sexta-feira, 2 de março de 2012

A derrota do bom senso

Em toda essa questão envolvendo a reforma do estádio Beira-Rio para sediar jogos da Copa do Mundo de 2014, o grande derrotado foi o bom senso. O que começa errado, em geral, não termina bem. A escolha do Beira-Rio para ser o local dos jogos da Copa em Porto Alegre, por si só, já foi um equívoco. Trata-se de um estádio que, quando da realização da competição, já terá completado 45 anos de sua inauguração. As pessoas de boa memória devem se lembrar que, há alguns anos, chegou a ser cogitada a demolição do estádio, que já estaria obsoleto. A ideia não prosperou e o Inter começou a fazer reformas no sentido de tornar o Beira-Rio mais moderno e confortável. Para se ajustar às necessidades de uma Copa do Mundo, no entanto, as exigências são muito maiores, daí o porquê de se fazer novas obras. Por questões de natureza burocrática, tais obras estão paralisadas há dez meses, o que já fez com que Porto Alegre perdesse a chance de sediar jogos da Copa das Confederações, gerando incontáveis prejuízos para a cidade. O que é difícil de explicar é porque, afinal, o Beira-Rio foi escolhido? Sei que já abordei esse aspecto do assunto em outras oportunidades, mas cabe a reiteração. A Fifa sabia que o Grêmio iria construir um novo estádio, inteiramente dentro dos rigorosos e sofisticados padrões por ela estabelecidos. O fato de que, quando o Brasil foi indicado como sede da Copa de 2014, o estádio gremista ainda não tivesse saído do papel não serve como justificativa para a escolha feita. A designação da sede da Copa ocorreu em 2007, sete anos antes da competição, tempo mais que suficiente para a construção de um estádio. Tanto é verdade que,.na época, o futuro estádio do Corinthians não estava nem no papel, sua construção começou bem mais tarde que a do novo estádio do Grêmio e, ainda assim, ele irá receber jogos da Copa. A conhecida força do Inter nos bastidores, e a ação de políticos que torcem para o clube, fizeram com que se insistisse na opção pelo Beira-Rio, numa atitude de inexplicável insensatez. O que deveria ter sido tratado levando em conta os interesses maiores do país e da competição foram reduzidos a uma questão paroquial em que prevaleceu o clubismo mais provinciano. A intervenção da presidente Dilma Roussef, alegando sua condição de torcedora do Inter e dando um "carteiraço" na construtora para obrigá-la a retomar as obras foi um fato deprimente, típico de uma república das bananas, e que nos faz pensar as piores coisas sobre as relações promíscuas existentes entre empresas da construção civil e o governo federal. Algumas pessoas, certamente, estão se sentindo vitoriosas com o desfecho dos fatos. Porém, Porto Alegre, o Rio Grande do Sul, a Copa do Mundo e, principalmente, o bom senso, foram inapelavelmente derrotados.