mal. Algumas atuações foram calamitosas. Entre elas, duas que eram previsíveis, as de Pará e Zé Roberto. Todos sabem que eles não dão nenhuma contribuição técnica para o time, mas continuam sendo escalados. O técnico do Grêmio, Enderson Moreira, acertou ao retirar um volante do time para colocar mais uma meia, mas errou ao escalar Zé Roberto. Seu erro se ampliou ao manter o jogador após o intervalo, depois de sua péssima atuação no primeiro tempo, e ficou ainda mais claro quando decidiu retirá-lo aos 13 minutos do segundo. A manutenção de Pará quase até o final do jogo é inexplicável. A insistência com Máxi Rodriguez como jogador para entrar durante a partida é outro fato que não se justifica. Por que não apostar no garoto Éverton? A verdade é que Pará e Zé Roberto, por suas más atuações, e Barcos, pelo tiro livre desperdiçado hoje, estão inviabilizados com a torcida. Enderson Moreira, também. O discurso do presidente Fábio Koff após o jogo, no entanto, primou pelo conformismo e pelas desculpas esfarrapadas. Mais do que nunca, o Grêmio é uma nau sem rumo, um clube sem presente e com um futuro marcado pela ausência de perspectivas. Por tudo que tem se visto, só o que lhe resta é evitar o rebaixamento no Campeonato Brasileiro.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Goleada surpreendente

No futebol, num choque de gigantes, uma goleada é sempre surpreendente. Foi isso o que aconteceu, hoje, em Real Madrid 4 x 0 Bayern de Munique, pelas semifinais da Champions League. Depois do primeiro jogo, em Madrid, com vitória do Real Madrid por 1 x 0, a expectativa era que, na segunda partida, o Bayern obtivesse a classificação para a decisão. Afinal, é o atual campeão da competição e, tendo perdido pelo placar mínimo fora de casa, parecia não ser difícil que obtivesse os gols necessários para prosseguir na disputa. Essa impressão ruiu, logo no início do jogo, com dois gols de Sérgio Ramos que, praticamente, acabaram com as chances do Bayern. Com os dois gols sofridos, o Bayern precisaria fazer quatro para obter a classificação. Em vez disso, levou o terceiro ainda no primeiro tempo. Com isso, o segundo tempo foi apenas um cumprimento de formalidade, que só foi salvo da irrelevância pelo quarto gol, marcado, a exemplo do terceiro, por Cristiano Ronaldo. Afora os autores dos gols, de grande atuação, o Real Madrid teve outros destaques como o brasileiro naturalizado português Pepe, e Bale. Foi um autêntico passeio. O poderoso Bayern de Ribéry e Robben nada pode fazer contra o Real Madrid que, agora, surge como o grande favorito para a conquista do título da Champions League, já que, tecnicamente, é superior a Chelsea e Atlético de Madrid, os integrantes da outra semifinal, que será definida amanhã.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Último show

O estádio Candlestick Park, em San Francisco (EUA), foi o local do último show dos Beatles, em 29 de agosto de 1966. Em 54 anos de existência, abrigou os jogos dos clubes locais de futebol americano e beisebol, San Francisco 49ers e San Francisco Giants, respectivamente. Esse estádio de história tão significativa será, no entanto, demolido, para dar lugar a empreendimentos residenciais e comerciais. Porém, terá uma despedida em alto nível. No dia 14 de agosto próximo, Paul McCartney fará o último show do Candlestick Park. Um show carregado de simbolismo. Paul, dessa vez, estará sem os seus lendários companheiros, mas a apresentação também terá um lugar na história. Se, 48 anos atrás, o maior grupo musical de todos os tempos fez ali a sua despedida dos palcos, agora será o próprio estádio que estará se despedindo, com um show de um beatle, que é o maior astro vivo da música pop. Em 1966, os preços dos ingressos variaram entre US$ 4,50 e US$ 6,50, e o público foi de 25 mil pessoas. Na apresentação de Paul, as entradas, a pedido do prefeito de São Francisco, Ed Lee, deverão ser acessíveis, com preços entre US$ 50 e US$ 275. Porém, ainda que o valor dos ingressos fosse bem mais alto, a lotação deverá ser completa. Afinal, Paul é um artista inigualável, com um set list insuperável. Afora isso, o apelo da volta de um beatle ao local 48 anos depois do último show do grupo, para encerrar as atividades do estádio, é irresistível. Os fãs brasileiros privilegiados que dispuserem de condição para tanto, certamente já estão se mobilizando para estar em Sâo Francisco em agosto, com o intuito de testemunhar esse momento histórico. Para os demais, restará o consolo de esperar o lançamento do show em Blu-ray e DVD.

domingo, 27 de abril de 2014

Expectativas revertidas

Os resultados de Grêmio e Inter, hoje, pelo Campeonato Brasileiro, reverteram as expectativas. O Inter era franco favorito contra o Botafogo, mesmo jogando no Maracanã. No primeiro tempo, parecia que os prognósticos se confirmariam, pois o Inter abriu 2 x 0 no placar. Porém, no segundo tempo, tudo mudou. Em duas grandes falhas defensivas, em particular do goleiro Dida, o Inter cedeu o empate para o Botafogo, e por pouco não levou a virada. Mais uma vez, o Inter começa o Brasileirão cotado entre os favoritos, mas já apresenta dificuldades nos primeiros jogos. Na estreia, em casa, venceu o Vitória, da Bahia, por apenas 1 x 0, e seu futebol deixou a desejar. Hoje, depois de encaminhar uma vitória tranquila, não conseguiu mais do que um empate. Em ambos os jogos, o desempenho do time despencou depois do intervalo, o que deve ser motivo para reflexão. Mais tarde, o Grêmio também proporcionou uma surpresa, essa extremamente positiva. Com um time que tinha apenas três titulares, contra um Atlético Mineiro completo, o Grêmio ganhou por 2 x 1, mostrando um futebol convincente e muita aplicação. Não fosse uma falha defensiva que permitiu um gol para o adversário, no final do jogo, teria sido um resultado totalmente tranquilo. A reconciliação com a vitória, depois de três derrotas consecutivas, melhorou consideravelmente a posição do clube na tabela da competição, e injetou um novo ânimo para o jogo decisivo de quarta-feira, pela Libertadores, contra o San Lorenzo. O domingo, portanto, para surpresa de todos, foi risonho para o Grêmio, e indigesto para o Inter.

sábado, 26 de abril de 2014

A taça no Brasil

A Taça Fifa, que será entregue ao capitão da seleção que ganhar a decisão da Copa do Mundo, no dia 13 de julho, já está no Brasil. Depois de passar pelo Rio de Janeiro, ela ficará em Porto Alegre hoje e amanhã. Milhares de pessoas tem acorrido a um shopping center da cidade para ver, ainda que sem poder tocar, a taça de seis quilos de ouro 18 quilates maciço que é a mais desejada do futebol mundial. São apenas alguns segundos junto à taça, com direito a uma foto para recordação, mas as pessoas tem enfrentado mais de uma hora na fila para desfrutar desse privilégio. Tamanho interesse pela Taça Fifa demonstra que a Copa do Mundo no Brasil, mesmo com toda a campanha negativa em torno da competição, será um êxito. Não poderia ser diferente. O Brasil é o único país que participou de todas as Copas do Mundo, e o que mais venceu a disputa, num total de cinco vezes. A Copa do Mundo não é responsável pelas mazelas do país, e, caso não fosse realizada, isso não representaria nenhuma melhora na saúde ou na educação dos brasileiros. Devemos celebrá-la, e não condená-la. Pela primeira vez, todas as seleções que já foram campeãs mundiais estarão presentes numa mesma edição da Copa. Os melhores jogadores do mundo desfilarão pelos estádios do país: Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, Ribéry, Robben, entre tantos outros. Faltam menos de 50 dias para a Copa começar. Será uma festa inesquecível, para derrubar todo e qualquer pessimismo.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Trinta anos de uma frustração

