sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Muita bilheteria e pouca profundidade

Fazer cinema no Brasil nunca foi fácil. A falta de recursos, financeiros e técnicos, e a concorrência desleal dos filmes hollywoodianos, entre vários outros fatores, fizeram do cinema brasileiro, ao longo do tempo, um produto da obstinação e idealismo dos seus realizadores. Ainda assim, os filmes brasileiros alcançaram, em vários momentos, êxito comercial. As chanchadas dos anos 50, com seu humor ingênuo, atraíam multidões aos cinemas e tornaram famosos atores como Oscarito e Grande Otelo, entre outros. Nos anos 70, as chamadas "pornochanchadas", com um erotismo que, hoje, soaria pueril, alcançaram grande sucesso. Porém, nem só de humor e erotismo viveu o cinema brasileiro. O filme "Dona Flor e Seus Dois Maridos", de 1976, adaptado da grande obra de Jorge Amado, levou 12 milhões de espectadores aos cinemas, sendo recordista brasileiro de bilheteria por muitos anos. Porém, o governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992) ao extinguir a Embrafilme, praticamente acabou com o o cinema no país. Até então, havia uma produção numérica de filmes bastante expressiva no Brasil, que, com o fim da Embrafilme, quase cessou por completo. Transcorreram muitos anos até que o cinema brasileiro se reerguesse. Hoje, a produção cinematográfica brasileira já é, novamente, expressiva em termos quantitativos. O mesmo, contudo, não se pode dizer da qualidade dos filmes. Nas últimas edições do Oscar, o maior prêmio do cinema mundial, as produções brasileiras não tem conseguido ultrapassar a seleção prévia para concorrer na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Isso tornou a acontecer, agora, com "O Palhaço". Mesmo com todos os elogios da crítica brasileira, o filme, dirigido por Selton Mello, ficou fora do Oscar. Nos últimos anos, o cinema brasileiro tem gerado grandes sucessos de bilheteria, mas com uma mesma fórmula, a da comédia do tipo "besteirol", de um humor fácil e raso e com  a presença, no elenco, de nomes conhecidos da televisão. Filmes como "Se Eu Fosse Você" (1 e 2), "E Aí, Comeu?" "Os Penetras", "De Pernas Pro Ar" (1 e 2), levam grande público aos cinemas seguindo esse receituário, mas constituem um modelo calcado na superficialidade, no apelo imediato, com pouca profundidade. Dessa forma, o cinema brasileiro tem estado longe do prestígio de outros tempos. Tais filmes repercutem no mercado interno, mas seu conteúdo não os torna atraentes fora do território brasileiro. Para obter o reconhecimento do mercado externo, é preciso produzir filmes como "O Pagador de Promessas", "Central do Brasil", "Cidade de Deus", "Tropa de Elite" (1 e 2). Criar uma indústria cinematográfica rentável no país é algo altamente positivo, mas é preciso, também, investir em produções de maior conteúdo.