quinta-feira, 19 de maio de 2011

Emenda pior que o soneto

A alegação, por parte do ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Antônio Palocci Filho, de que não foi o único ex-ministro a enriquecer, é o que se pode classificar de uma emenda pior do que o soneto. Palocci se referia a sua condição de ex-ministro da Fazenda que, após deixar o cargo, aumentou em 20 vezes o seu patrimônio pessoal, num período de apenas quatro anos. Como exemplo, citou nomes como os de Pedro Malan, Armínio Fraga e Henrique Meirelles, que passaram pelo Ministério da Fazenda ou presidiram o Banco Central e são homens ricos. O que Palocci esqueceu de observar é que todos os três citados já trabalhavam no mercado financeiro antes de exercerem cargos no governo e de que suas fortunas não foram construídas após deixarem tais funções, pois já eram ricos antes de assumí-las. Palocci, por sua vez, é médico por formação, e seu patrimônio só se multiplicou após sua saída do Ministério da Fazenda. Afora isso, o fato atual já é a terceira situação nebulosa que Palocci enfrenta em sua trajetória política. Antes de ser ministro do governo Lula, Palocci foi prefeito de Ribeirão Preto (SP), tendo sua administração manchada por denúncias sobre a existência de uma máfia da coleta de lixo no município. Posteriormente, já como ministro da Fazenda de Lula, envolveu-se no caso da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, episódio que resultou em sua saída do cargo. Agora, reabilitado de seu ostracismo ao voltar para a cena política no mais importante cargo do governo da presidente Dilma Roussef (PT), já se vê, novamente, numa condição de extremo desgaste público. O pior de tudo é que a sociedade ficará sem as respostas necessárias para entender tão súbito enriquecimento. Palocci afirma que todo o patrimônio que possui está devidamente declarado para a Receita Federal. A fortuna foi obtida com a prestação de serviços de consultoria por parte da empresa Projeto, de propriedade do ministro. Seria fundamental saber-se que serviços de consultoria foram esses e para quais empresas foram prestados, mas os mesmos são protegidos por uma absurda cláusula de confidencialidade, que só favorece a que se pratiquem toda a sorte de falcatruas, em detrimento do interesse público. Palocci, que exercia o cargo de deputado federal no período em que enriqueceu, de 2006 a 2010, argumentou, também, não haver proibição quanto a parlamentares exercerem atividade empresarial. Resta saber se pode ser considerado aceitável alguém sair do governo num dia e, no seguinte, começar a prestar consultoria para empresas privadas valendo-se dos conhecimentos que adquiriu sobre o funcionamento das estruturas de poder e, paralelamente, ainda exercer um cargo de representação popular, como o de deputado federal. Talvez nada disso seja ilegal, como alega Palocci, mas, convenhamos, é, absolutamente, imoral.