O dia de hoje marca mais uma data redonda. Porém, sem motivos para comemorações. Há 30 anos, a emenda Dante de Oliveira, que propunha a restituição da eleição direta para presidente da República, foi rejeitada pelo Congresso Nacional. Faltaram 22 votos para a aprovação. Durante mais de um ano, comícios e concentrações populares nas principais capitais brasileiras levaram multidões às ruas, pedindo a volta da eleição direta para presidente. Nos palanques, grandes expressões políticas do país, como Leonel Brizola, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Franco Montoro, entre outros, juntavam-se a astros do futebol e do meio artístico na conclamação do povo para o apoio à emenda. Foi um espetáculo cívico grandioso. Milhões de brasileiros indo às ruas exigir a volta da democracia.plena ao país. Porém, mesmo com toda a mobilização, a emenda não foi aprovada. Afora os que votaram contra, mais de uma centena de parlamentares sequer compareceram ao plenário. O governo militar, já em seus estertores, criou um clima de intimidação em torno de Brasília, onde a emenda foi votada. Foi, no entanto, uma falsa vitória do regime militar, que não tinha mais futuro. Em janeiro de 1985, ainda com uma eleição indireta no chamado "colégio eleitoral", Tancredo Neves, candidato da oposição, foi escolhido presidente, derrotando o representante da ditadura, Paulo Maluf. Tancredo acabou não tomando posse, pois foi internado na véspera e faleceu depois de uma longa agonia, e seu vice-presidente, José Sarney, ex-integrante do partido de sustentação da ditadura, assumiu o cargo. Mais uma frustração para o povo brasileiro. Findo o mandato de Sarney, no entanto, a eleição direta para presidente, finalmente, foi restituída. O primeiro presidente a ser eleito, Fernando Collor de Mello, acabou afastado por corrupção, dois anos depois da posse. Mais um triste momento da história política brasileira. O importante, contudo, é que, a partir de então, vivemos o maior período de continuidade democrática da história do Brasil. Uma conquista que não pode ser revogada jamais, sob nenhum argumento.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Nivelamento

O futebol, no Brasil e na América do Sul, vive um nivelamento poucas vezes visto. Porém, lamentavelmente, é uma equiparação por baixo. Os exemplos surgem a cada dia. O campeão paulista de 2014 foi o modesto Ituano, superando os grandes clubes de seu Estado. No Campeonato Paranaense, a decisão foi entre dois clubes do interior, Londrina e Maringá, com o título ficando com o primeiro. Na Libertadores, a confirmação de que todos se parecem, independentemente da tradição, veio logo nas oitavas de final. Vélez Sarsfield, Grêmio e Atlético Mineiro, primeira, segunda e quarta melhor campanha da fase de grupos da competição, respectivamente, perderam o jogo inicial, fora de casa, e terão de buscar a reversão em seus domínios. O Santos Laguna, terceira melhor campanha, já foi eliminado. Os clubes mais tradicionais possuem camisetas de grande apelo e folhas de pagamento altas, mas dentro de campo todos se parecem. Não há grandes craques que façam a diferença, pois quando eles surgem, logo ganham o rumo da Europa. Camisetas outrora vestidas por nomes notáveis, hoje são defendidas por jogadores, na maioria, apenas medianos e esforçados. Curiosamente, numa época de um futebol tão escasso em qualidade, os preços dos ingressos estão cada vez mais altos. A verdade é que o que move o torcedor é a identificação com o seu clube, pois o futebol apresentado em campo não é capaz de seduzir ninguém. Só por isso ele ainda não abandonou os estádios. Por um lado, esse nivelamento torna as competições mais equilibradas e imprevisíveis, o que é interessante. Por outro, no entanto, por ser resultado de uma mediocridade compartilhada, proporciona jogos muito pobres tecnicamente. Num esporte em que os valores financeiros envolvidos são muito altos, a qualidade do futebol apresentado em campo está sendo inversamente proporcional ao que é investido.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Na UTI

O desastre que muitos temiam não aconteceu. O Grêmio perdeu por 1 x 0 para o San Lorenzo, hoje, no Nuevo Gasometro, e, portanto, não sofreu uma derrota fragorosa que tornasse o segundo jogo uma mera formalidade. O placar magro faz com que o Grêmio chegue vivo ao jogo da Arena, na próxima quarta-feira. Os temores de um desastre eram justificados. O time estava desfalcado de seus três melhores jogadores, Luan, Wendell e Rhodolfo. Marcelo Grohe foi dúvida até momentos antes do jogo. As soluções encontradas, Geromel na zaga, Léo Gago improvisado na lateral esquerda, e a presença de Zé Roberto no time não inspiravam confiança. O futebol apresentado pelo Grêmio, como se esperava, não foi bom, mas houve muito aplicação e combatividade. O tempo ia transcorrendo sem que o San Lorenzo levasse perigo ao gol do Grêmio. O 0 x 0 era um resultado razoável e tinha-se a sensação de que a vitória era possível de ser alcançada. Veio então uma falha de arbitragem, e, na sequência, o gol do San Lorenzo. Num lance pela direita de ataque, um jogador do San Lorenzo dominou a bola fora da linha. Seria lateral para o Grêmio, portanto. O árbitro nada marcou, dando prosseguimento a jogada, que culminou no gol. Um erro ainda mais grave de arbitragem ocorreu no primeiro tempo, com a não marcação de um pênalti em favor do Grêmio. Em relação às atuações individuais, Geromel foi uma grata surpresa, Riveros manteve o seu bom nível habitual e Dudu foi o melhor jogador do Grêmio em campo. Os destaques negativos foram Léo Gago, simplesmente constrangedor, Zé Roberto, com os seus toques laterais improdutivos de sempre, e Barcos, que esteve tecnicamente abaixo da crítica e, praticamente, não chutou em gol. A classificação ainda é possível, não só porque o regulamento assim o diz, mas, também, em razão da fragilidade demonstrada pelo San Lorenzo. Porém, tendo perdido a primeira partida, e sem marcar gols, o Grêmio está na UTI, respirando por aparelhos. A má fase do Grêmio prossegue. Agora, já são quatro derrotas nos últimos cinco jogos, por três competições diferentes. As chances de permanecer na Libertadores persistem, mas não há razões para otimismo.

terça-feira, 22 de abril de 2014

A escalada da violência

Basta que acompanhemos os noticiários para que se perceba que estamos envoltos por uma escalada de violência. A criminalidade e as atrocidades sempre estiveram presentes na história humana, mas talvez nunca com a frequência que hoje se verifica. Mata-se pelos motivações mais fúteis. Há uma sensação coletiva de insegurança. O que estaria por trás de tal quadro? Difícil precisar. O Brasil não está numa crise econômica, o índice de desemprego da população é baixo, o país vive um período contínuo de democracia que já dura 29 anos, a popularidade do governo apresenta índices satisfatórios. As razões da violência crescente, portanto, não estão em fatores rigorosamente objetivos. O vazio existencial de nossos dias, possivelmente, é uma das causas da brutalidade que nos cerca. O consumismo desenfreado dos tempos atuais, e uma sociedade que privilegia a forma em detrimento do conteúdo, vão, progressivamente, gerando um processo de desumanização. Cada vez mais, somos avaliados pelo que temos, não pelo que somos. Assim, a violência se dissemina na busca de alguns pelo enriquecimento fácil, por meio de assaltos e sequestros, por exemplo. A falta de sentido para a vida, por outro lado, leva ao consumo de drogas, outro fator alimentador da prática de atos criminosos. A repressão ao crime, é óbvio, se faz necessária, e de maneira enérgica, mas é preciso pensar a questão de violência de forma mais ampla. Ela é efeito e não causa. Resulta de uma sociedade assentada em bases frágeis, a procura de um rumo. Uma mudança nesse quadro demanda tempo, mas é possível. Uma educação de melhor qualidade e um acesso mais amplo de todas as pessoas à cultura, por certo, proporcionariam resultados a médio e longo prazos. Porém, algo precisa ser feito a mais do que simplesmente erguermos muros e grades para nos proteger. Precisamos recuperar as ruas como espaço de lazer e convivência, não nos trancafiarmos em casa. Mais que uma questão social, temos pela frente um desafio civilizatório, de mudança de paradigma. Temos de abandonar o papel de consumidores compulsivos e redescobrir nossa essência. A vida, a de cada um e a dos outros, é de um valor imensurável, não pode ser suprimida para a satisfação de interesses materiais.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

