sexta-feira, 19 de abril de 2013

O fim da privacidade

Todos nós, em algum momento, sentimos necessidade de nos evadirmos, de escapar ao burburinho próprio da existência para alguns instantes de recolhimento. Atualmente, contudo, isso parece cada vez mais difícil. A disseminação da tecnologia faz com que câmeras de vigilância estejam presentes em quase todos os locais. Em, praticamente, todos os lugares onde vamos, nos deparamos com um cartaz que expressa: "Sorria, você está sendo filmado". Conforme mostrado pelo programa "Globo Repórter", até mesmo zonas rurais com estradas de chão batido já contam com o auxílio das câmeras para fins de segurança. A violência dos dias atuais está por trás, é claro, de tamanha preocupação em vigiar os movimentos de todos, de maneira a prevenir ou punir eventuais transgressões, mas isso representa mais um fator de opressão na sociedade moderna, jã tão sufocada. O critério estabelecido para justificar tamanho aparato parece ser o de que todo mundo é suspeito até que se prove o contrário. O recurso de buscar dispersar-se em meio a multidão já não é mais possível. Os locais de grande aglomeração de público também são intensamente vigiados. Em estádios de futebol lotados por milhares de torcedores, por exemplo, as câmeras já tornam possível localizar qualquer pessoa. O mesmo se dá em parques, estradas, manifestações públicas, shows. Ao sairmos de casa, são raros os locais em que não estamos ao alcance de uma câmera. Se por um lado isso pode parecer positivo em nome do combate a violência e ao crime, em termos civilizatórios é algo assustador. Escravizados pelo medo e pela insegurança, renunciamos à privacidade, e eliminamos a sensação, tão desejável, por vezes, do anonimato. Estamos submetidos a uma superexposição que nos rouba o direito de ficarmos a sós com nossos próprios pensamentos, sem sermos observados. Ainda que em nome de uma maior segurança, pessoal e coletiva, é um preço demasiado alto a se pagar.