A fala que nada acrescentou

Depois de um inexplicável silêncio de uma semana, o presidente do Grêmio, Fábio Koff, finalmente se pronunciou. Dirigente mais vitorioso da história do clube, Koff deveria tê-lo feito logo após a humilhante goleada de 4 x 1 sofrida pelo Grêmio no Gre-Nal da decisão do Campeonato Gaúcho. Inexplicavelmente, não foi esse o seu procedimento. Agora, depois de mais uma derrota, numa estreia melancólica no Campeonato Brasileiro, Koff concedeu uma entrevista coletiva. Sua fala, no entanto, nada acrescentou, não representou um sopro de esperança para o sofrido torcedor gremista. Koff usou desculpas esfarrapadas e argumentos batidos para justificar o mau momento do Grêmio. Lembrou que o Grêmio já disputou 26 partidas no ano, mais do que qualquer outro clube. O que está por trás desse dado é querer alegar desgaste físico dos jogadores pelo excesso de partidas. Conversa fiada! O problema do Grêmio nada tem a ver com um suposto, e inexistente, excesso de jogos. Fábio Koff declarou, também, não ser possível disputar duas competições paralelas e ser campeão de ambas. Outra balela. O próprio Koff era presidente do Grêmio  em 1995, quando o clube foi campeão, simultaneamente, do Gauchão e da Libertadores. Depois de pedir desculpas, com uma semana de atraso, pela goleada no Gre-Nal, Koff disse, em tom conformista, que "essas coisas acontecem". Não, presidente, "essas coisas" não podem acontecer num clube da grandeza do Grêmio. O senhor, como maior mandatário do clube é o principal responsável pelo que está acontecendo. Contratou um técnico que não está a altura das ambições do Grêmio, não dotou o grupo de jogadores da qualidade necessária, não se cercou de dirigentes experientes e competentes, vive às custas de um passado pessoal glorioso, mas que não encontra eco no presente. Sua entrevista não trouxe nenhum alento para o torcedor gremista, só deve ter aumentado o seu desencanto.

domingo, 20 de abril de 2014

Rumo ao fundo do poço

Se ainda havia alguma dúvida, depois da humilhante goleada na decisão do Campeonato Gaúcho, agora não há mais. O Grêmio caminha, aceleradamente, rumo ao fundo do poço. A derrota, por 1 x 0, para o Atlético Paranaense, hoje à tarde, no Orlando Scarpelli, deixou isso claro. Essa foi a terceira derrota do time nos últimos quatro jogos. Pior, ocorreu na estreia do Campeonato Brasileiro, uma competição de pontos corridos, contra um adversário frágil e em crise. A atuação do Grêmio, mais uma vez, foi constrangedora. A zaga testada, com Geromel e Bressan, não foi aprovada. Zé Roberto voltou, e, com ele, o futebol ineficiente e de toques laterais que o caracteriza. Barcos esteve muito mal. Busatto, que substituiu Marcelo Grohe, afastado por uma lesão de última hora, se mostrou inseguro e falhou no gol do adversário. Porém, a atuação mais negativa foi a do técnico do Grêmio, Enderson Moreira. Suas substituições foram bizarras. Ele colocou Rodriguinho no time, retirando Bressan e baixando Edinho para a zaga. Depois, tirou Breno, improvisando Léo Gago na lateral esquerda e pôs Éverton em campo, retirando Pará e deslocando Ramiro para o seu lugar. Uma autêntica salada em termos táticos, que se revelou indigesta. Com mais essa derrota, o Grêmio inicia o Brasileirão na zona de rebaixamento e mergulha num ambiente de tensão e desconfiança antes do jogo de quarta-feira, contra o San Lorenzo, no Nuevo Gasometro, pela Libertadores. Nada autoriza que se tenha otimismo em relação ao Grêmio. Na verdade, por tudo o que tem se visto, o período de Enderson Moreira como técnico do Grêmio começa a se aproximar do seu final. Sou dos que entendem, aliás, que ele deveria ter sido demitido logo após o Gre-Nal em que o Grêmio foi goleado. A menos que algo muito inesperado aconteça, o Grêmio se encaminha para uma eliminação na Libertadores e para campanhas cheias de sobressaltos nas demais competições. Estamos apenas em abril, mas o ano do Grêmio não parece nada promissor.

sábado, 19 de abril de 2014

Estreia morna

Ganhar numa estreia, ainda mais numa competição tão difícil como o Campeonato Brasileiro, é sempre importante. Nesse sentido, o Inter foi bem sucedido, pois venceu o Vitória, da Bahia, por 1 x 0, hoje, no Beira-Rio. Porém, com um gol marcado logo aos cinco minutos do primeiro tempo, diante de um adversário apenas mediano, a vitória do Inter pode ser classificada como magra, e sua estreia no Brasileirão definida como morna. O Vitória, no segundo tempo, foi mais audacioso, e por pouco não obteve um melhor resultado. O gol, marcado por Aránguiz, foi resultado de uma bela jogada entre ele e D'Alessandro, mas o que poderia ser o prenúncio de uma vitória afirmativa não se confirmou. O Inter teve dificuldades para ganhar a partida. Mais uma vez, o Inter é apontado como um candidato em potencial ao título. Nos anos anteriores, fracassou rotundamente. Pelo que se viu hoje, seu desempenho ao longo da disputa ainda é uma incógnita.

Luciano do Valle

O Brasil perdeu, hoje, o seu maior narrador esportivo de televisão de todos os tempos: Luciano do Valle. Vindo do rádio, Luciano soube, melhor do que qualquer outro, criar um estilo de narração televisiva que, sem copiar as aceleradas transmissões radiofônicas, o que não seria cabível num meio que dispõe da imagem, ainda assim não abrisse mão da emoção. Transmitiu jogos de futebol como ninguém, com narrações antológicas, mas não se limitou a eles. Foi o responsável direto pela popularização do vôlei no Brasil. Chegou, por isso, a ser identificado como "Luciano do vôlei". O basquete também deve muito a ele. A ex-jogadora Hortência chegou a dizer que a fama dela e de sua companheira de Seleção Brasileira de Basquete Feminino, Paula, foi criada por Luciano. Foi ele, aliás, que as denominou de "Rainha Hortência" e "Magic Paula". Luciano apostou no boxeador Adílson "Maguila" Rodrigues. Não conseguiu levá-lo a conquista do título mundial dos pesos pesados, como desejava, mas fez o boxe voltar a empolgar os brasileiros, como há muito não acontecia. Até mesmo a sinuca tornou-se uma atração televisiva por iniciativa de Luciano do Valle. No extinto programa "Show do Esporte", comandado por ele, na Rede Bandeirantes, o jogador Rui Chapéu levou as partidas de sinuca para os lares brasileiros. Luciano do Valle também narrou Fórmula 1 e Fórmula Indy. Suas transmissões sempre se caracterizaram pela emoção e por um acentuado patriotismo. Ele vibrava como o esporte e com todos aqueles que, por meio dele, elevavam o nome do Brasil. Luciano do Valle se foi cedo demais, com apenas 66 anos, e não poderá narrar aquela que seria a sua 11ª Copa do Mundo. Uma Copa que tinha um significado especial para ele, pois será no Brasil. Luciano do Valle morreu numa viagem para transmitir um jogo pelo Campeonato Brasileiro, ou seja, estava a caminho de mais uma jornada de uma carreira brilhante. Viveu para o seu trabalho e morreu preparando-se para mais uma atuação. Foi o melhor e mais completo na sua atividade. Deixa uma lacuna enorme, sem perspectivas de ser preenchida.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Mudanças

Tudo muda com o passar do tempo, mesmo aquilo que pensávamos ser inalterável. A data de hoje, Sexta-Feira Santa, é um exemplo disso. Sou daqueles que viveram o tempo em que, nessa data, as rádios só tocavam músicas sacras ou clássicas, as pessoas não cantarolavam nem riam, tudo e todos eram tomados pela circunspecção e recolhimento. O comércio fechava suas portas. Afinal, é o dia que marca a morte de Jesus Cristo, e num país que era inteiramente dominado pelos valores católicos, a visão da Igreja se impunha. Atualmente, não é mais assim. Para a maioria das pessoas, a Sexta-Feira Santa é apenas um feriado, uma oportunidade para entregar-se ao lazer e ao ócio. As rádios tocam todo o tipo de música, sem exceção. Pode-se cantarolar e rir sem restrições. Casas comerciais, como os supermercados, por exemplo, abrem normalmente. Essas mudanças não se deram por acaso. Elas ocorrem, basicamente, por dois motivos. Um é a perda de fiéis por parte do catolicismo e o consequente aumento de adeptos de outras religiões. Outro é a progressiva secularização da sociedade ocidental, com o crescimento constante do número de ateus e agnósticos. Particularmente, entendo que é muito bom que seja assim. Nada impede que os católicos mais conservadores continuem a se orientar pelo comportamento tradicional em relação à data. Porém, toda e qualquer sociedade deve ser marcada pela pluralidade, de pensamentos e atitudes. Não faz sentido a visão de um grupo específico ser adotada como a da população como um  todo. Ser majoritária, como a Igreja ainda é, no Brasil, em relação às demais religiões, não significa ser totalitária. Os valores e rituais do catolicismo devem ser seguidos pelos seus fiéis, não impostos ao conjunto da sociedade. Vivemos num país laico e, sendo assim, valores religiosos, quaisquer que sejam, não podem ultrapassar o alcance dos que professam determinada crença.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Barbarismo

A banalização do mal, tão presente nos dias atuais, faz com que, muitas vezes, encaremos com naturalidade ou indiferença atos violentos e atrozes. Porém, há acontecimentos que chocam até mesmo o ser humano mais frio e empedernido. O filicídio é um deles. Trata-se de uma prática que contraria totalmente o senso moral coletivo. O amor e a proteção á prole é um valor partilhado por todos. A existência de pessoas que transgridam um princípio tão básico da humanidade é algo que choca e estarrece a coletividade. A morte de Bernardo Uglione Boldrini, de apenas 11 anos, em Três Passos (RS), é um exemplo disso. Assim como ocorreu na morte da menina Isabela Nardoni, em 2008, o pai biológico e a madrasta estão envolvidos. No caso de Bernardo, assassinado com uma injeção letal e cujo corpo foi encontrado segunda-feira em Frederico Westphalen (RS), a motivação para o crime seria de ordem econômica. Bernardo teria direito a parte dos bens da mãe, já falecida, e, quando o pai morresse, a uma fração do patrimônio dele também. O corpo de Bernardo foi descoberto depois que a assistente social Edelvânia Wirganovicz indicou o local para a polícia. Ela é suspeita de ter participado do crime junto com o pai de Bernardo, o médico Leandro Boldrini, e a madrasta, a enfermeira Graciele Ugolini. Não irei me deter em dados do caso, ainda em desdobramento e que está sendo acompanhado em seu desenrolar pelo público. Fixo-me na aberração que é um pai, com o auxílio de sua mulher e de uma amiga desta, tramar a morte de seu próprio filho. Mais chocante se torna o fato se levarmos em consideração a profissão dos envolvidos, um médico, uma enfermeira e uma assistente social, pessoas que, pela natureza intrínseca de suas atividades, deveriam ser dotadas de grande sensibilidade no convívio com o próximo. Crimes como esse nos levam à estupefação, e demonstram que a mesma humanidade que evolui de maneira espantosa na ciência e na tecnologia, retroage assustadoramente no campo das relações sociais. A morte de Bernardo é uma demonstração de barbarismo, um ato incivilizado, de uma covardia insuperável, por ter sido praticado contra um ser inocente e indefeso, e que, por isso mesmo, nunca poderá ser minimamente reparado.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Tropeço inesperado

O Cruzeiro não passou de um empate em 1 x 1 com o Cerro Porteño, hoje à noite, no Mineirão, pelas oitavas de final da Libertadores. O mais surpreendente é que o Cerro Porteño saiu na frente no placar, e o Cruzeiro só conseguiu o empate aos 49 minutos do segundo tempo. O gol de empate amenizou o resultado final, mas o Cruzeiro segue em dificuldades, pois, no segundo jogo, um simples empate em 0 x 0 o desclassificará da competição. Levando-se em conta que o Cruzeiro é o atual campeão brasileiro, conquista que obteve até com certa facilidade, o tropeço inesperado de hoje é mais um dado a demonstrar que o futebol no país não vive um bom momento. Afinal, dos seis clubes brasileiros que iniciaram a Libertadores, três, Flamengo, Botafogo e Atlético Paranaense, já foram eliminados. Os três restantes, Grêmio, Atlético Mineiro e Cruzeiro, não chegam a empolgar. O Grêmio fez a segunda melhor campanha na primeira fase da competição, mas, na decisão do Campeonato Gaúcho, perdeu os dois jogos para o seu maior rival, o Inter, o último deles de goleada. O Atlético Mineiro, mesmo tendo sido o primeiro colocado em seu grupo na primeira fase da Libertadores, não chegou a convencer, e perdeu o título do Campeonato Mineiro para o Cruzeiro. Por sua vez, o Cruzeiro ficou apenas em segundo lugar no seu grupo na primeira fase, e, embora tenha sido campeão mineiro, obteve a conquista sem brilho, com dois empates em 0 x 0, com o Atlético Mineiro, favorecido por ter uma melhor campanha. Junte-se a esses fatos, o título de campeão paulista ter sido ganho pelo modesto Ituano, e se percebe que o futebol brasileiro vive uma crise técnica. Os anos dourados, com craques em profusão desfilando pelos gramados do Brasil, infelizmente, ficaram para trás. Vivemos, sem dúvida, um período de entressafra.

terça-feira, 15 de abril de 2014

O futebol é um espelho da sociedade

No domingo, o Flamengo tornou-se campeão do Estado do Rio de Janeiro com um grave erro de arbitragem. Perdia o jogo por 1 x 0 para o Vasco, resultado que dava o título ao adversário, quando, aos 45 minutos do segundo tempo, empatou a partida, num lance em que o autor do gol, Márcio Araújo, estava impedido. Como o resultado lhe favorecia, o Flamengo tornou-se campeão. Um título injusto, ganho na razão direta de um erro de arbitragem. O goleiro do time, Felipe, no entanto, não se constrangeu com o fato, e disse que "roubado é mais gostoso". Uma declaração infeliz, deplorável, mas que mostra que o futebol é um espelho da sociedade brasileira. Não satisfeito com essa afirmação logo após o jogo, Felipe voltou a se pronunciar, hoje. Entre outras coisas, disse que o termo "roubado" tinha sido muito forte, mas que as pessoas não podem querer que o futebol seja politicamente correto num país de tantas práticas corruptas. Acrescentou que essa exigência de correção está tirando a graça do futebol, que está, segundo ele, nas provocações e gozações, embora sem violência. Felipe declarou ainda que perdeu oportunidades na sua carreira, inclusive na Seleção Brasileira, por ser autêntico e dizer o que pensa, mas que não se arrepende de ser assim. Com seu comportamento, Felipe mostra, de maneira clara, as mazelas éticas do povo brasileiro. Seu argumento de que não se pode exigir correção no futebol num país tomado pela corrupção é cínico e mau caráter. O futebol europeu já deu várias demonstrações de que o futebol pode e deve ter ética dentro do campo, de que não é válido buscar a vitória a qualquer preço. Na Europa, adversários e os próprios torcedores reprovam o comportamento de jogadores que simulam faltas e se atiram ao chão buscando ludibriar o árbitro. Tais jogadores receberam por lá a alcunha de "piscineros", pelos mergulhos que dão no gramado em busca de cavar faltas. Muitas vezes, jogadores que tiveram um pênalti consignado em favor de seu time foram até o árbitro para esclarecê-lo de que sua marcação foi equivocada. Essas manifestações não são "politicamente corretas" nem revelam que seus autores sejam "trouxas". Elas são a demonstração dos pilares éticos sobre os quais deve se assentar uma sociedade. No esporte, em particular, a higidez moral se faz ainda mais necessária. Ele é um meio de congraçamento entre as pessoas e de educação para a vida. A busca das vitórias e dos títulos, mesmo que o esporte desperte paixões vulcânicas e envolva muito dinheiro, não pode se dar num clima de vale tudo, atropelando a ética. Pena que Felipe não tenha consciência disso, e vários de seus companheiros de profissão pensem como ele.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Partido Militar

O Brasil é um país que apresenta algumas singularidades. A jabuticaba é uma delas. Ao que se sabe, a exótica fruta só é encontrada no Brasil. Nos próximos dias, um outro fato deverá engrossar a lista das particularidades brasileiras. Na quinta-feira, dia 17, será lançado, no Ceará, o PMB - Partido Militar Brasileiro. Não tenho notícia de algo semelhante em outro país. Os militares, quando se imiscuem na política, o fazem pela força, aplicando golpes e tomando o poder para si. Um partido militar, concorrendo em pé de igualdade com os demais, é uma excentricidade que desafia a imaginação. Pode-se até ver um lado positivo nessa iniciativa, já que é uma busca de alcançar o poder pela via democrática, mas, convenhamos, a ideia não é adequada. Nada impede que um militar participe da vida política e concorra a cargos eletivos como integrante de um dos partidos já existentes. A organização de um partido militar é uma excessiva segmentação. Os partidos devem ser constituídos a partir de uma linha ideológica, de esquerda, centro ou direita, e, a partir daí, estar abertos à filiação de pessoas de qualquer profissão ou atividade. Um partido militar é algo tão fora de contexto como o dos aposentados ou o da classe média, iniciativas que não prosperaram, como seria de se esperar. No caso do Partido Militar Brasileiro, é provável que ele granjeie simpatia junto aos obtusos, que não são poucos, que consideram que aqueles que usam uma farda são mais honestos e patrióticos que os demais cidadãos. Não são. Em geral, são apenas mais violentos e autoritários. O fundador do partido, o capitão da Polícia Militar de São Paulo, Augusto Rosa, disse que o número solicitado pela nova legenda é o 99 "para mostrar que estamos à extrema direita de tudo o que existe na política, hoje". O partido já conta com 320 mil assinaturas das 492 mil necessárias para a sua criação. Mais uma singularidade brasileira que, para o bem do país, haverá de, depois de causar algum barulho, cair no ostracismo, condição que merecem ideias tão patéticas e despropositadas quanto esta.

domingo, 13 de abril de 2014

Fiasco histórico

O Grêmio submeteu o seu torcedor, mais uma vez, a um sofrimento extremo. Foi goleado, por 4 x 1, pelo Inter, hoje á tarde, no Francisco Stédile, no segundo jogo da decisão do Campeonato Gaúcho. Os números são terríveis. Desde 2010, o Grêmio não ganha um Gauchão. Desde 2001, não obtém um grande título. Está há oito grenais sem vencer. Sua diferença para o Inter, na contagem geral do clássico, só faz alargar. Agora, já são 151 vitórias do Inter, contra 125 do Grêmio, com igual número de empates. Uma vantagem de 26 vitórias! Em número de campeonatos estaduais, o Inter abriu sete títulos na frente, 43 a 36. Em 2001, ficaram empatados, 33 a 33. Nesse mesmo ano, o Grêmio conquistou a Copa do Brasil. De lá para cá, só faz humilhar e constranger sua torcida. Algumas vezes, pareceu ser capaz de romper com esse ciclo de fracassos, mas acabou perdendo títulos que estavam ao seu alcance. Foi assim na Libertadores de 2007, e nos Campeonatos Brasileiros de 2008 e 2013. O máximo que o Grêmio tem feito é isso, boas campanhas, mas sem conquistar títulos. Para um clube que tem a sexta maior torcida do Brasil, isso é intolerável. O pior é que o Grêmio perde continuamente porque repete sempre os mesmo erros. Negligencia os bastidores do futebol gaúcho, onde o Inter deita e rola. Vive obcecado pela Libertadores, competição que não conquista há 19 anos, e descuida-se de outras disputas. Um fato é muito sintomático do que vem acontecendo com o Grêmio. Durante 40 anos, de 1954 a 1994, não sofreu nenhuma goleada do Inter. No mesmo período, goleou seu maior rival por várias vezes. Porém, nos últimos 20 anos, já é a quarta goleada que o Grêmio sofre do Inter. No jogo de hoje, as causas da derrota fragorosa já eram conhecidas. Pará não tem condições de jogar no Grêmio. Werley é bom jogador, mas vive uma má fase. O técnico do Grêmio, Enderson Moreira, a exemplo do primeiro Gre-Nal da decisão, escalou e substituiu mal, e mostrou não saber agir de acordo com as circunstâncias do jogo. Escudando-se na boa campanha que faz na Libertadores, o Grêmio, por certo, não vai tomar nenhuma medida em função dessa atuação vergonhosa. Se houvesse, no entanto, por parte de sua diretoria, um mínimo de respeito pela grandeza do clube, e pelo seu sofrido torcedor, já no dia de amanhã, Enderson Moreira deveria ser demitido, Pará dispensado, e Werley afastado do time, até recuperar sua melhor forma técnica.

sábado, 12 de abril de 2014

Ocaso

O futebol é apaixonante, entre tantas outras razões, porque, vez por outra, nos brinda com os chamados "esquadrões", isto é, times ou seleções inesquecíveis, recheados de grandes jogadores, com um estilo de atuação envolvente, capaz de despertar a admiração do público. Estão nessa categoria times como o Santos de Pelé e Pepe, o Real Madrid de Di Stéfano e Puskas, o Ajax de Cruyff, o Milan de Rikkjard, Gullit e Van Basten, as Seleções Brasileiras de 1958,1970 e 1982, a Hungria de 1954, a Holanda de 1974, entre outros. Por diversas razões, no entanto, o ciclo desses grandes times e seleções não costuma ser muito longo. Num grupo que mantém uma mesma base por um tempo considerável, o desgaste das relações acaba sendo inevitável. Afora isso, alguns jogadores vão sentindo o peso da idade e já não conseguem manter uma produção no mesmo nível. Trocas de técnicos e chegadas de novos jogadores também podem ser fatores a quebrar a trajetória de um grupo vencedor. No momento, parece que estamos vivenciando o ocaso de mais um esquadrão. Nos últimos anos, o mundo se curvou ao futebol de toques do Barcelona. Com seu estilo "takataka", caracterizado pela superioridade absoluta no tempo de posse de bola em relação ao adversário, e por uma troca constante de passes, num time com vários jogadores de altíssimo nível, o Barcelona acumulou títulos. Tendo como nome maior, Messi, escolhido por quatro anos seguidos o melhor jogador do mundo, secundado por outros notáveis como Xavi e Iniesta, todos comandados por um técnico inspirado, Josep Guardiola, o Barcelona se inscreveu no grupo seleto dos times que marcam época. Alguns insucessos, há cerca de dois anos, resultaram na saída de Guardiola. Tito Vilanova, seu auxiliar e escolhido para substituí-lo, foi abatido por uma grave doença, e teve de abandonar o cargo. Gerardo "Tata" Martino, contratado para o seu lugar, apesar do grande trabalho que fez no Newell's Old Boys, ainda não se afirmou.. Some-se a isso a má fase de Messi, que não recuperou a exuberância de seu futebol após voltar de uma lesão, os 31 anos de Iniesta, os 36 de Xavi, a entrada de Neymar no time, que ainda gera resistências, e o efeito é o que está se vendo. Em apenas três dias, o Barcelona sofreu duas derrotas de sérias consequências. Na quarta-feira, perdeu por 1 x 0 para o Atlético de Madrid, e foi eliminado da Champions League. Hoje, foi derrotado, também por 1 x 0, pelo modesto Granada, que luta apenas para não ser rebaixado, e caiu para o terceiro lugar no Campeonato Espanhol. O Barcelona também tem enfrentado problemas fora de campo, com a renúncia de um presidente e a aplicação de uma pena que o impede de contratar novos jogadores pelo espaço de um ano. Clube poderoso que é, o Barcelona poderá, em breve, quem sabe, dar início a uma nova trajetória vitoriosa. Porém, no momento, tudo indica, que estamos assistindo ao fim de um ciclo. Uma experiência sempre dolorosa, mas inevitável, tanto no futebol quanto na vida.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Capitulação

O presidente da Portuguesa, Ilídio Lico, anunciou, hoje, que o clube desistiu de brigar na Justiça, e irá disputar o Campeonato Brasileiro da Segunda Divisão. Uma capitulação que já era esperada. Desde o início ficou claro que a Portuguesa não teria forças para lutar contra um rebaixamento que proporcionou a manutenção do poderoso Fluminense na Primeira Divisão. Eis aí o execrável de todo esse caso. A Portuguesa fez o suficiente, dentro de campo, para se manter na Série A. O Fluminense, ao contrário, cometeu o vexame de cair um ano depois de ter sido campeão brasileiro. A escalação irregular de um jogador, por parte da Portuguesa, quando faltavam apenas alguns minutos para terminar a partida contra o Grêmio, cujo resultado de 0 x 0 convinha aos dois clubes, redundou no seu rebaixamento, pela perda de pontos no tribunal, e manteve o Fluminense na elite do futebol brasileiro. Mesmo que a Portuguesa tenha incorrido num erro ao escalar o jogador Héverton irregularmente, sua punição não poderia implicar numa queda de divisão e, o que é pior, no não rebaixamento do Fluminense. O clube carioca recebeu um enorme benefício, sem nada fazer para merecê-lo. A melhor maneira de punir a Portuguesa seria mantê-la na Primeira Divisão, mas imputando-lhe um déficit de pontos com o qual iniciaria a competição. Essa solução já foi adotada na Itália. Com isso, a Portuguesa receberia uma sanção por uma falha cometida, mas sem que um terceiro fosse, indevidamente, beneficiado. O castigo acabou sendo excessivo para a Portuguesa, e o favorecimento ao Fluminense, um prêmio à incompetência de quem, dentro do gramado, foi incapaz de se garantir na Série A. Essa já é a terceira vez em sua história que o Fluminense se mantém ou sobe para a Primeira Divisão em função de decisões de gabinete. A Portuguesa tem pouca torcida e não dispõe de força política. Nessa semana, foi eliminada da Copa do Brasil, em pleno Canindé, pelo modesto Potiguar, de Mossoró (RN). Acabou tendo de se submeter à punição que lhe impuseram, por que ninguém estaria disposto a comprar a sua causa, o que certamente aconteceria em se tratando de um grande clube. Particularmente, acho essa situação revoltante, e um retrocesso no futebol brasileiro, que evoca as tristes "viradas de mesa", tão comuns no passado. Mais uma vez, valeu a "lei do mais forte", e o esporte saiu arranhado na sua ética.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Confirmação

Nenhuma surpresa, apenas a confirmação de uma expectativa. Assim foi a vitória do Grêmio por 1 x 0 sobre o Nacional (URU), hoje à noite, na Arena, pela Libertadores. Com o resultado, o Grêmio ficou com a segunda melhor campanha na classificação geral, só atrás do Vélez Sarsfield. Nas fases eliminatórias, o Grêmio terá a vantagem de sempre fazer o segundo jogo em casa, com exceção de um enfrentamento com o Vélez. Porém, em termos técnicos, o Grêmio não chegou a ser beneficiado, pois terá de se defrontar, já nas oitavas de final, com o San Lorenzo, um clube argentino de grande tradição, o que levou alguns torcedores a imaginar que o time pudesse ceder o empate ao Nacional propositalmente, já que, nesse caso, cairia par a o terceiro lugar na classificação geral e teria o Lanús como adversário. Em termos de desempenho, o jogo não mostrou nada de entusiasmante por parte do Grêmio. O gol foi marcado cedo, de pênalti, cobrado por Barcos, e depois não houve muito mais a destacar. Alan Ruiz, em sua primeira chance como titular, teve uma atuação pálida. Barcos perdeu um gol inacreditável no final do jogo. Se passar pelo San Lorenzo, o Grêmio enfrentará, provavelmente, o Cruzeiro, que terá o Cerro Porteño como adversário nas oitavas de final. Como se vê, não haverá facilidade no caminho do Grêmio daqui por diante. O que não deve ser motivo para queixas. Afinal, quem deseja ser campeão da Libertadores não deve temer nenhum adversário.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Eliminações

A fase de grupos da Libertadores está terminando. Amanhã serão jogadas as últimas partidas. Porém, com os jogos realizados ontem e hoje, metade dos clubes brasileiros deu adeus à competição. O Atlético Parananense foi eliminado ao perder, ontem, por 2 x 1, para o The Strongrest, na altitude de La Paz. Hoje, ocorreram as despedidas do Flamengo e do Botafogo. O Flamengo foi derrotado por 3 x 2 pelo León (MÉX), em pleno Maracanã. No Nuevo Gasometro, o Botafogo foi goleado pelo San Lorenzo por 3 x 0, ficando na lanterna do seu grupo. O Cruzeiro, como era esperado, classificou-se, e com facilidade, goleando o Real Garcilaso por 3 x 0, no Mineirão. Grêmio e Atlético Mineiro só jogarão amanhã, mas já estão classificados para as oitavas de final, buscando apenas, definirem suas posições e pontuações. O futebol brasileiro term dominado a Libertadores. Desde 2010, todos os campeões da competição foram do Brasil. No entanto, as eliminações de três dos seis clubes brasileiros que iniciaram a disputa, ainda na primeira fase, deve ensejar uma reflexão sobre o nível técnico atual do futebol no país.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Caciquismo

O caciquismo, isto é o culto a líderes que se tornam quase donos de seus partidos, é uma velha característica da política brasileira. Isso se confirma, mais uma vez, com o anúncio, feito no dia de hoje, de que o senador Pedro Simon (PMDB-RS) irá concorrer a mais um mandato. Simon é, há décadas, a maior expressão do PMDB no Rio Grande do Sul. Nada se faz no partido, em nível estadual, sem a sua anuência. Durante meses, houve a indefinição sobre se Simon concorreria a mais uma reeleição ou não. Outros nomes, como o do ex-governador do Estado, Germano Rigotto, foram cogitados, mas, enfim, Simon será candidato novamente. A biografia de Simon é expressiva e sua alta densidade eleitoral é conhecida de todos. Porém, há um fator relevante que parece estar sendo ignorado pelo candidato e pelo partido. O mandato de um senador é de oito anos. Pedro Simon já está com 84 anos. Portanto, se vier a se eleger, e conseguir concluir o seu mandato, o fará com a idade de 92 anos. Sem querer recorrer ao negativismo, mas sendo realista, é provável que não o consiga, quer por que venha a falecer em meio a esse período de tempo, ou seja abatido por uma doença incapacitante. Simon inscreveu seu nome na história política do Rio Grande do Sul, mas que contribuição ainda teria a dar em tão provecta idade? Não seria muito mais lógica a indicação pelo partido de um nome como o de Rigotto, de boa aceitação junto ao eleitorado e quase vinte anos mais jovem? Os caciques costumam se grudar como cracas à política, de tal sorte que só saem de cena com a morte. Não deveria ser assim. Ainda em vida, poderiam dar um fecho digno à sua trajetória, recolhendo-se à intimidade do seu lar, escrevendo suas memórias, proferindo palestras, participando das ações partidárias, mas abrindo caminho para a necessária e inevitável renovação dos quadros políticos.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Doações

O Supremo Tribunal Federal posicionou-se, na semana passada, a favor da proibição das doações de empresas a candidatos nas eleições. Seis dos onze ministros manifestaram esse entendimento. O julgamento só não foi concluído porque Gilmar Mendes, sempre ele, que deu mostras de ser contrário à proibição, pediu tempo para analisar o processo. Com isso, a mudança não irá valer para as eleições deste ano. Ainda assim, o assunto já suscita discussões. Particularmente, não acho que tal proibição vá ter muita eficácia, já que os meios de burla-la, certamente, serão inúmeros, mas, a partir da posição da revista "Veja", passei a ver a medida com simpatia. Como se sabe, a referida revista é a maior expressão, na imprensa, da plutocracia brasileira. Ela é contra a proibição, por considerar que não há nada mais legítimo que empreendimentos exerçam o direito de apoiar políticos com visões coincidentes com as suas. Ao estabelecer a proibição, o Supremo Tribunal Federal, conforme "Veja", estaria optando pelo populismo e endossando o princípio de que as empresas são um mal em si mesmas e a origem da corrupção na política. Ainda que não sejam a origem da corrupção na política, as empresas contribuem muito para fomentá-la. A proibição de que façam doações para candidatos pode não ser toda a solução para o problema, mas é um bom começo. Pena que a resolução, se confirmada, como já foi referido, não vá ser aplicada já nas eleições de 2014.

domingo, 6 de abril de 2014

Primeiras pesquisas

Saíram as primeiras pesquisas sobre as intenções de votos para as eleições de governador e senador no Rio Grande do Sul. Ainda é muito cedo para se tirar conclusões ou se fazer prognósticos. Eleições anteriores demonstraram que as pesquisas iniciais refletem pouco o resultado final da eleição. Ainda assim, os dados revelados chamam a atenção, e negativamente. Para governador, a senadora Ana Amélia Lemos, pré-candidata do PP, aparece na frente, com 38% das intenções de voto, na pesquisa estimulada, contra 31% do atual ocupante do cargo, Tarso Genro (PT). Na pesquisa espontânea, Tarso está na frente, com 11%, e Ana Amélia tem 8%. No item rejeição, Tarso tem 26% e Ana Amélia, 10%. Na projeção de segundo turno entre os dois, Ana Amélia tem 48%, contra 34% de Tarso. Na eleição para senador, vantagem absoluta de Lasier Martins (PDT). Nos diversos cenários da pesquisa estimulada, conforme os adversários cogitados, Lasier varia de 38% a 45% das intenções de voto. Na pesquisa espontânea, tem 5%, contra 3% de Pedro Simon e Germano Rigotto, ambos do PMDB. No item rejeição, Lasier tem 10%.  Os números para governador estão longe de serem conclusivos, mas os de senador indicam uma eleição tranquila para Lasier. Aí reside a questão negativa a que me referi anteriormente. Ana Amélia e Lasier concorrem por partidos diferentes, de espectro ideológico muito diverso. No entanto, fica claro que muitos eleitores pretendem votar nos dois candidatos. Isso reafirma que o eleitor brasileiro ignora os partidos, votando em pessoas, o que é um brutal equívoco, e mostra, também, o poder de sedução dos meios de comunicação. Lasier e Ana Amélia foram, durante décadas, profissionais da RBS, a maior rede de comunicação do sul do país. Sua popularidade, por suas aparições em rádio, tv e jornal, está se traduzindo em intenções de voto. Isso não é novidade. Foi assim, também, no passado, com Mendes Ribeiro, Antônio Britto, Maria do Carmo, Sérgio Zambiasi, José Antônio Daudt. Não é um bom critério. Ser popular como jornalista não credencia ninguém a ser um bom governante ou parlamentar. Os brasileiros padecem de um exagerado culto à personalidade. Um fato que evidencia a falta de politização da população. Claro que nada impede que comunicadores tenham um bom desempenho em cargos políticos, mas o critério para elegê-los não pode ser a admiração por sua atividade profissional. Esse tipo de poder dos meios de comunicação não contribui para o aprimoramento da atividade política.

sábado, 5 de abril de 2014

José Wilker

O Brasil perdeu, hoje, José Wilker, um dos nomes mais representativos das suas artes cênicas. Wilker atuou em 30 novelas, mais de cinquenta filmes, e nunca abandonou o teatro, meio pelo qual começou a sua carreira. Extremamente devotado ao seu ofício, foi, também, diretor na televisão e autor de peças teatrais, boa parte delas ainda inédita. Era, também, um apaixonado por cinema e, há vários anos, comentava a cerimônia do Oscar para a Rede Globo. Tinha um humor peculiar, com um forte acento irônico. Wilker morreu cedo para os padrões de hoje, com 66 anos, de um enfarte fulminante. Teria, portanto, muito ainda a realizar. Porém, sua já longa trajetória profissional lhe garantirá um lugar permanente na memória do público, seja como o Zelito, de "Bandeira Dois" (1971), o Mundinho Falcão, de Gabriela (1975), o Rodrigo, de "Anjo Mau" (1976), o Roque Santeiro, da novela homônima (1985), entre tantos outros personagens. Wilker marcou presença, também, em minisséries como "Anjos Rebeldes" (1992), e JK (2006), na qual fez o papel-título. No cinema, participou do filme brasileiro de maior bilheteria no país, "Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), que teve 12 milhões de espectadores. Também estrelou outro marco do cinema nacional, "Bye, Bye, Brasil" (1979). José Wilker venceu na profissão não porque fosse um talento fulgurante, mas por que era um trabalhador incansável e se interessava por tudo que dizia respeito à arte da representação. Vai fazer muita falta.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Arranhões

Roberto Carlos é um cantor e compositor de imenso prestígio, o artista mais popular da música brasileira. No entanto, sua imagem começa a sofrer alguns arranhões. Recentemente, Roberto Carlos estrelou um comercial de tv para uma marca de carne industrializada. Até então, a informação que se tinha era de que o artista era vegetariano. A justificativa dada foi a de que Roberto, depois de 30 anos sem fazê-lo, teria voltado a comer carne. O cachê do comercial, ainda que não haja confirmação oficial, teria sido de R$ 25 milhões. O alto valor foi visto por muitos como a razão que levaria Roberto a fazer o comercial, mesmo que continue a não comer carne. Agora, uma reportagem da revista "Época" revela relações estreitas do cantor com a ditadura militar. Roberto obteve, em sociedade com o produtor Cayon Gadia, a concessão de uma emissora de rádio, em 1979, durante o governo do general João Figueiredo. Foi contratado pelo Exército para shows em homenagem à "revolução", nome que os militares davam ao espúrio golpe que perpetraramk contra o país. Em 1973, havia recebido a medalha do pacificador, concedida aos que colaboram com o Exército. Em 1975, cantou num programa de televisão comemorativo ao 11º aniversário do golpe militar, transmitido em cadeia nacional. No ano seguinte, recebeu, das mãos de Ernesto Geisel, a Ordem do Rio Branco. Roberto Carlos nunca foi um ativista ou propagandista do regime militar, embora os detentores do poder na época tentassem atrai-lo para essa condição. O cantor manteve uma postura apolítica no período, o que, por si só, beneficiava a ditadura, já que se tratava do artista mais popular entre os brasileiros. Por isso mesmo, o historiador Carlos Fico entende que houve ingenuidade política por parte de Roberto Carlos. Seja como for, há de ser decepcionante para muitos verificar que Roberto Carlos faz anúncio de algo que não consome, tão somente por causa de um alentado cachê, logo ele que, milionário que é, não precisa se dobrar ao dinheiro. Igualmente, há de causar decepção as várias vezes em que, de uma forma ou de outra, apareceu ligado ao regime militar.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O anti-professor

Os arautos do atraso, que levaram o Brasil a mergulhar nas trevas de uma ditadura militar espúria por 21 anos, ainda continuam a botar suas manguinhas de fora, mesmo após 29 anos da redemocratização do país. Na segunda-feira, dia 31 de março, data em que se completavam 50 anos do golpe militar, o professor de direito administrativo da USP, Eduardo Lobo Botelho Gualazzi, distribuiu um texto para alunos do 3º ano em que tratava o nefando golpe por "revolução" e o defendia abertamente. O argumento central é o de sempre, ou seja, a "ameaça comunista" que pairava sobre o Brasil. Em protesto, um coletivo de alunos, apoiado pelo Centro Acadêmico 11 de agosto, organizou um "escracho" em sala de aula, que gerou irada reação de Gualazzi e de seus monitores. Em seu texto, Gualazzi traça, também, o que definiu de seu "perfil de personalidade", uma "opção íntima" que teria feito na infância-adolescência. Esse perfil se sustenta nos seguintes itens: a) aristocratrismo; b) burguesismo; c) capitalismo; d) direitismo; e) euro-brasilidade; f) família; g) individualismo; h) liberalismo; i) música erudita; j) panamericanismo; k) propriedade privada; l) tradição judaico-cristã. Por tudo o que foi descrito até aqui, não há como definir Gualazzi de outra forma que não seja como o anti-professor. Um professor ensina, orienta, educa, aponta caminhos. Gualazzi é a antítese de tudo isso. Apóia o que é indefensável, e traça um perfil de si próprio que vai na contramão do humanismo. Assume ser sectário e preconceituoso ao definir-se como aristocrático, burguês, capitalista, direitista, individualista e defensor de uma "euro-brasilidade", o que denota uma visão eugenista e racista. Gualazzi reúne alguns dos piores sentimentos que podem habitar um ser humano. Não está habilitado a ensinar nada para ninguém, ainda mais num curso tão nobre, do ponto de vista humanístico, como é o de Direito. Sua presença em sala de aula é um acinte num país cujas feridas do período ditatorial ainda estão longe de cicatrizar.  Se, valendo-se da liberdade de expressão que a democracia assegura a todos, Gualazzi quiser continuar defendendo suas execráveis ideias, que o faça por meio de artigos ou livros. Na sala de aula, não. Ela é um espaço para educar, não para transmitir um conceito de sociedade excludente e discriminatório.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Classificado

O Grêmio está classificado para as oitavas de final da Libertadores. A vitória por 2 x 0 sobre o Nacional, de Medellin, hoje à noite, no Atanázio Girardot, foi melhor do que a encomenda. Um empate era considerado de bom tamanho pelo Grêmio, pois, assim, a classificação já estaria garantida. Com a vitória, o Grêmio também está com o primeiro lugar de seu grupo praticamente assegurado. Afora isso, se ganhar do Nacional, do Uruguai, na Arena, como tudo indica que vá acontecer, o Grêmio poderá, até mesmo, ser o primeiro colocado geral da fase de grupos da Libertadores, auferindo a vantagem de sempre decidir os confrontos eliminatórios na sua casa. No primeiro tempo, o Grêmio não jogou bem. Esteve muito recuado, permitindo que o adversário permanecesse quase todo o tempo com a bola. Ainda assim, não foi ameaçado pelo Nacional, e perdeu, pelo menos, uma grande chance de gol, com Dudu. Nessa fase da partida, só Riveros jogou bem. No segundo tempo, o Grêmio voltou mais insinuante. Luan, de má atuação, até então, cresceu de produção. Dudu também melhorou de desempenho. A pressão do Nacional resultou numa série de escanteios, mas que em nada redundaram. O Nacional criou chances de gol, mas parou nas defesas extraordinárias de Marcelo Grohe, que vive excelente fase. Para completar as boas notícias da noite, depois de Dudu ter aberto o placar, Barcos marcou seu primeiro gol na Libertadores de 2014, o que certamente vai lhe tirar um peso das costas. Após o jogo, com a confiança reconquistada, jogadores e dirigentes do Grêmio faziam questão de frisar que nada está perdido no Campeonato Gaúcho. A partir do que se viu hoje à noite, essa afirmação tem tudo para ser mais do que uma simples colocação retórica.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Campanha aberta

A imprensa conservadora brasileira não se preocupa mais em disfarçar suas preferências, e está em campanha aberta contra a reeleição da presidente Dilma Rousseff. A revista "Veja", líder desse segmento editorial, estampa na capa de sua edição dessa semana a seguinte chamada: "Porque quando Dilma cai a Bolsa sobe". A frase faz referência ao fato de que quando Dilma perde em popularidade nas pesquisas, as ações da Petrobrás sobem na Bolsa de Valores. A reportagem sobre o assunto, que traça um panorama trágico da Petrobrás por culpa do governo, assume um tom vergonhosamente parcial em determinados trechos, abandonando as regras do fazer jornalístico e enveredando pelo panfletarismo. Vejam-se alguns excertos: "... em outubro estarão em julgamento pelas urnas os resultados sofríveis da gestão estatizante e intervencionista do governo Dilma e as propostas mais modernas e arejadas do mineiro Aécio Neves e do pernambucano Eduardo Campos"; "Como governadores de seus estados, Aécio e Campos fizeram tudo ao contrário de Dilma, obtendo não apenas aprovação popular, mas um estoque vistoso e irrefutável de políticas públicas da mais alta qualidade"; "O eleitor será apresentado pela oposição na campanha presidencial a resultados obtidos com transparência e meritocracia e que apontam para a revalorização das agências reguladoras, o fim do intervencionismo na economia, a volta do planejamento e das parcerias com o setor privado"; "Enfim, a oposição vai se abastecer dos equívocos e escândalos dos doze anos de governo ideológico e assistencialista, de política externa subalterna aos interesses de Argentina, Venezuela e Cuba". Poucas vezes se viu um exemplo tão gritante de mau jornalismo. Para começar, um dos fundamentos básicos do bom jornalismo é evitar adjetivos em reportagens, eles são cabíveis em textos opinativos, como artigos, crônicas e colunas assinadas. Numa reportagem, ainda que assinada, como é o caso, devem prevalecer a objetividade e a isenção. Os autores da mesma, Róbson Bonin e Malu Gaspar, deixaram de lado essas regras basilares do jornalismo e rechearam seu texto com expressões como "estoque vistoso e irrefutável", e "governo ideológico e assistencialista". Afora ser parcial e panfletário, o texto é de uma estultice alarmante. Como poderia um governo deixar de ser ideológico e assistencialista? A ideia de que as ideologias estão superadas só é passível de ser aceita por um anencéfalo. Somos seres pensantes, logo, ideológicos. Uma vida ou ação política destituída de ideologia é,.simplesmente, impossível. O assistencialismo, sempre criticado pelos defensores da "lei de mercado", é uma tarefa inescapável do Estado, pois cabe a ele auxiliar os desfavorecidos e socialmente marginalizados. Para o bem do país, no entanto, todo esse esforço dos setores conservadores, mais uma vez, vai dar em nada. O governo não irá mudar de mãos.